Isolamento Social e a Reabertura Econômica: Experiências Internacionais e a Realidade Brasileira
Por Gabriel Di Blasi*
No nono episódio da série “Covid-19: Os Impactos nas Relações Governamentais” os palestrantes Carlos Lima, Diretor Executivo do Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), e Guilherme Athia, Diretor Executivo da Atlantico Europe, e o moderador Lucas Lorini, Diretor de acesso a mercados, América Latina, Ministério do Comércio Internacional do Reino Unido, abordaram diversos aspectos relacionados ao tema “Isolamento Social e a Reabertura Econômica: Experiências Internacionais e a Realidade Brasileira”.
De forma dinâmica, didática, interessante e com bastante interatividade com a audiência, os participantes trouxeram à baila o tema proposto ressaltando as diferenças dos momentos vividos por diversos países ao redor do mundo, principalmente Brasil, Estados Unidos, China e Europa.
Em sua fala inicial, Guilherme ressaltou que apesar da a Europa ter demorado a ter noção da dimensão continental da pandemia da Covid-19, conseguiu correr atrás do prejuízo, e inclusive, tem se colocado como o centro mediador entre as disputas reputacionais recorrentes entre Estados Unidos e China. Na Bélgica, onde reside, por exemplo, as aulas já retornaram e já ocorreu a reabertura de restaurantes, bares e hotéis.
Ainda, foi ressaltado a mudança no padrão de consumo, como o aumento na aquisição de eletrodomésticos e bicicletas. Da mesma forma, diante da imposição do distanciamento social, outras mudanças ocorreram, como o questionamento a respeito da necessidade de se estar presente fisicamente para o exercício das relações governamentais.
Já Carlos ressaltou as dificuldades enfrentadas por diversos setores da economia, com ênfase no qual atua, o de bebidas alcóolicas. Mencionou, ainda, que a comercialização e o consumo deste produto foram alvos de duras críticas desde o início da pandemia, desencadeando uma série de proibições por parte das entidades governamentais. Tais medidas, mencionou ele, ocorreram no Panamá, México, Estados Unidos e até mesmo em diversos municípios brasileiros, o que ocasionou, por exemplo, em uma queda no consumo do segmento da cachaça de 22%.
Diante deste cenário, destacou a dificuldade em traçar o que será do setor no chamado “novo normal”, mas ficou evidenciado a necessidade de criação de protocolos de proteção viáveis, além da obrigatoriedade de fiscalização destes.
Economia e Imagem Internacional Brasileira
Ainda que não seja possível prever de forma exata as consequências econômicas desta pandemia, após toda vivência em meio a tal caos, algumas diferenças entre países e as respectivas economias são notáveis, como ressaltou Guilherme.
Com relação à Europa, um dos principais fatores a serem destacados economicamente, é o de que a Alemanha arcou financeiramente com altos custos de auxílio à países europeus menos desenvolvidos e menos favorecidos. E ainda, mesmo países economicamente mais vulneráveis como Portugal e Grécia tiveram um excelente controle da pandemia, pois as populações desses países tiveram a consciência da responsabilidade social e seguiram protocolos rígidos para alcançar esse resultado.
Quanto a um possível protecionismo europeu em razão da pandemia, Guilherme entende que na realidade o alvo europeu é a mudança da dependência exacerbada em relação à China. No que tange ao Brasil, o problema reside na imagem que os consumidores europeus têm em relação à política ambientalista brasileira, o que por si só gera uma queda na aquisição de produtos brasileiros, não devendo ser visto como um ato protecionista.
Torna-se necessário observar que o consumidor de produtos, principalmente o europeu, possui uma alta oferta de mercadorias, além de ser sensível com relação à origem de seu produto. Por isso, cabe ao profissional de relações governamentais se organizar e mobilizar, com intuito de mudar a percepção deste comprador em potencial.
Ainda no quesito econômico brasileiro, outro ponto debatido foi o da reforma tributária. Segundo Guilherme, talvez este seja o momento de se rever os custos do futuro, e não do presente. Do mesmo modo, Carlos demonstrou receio a respeito dessa discussão no momento atual, pois, apesar de ser um assunto de extrema importância para o país, o momento de contas extremamente comprometidas e com resultado do PIB negativo é arriscado pensar em obter uma reforma sem simplificação de impostos e possíveis aumentos de impostos em alguns setores.
Digitalização imposta
É nítido que diversos setores da economia foram obrigados a se digitalizar e simplificar procedimentos, diante da obrigatoriedade do isolamento e posterior distanciamento social, o que pode e deve ser visto como um ponto positivo, vez que acelera os processos, que em situações normais levaria anos a serem finalizados, em razão de um uma burocracia desmedida.
Quando se fala especificamente de relgov digital é necessário se atentar às diferentes necessidades de uma capital ou seus governantes com relação à digitalização das relações governamentais. Entre Bruxelas e Brasília, por exemplo, há enorme diferença, uma vez que na primeira se pratica o regulatório, enquanto na segunda se faz política.
Ademais, destaca-se que, apesar da forçada digitalização das relações governamentais, muitas organizações, como o IBRAC, estão colhendo de forma online os frutos de uma confiança que foi desenvolvida de forma presencial ao longo dos anos, pois, certamente tal credibilidade só consegue ser construída a longo prazo.
Conclusão
O que se pode verificar é que, apesar de não ser possível fornecer previsões exatas nem de quando será permitido realizar uma viagem internacional ou sentar em uma mesa de bar sem preocupações, se fazem essenciais protocolos transparentes, seguros e aplicáveis para proteger a sociedade como um todo. Adicionalmente, é imprescindível um bom enforcement em relação ao cumprimento destes, para que, de forma gradual e resguardada, a reabertura ocorra e a economia retorne ao seu eixo de crescimento.
*Gabriel Di Blasi é sócio do Escritório Di Blasi, Parente & Associates. É engenheiro industrial, agente da propriedade industrial e advogado, mentor da ENDEAVOR e Diretor Jurídico ABF-Rio. É membro responsável pela área de propriedade intelectual e assuntos regulatórios da Comissão de Biotecnologia da FIESP, Diretor Institucional da ABAPI e membro do Comitê de Design INTA. Chair do grupo de design da FICPI – international Federation of Intellectual Property Attorneys. Associado-fundador e ex-membro do conselho deliberativo do IRelGov.