Por Carlos Parente (Sócio-diretor da Midfield)
Sustentabilidade. Ética. Responsabilidade empresarial. Interação. Relacionamento. Pensamento integrado. Diálogo. Adaptabilidade. Transformação. No mundo de hoje, não são mais apenas conceitos adjacentes ou soltos. São itens de sobrevivência corporativa. Sem isso, não se consegue engajamento. Por conseguinte, não se tem alinhamento, mobilização e ação assertiva e efetiva.
Compliance (ou conformidade) veio para apoiar as empresas com regras claras, maior regulamentação, pontos de controle e ordenamento. Essenciais para um bom desempenho empresarial. Mas não pode ser encarada como uma área hermética. Compliance tem que atuar em sinergia com todas as áreas da companhia, sejam de negócio, operacionais e administrativas e/ou de apoio. É óbvio que há mais interação com alguns departamento específicos, como gestão de riscos, controles internos e segurança de dados e da informação, mas todas as áreas devem estar em consonância com a conformidade.
Para tanto, também é fundamental que a organização tenha narrativas – legítimas, construtivas, transformadoras e integradoras – que engajem as pessoas, para que toda boa intenção não se perca, literalmente!
Quando o assunto é compliance, sempre é lembrada como um ponto de atenção a falta de sintonia entre as áreas da empresa. Porém, tem ficado para trás o tempo em que compliance era um assunto “selado”, de responsabilidade apenas de um departamento. As empresas brasileiras têm buscado um equilíbrio entre conformidade, negócios, operações e crescimento estratégico, alinhando objetivos de negócios, operacionais e comerciais com os cuidados e as regras de conformidade, mitigando riscos e aumentando o valor de seu negócio.
Quando a área de Compliance está idealmente integrada em toda a empresa e posicionada para contribuir com as decisões de negócios e se adaptar rapidamente às constantes mudanças inerentes ao mundo atual, os líderes podem tomar medidas mais ágeis, com embasamento, sem comprometer a efetividade das operações e dos negócios.
Sem dúvida, atuar com regras claras, de conhecimento de todos, e com atividades sedimentadas em bases sólidas, com apoio de políticas, normas e outros instrumentos formais, é um bom passo de compliance. Mas isso deve estar integrado a todos os departamentos, ser incorporado ao dia a dia da empresa como fator do negócio e da operação. Compliance tem que ser uma vantagem competitiva. A ética, a transparência e a conformidade formam um grande ativo das empresas, único e inegociável.
Se não houver diretrizes, conceitos e comportamentos que legitimem uma estrutura organizacional fundamentada em crenças, princípios e valores fortes, a organização ou os colaboradores podem recair em erros ou deslizes ou, ainda, trilhar caminhos inapropriados, o que ninguém em sã consciência quer.
Por trás de tudo, as relações humanas…
O que predomina, em todos os processos – operacionais, negociais e administrativos – são as relações humanas. Elas são flexíveis, voláteis e muitas vezes informais. E, nesse caso, a atuação qualificada dos profissionais nas organizações, bem preparados e capacitados, amparados também por regras claras de compliance na empresa, pode ser muito importante. E aqui estamos falando de compliance não pelo lado punitivo, mas pelo viés orientador, educador.
E tendo como pano de fundo os valores e princípios da organização, os preceitos éticos e a transparência. Isso somatiza para a criação de narrativas integradoras na atividade da empresa e das pessoas.
As narrativas devem basear-se na legalidade, mas também na legitimidade. Essa prerrogativa explica porque muitas empresas, estruturalmente, colocam a conformidade em um guarda-chuva maior, de programa de integridade. A cultura de integridade contribui para o aperfeiçoamento dos mecanismos de governança e para a manutenção de um ambiente de negócios consistente.
Tudo é passível de risco nos relacionamentos corporativos. A conformidade, no processo de construção de narrativas de uma empresa, faz parte da legitimação de qualquer companhia, olhando não só os aspectos de legalidade, mas também o contexto, pois conforme a sociedade evolui e se transforma o arcabouço legal também vai evoluindo e se adequando.
Dessa forma, compliance não pode apenas focar nos riscos e no “não à primeira vista”, mas sim em contribuir para a criação de um escudo de proteção a toda a substância corporativa da organização, junto com os preceitos éticos e a cultura organizacional. Qualquer ação empresarial está sempre no contexto das relações humanas.
Não podemos nos esquecer que o mundo está em contínuo progresso, com mudanças a cada segundo, mas há questões no universo corporativo que nunca deixam de ter importância, como “o que pode” e “o que não pode”, a gestão de situações embaraçosas e o andamento das coisas no dia a dia. Como as relações funcionam no cotidiano? Como dizer não?
Na conjuntura do entendimento das relações humanas, quando acrescentamos, às regras de conformidade, pitadas de ingredientes valiosos como razoabilidade, bom senso, sensibilidade, empatia e leitura transversal de cenários, tudo flui melhor.
Integridade e compliance como elementos estratégicos na organização
Os executivos das empresas, em geral, estão enxergando os programas de integridade e compliance, no contexto atual, como um investimento e não mais como um custo, integrando-os aos objetivos estratégicos das organizações. Esse direcionamento torna crucial uma governança integrada e eficaz dessas ações.
Ainda mais no atual ambiente empresarial. Estamos imersos em um momento da humanidade em que tudo muda ao mesmo tempo e agora. O ritmo das mudanças regulatórias e a convergência da regulamentação global, atrelados à concorrência de novas empresas, ao surgimento de novos nichos de negócio, ao aumento da pressão dos stakeholders e ao rápido avanço tecnológico, criaram um ambiente extremamente complexo para todas as organizações.
Atributos como capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo, adaptação constante, conhecimento, relacionamento e resiliência são algumas das características fundamentais na atuação dos profissionais nas companhias. Assim, passou a ser ainda mais importante haver profissionais capacitados para entender os cenários, estabelecer estratégias positivas e tomar decisões adequadas.
Não adianta uma empresa ter um programa de integridade e compliance robusto, uma governança alinhada às melhores práticas do mercado, alto níveis de eficiência e produtividade e contar com iniciativas ESG expressivas se as áreas internas apresentarem problemas. As lideranças têm que dar o exemplo, e devem ser capacitadas em integridade e conformidade, para depois reforçar com suas equipes.
Em qualquer decisão, verifique sempre as políticas, consulte as normas de conformidade, confira as regras e os valores da organização. A sua credibilidade é o mais importante dentro da organização e fora dela. Mas olhe compliance em um contexto maior, com cuidado e foco nas relações humanas.