A relação da área de relações governamentais com a imprensa também foi tema de debate no congresso. Mediada pela cientista política, professora da ESPM e conselheira do Irelgov, Denilde Holzhacker, a mesa-redonda contou com os jornalistas Iuri Pitta, da CNN Brasil, Eliane Cantanhêde, do Estado de S. Paulo e a presidente executiva do Instituto Palavra Aberta, Patricia Blanco.
A moderadora lembrou que a relação entre as duas atividades já foi mais distante, mas que a situação vem mudando com a maior qualificação das informações ofertadas pelos profissionais de relgov. “Jornalistas buscam dados relevantes e transparentes, até para fazer frente ao processo de desinformação que vem impactando a opinião pública. O relgov pode ser um aliado nessa busca”, disse.
Eliane Catanhêde comentou que a imagem do lobista que andava com gravatas caras e organizava festas extravagantes acabou. “Hoje ele conhece bem o setor que está representando, seus números. Seu principal ativo é reputação. Há muito mais profissionalismo”. Para ela, políticos populistas de direita e de esquerda querem sufocar a mídia para poder incutir nos corações e mentes da população seus interesse e crenças. “A mídia é um anteparo, dá a oportunidade ao povo de refletir sobre os fatos. Regimes políticos sem imprensa livre jamais poderão ser chamados de democracia”.
Iuri Pitta revelou que já trabalhou “do outro lado do balcão”, com assessoria de imprensa, quando levou as propostas de uma multinacional do setor energético para os candidatos às eleições de 2018. “Foi quando descobri que não temos noção de como somos parecidos. Vender uma pauta necessita de boas informações e argumentação sólida”. Para ele, o jornalista se baseia no interesse público. “Se a informação tiver fundamento, ele vai ouvir. Mas o apelo também é importante: não adianta vir com um calhamaço de informações técnicas difíceis de entender”.
Patricia Blanco comentou que o ambiente atual é muito desafiador, pois todos têm opinião sobre tudo. O processo de desconstrução do papel da imprensa faz com que a relação fonte de informação e jornalista se torne cada vez mais difícil. “Se falo diretamente com meu público por meio das mídias sociais, não preciso mais atender esses jornalistas incômodos que fazem perguntas que não quero responder. É assim que muitos pensam”. Por isso, é importante fazer a população entender o papel da imprensa e que liberdade de expressão é condição sine qua non para a democracia. “É um direito de cada um de nós, cidadãos, não apenas da imprensa”.
Sobre as relações governamentais, Blanco observou que elas também podem contribuir para o fortalecimento dos regimes de liberdades democráticas. “Mas podem ir além: um ponto importante é como as relações governamentais conseguem incentivar a construção de boas políticas públicas. Um exemplo foi a aprovação da lei contra a pobreza menstrual, que beneficiou muitas meninas e mulheres de baixa renda”.