Cuidar da saúde de mais de 200 milhões de pessoas está longe de ser uma tarefa fácil. Um dos caminhos é buscar eficiência nos investimentos no setor. De acordo com Lígia Formenti, editora e analista de Saúde no JOTA, mediadora do painel “Inovação e eficiência na gestão da saúde”, ainda há muito o que fazer. “Infelizmente, existem inúmeros exemplos de perdas de vacinas, medicamentos armazenados de maneira inadequada, compras feitas de forma inapropriada. Há 20 anos que se fala em prontuário eletrônico, até para poder fazer integração de dados dos pacientes e a interoperabilidade dos sistemas.”
A head de Relações Governamentais da América Latina da Siemens Healthineers, Ligia Pimentel, apresentou uma plataforma de eHealth (tecnologias digitais para saúde) que é abastecida pelos dados oriundos das soluções e serviços de saúde da própria empresa, como máquinas de ressonância, tomografia e Raio X; consequentemente, acumula dados de todos os pacientes que passam por esses equipamentos. “Por isso entramos na interoperabilidade, por meio de uma plataforma de eHealth que permite padronizar as informações e dar mais visibilidade ao que está acontecendo, tanto com o paciente, como na saúde como um todo.” Ligia afirma que o paciente é o dono da sua informação, mas que ele mesmo não consegue ter seus próprios registros, porque faz exames e tratamentos em clínicas distintas, que não se falam porque não têm sistemas integrados.
O core business da GS1 consiste justamente em elaborar padrões. “Fomos os criadores do conhecido código de barras”, destacou o executivo sênior de Community Engagement da empresa, Ricardo Melo. “Temos ferramentas por meio das quais alinhamos e formatamos os dados, o que proporciona rapidez e segurança para atender os pacientes de modo mais rápido.”
Felipe Dias de Carvalho, diretor regional em Brasília da Abimed (Associação Brasileira da Indústria de Tecnologia para Saúde), entidade que representa empresas que atuam no segmento de dispositivos médicos, defendeu o uso do código de barras não só para fazer gestão de estoque e medicamentos, mas também para prover segurança aos pacientes. “Pode ser aplicado desde a gestão intrasserviço até em uma administração macro, pensando em políticas públicas, como no caso de informações epidemiológicas. No entanto, a interoperabilidade depende de dados e precisamos definir como garantirmos o anonimato e, também, como remunerar as empresas que cuidam deles.”
O prontuário eletrônico, demanda histórica do setor, depende mais de investimentos do que de tecnologia para ser viabilizado, segundo os palestrantes. Segundo Ligia Pimentel, a sua implantação pode levar de 30 dias a dez anos. “Já fizemos o sistema da Áustria. Aqui no Brasil existem problemas de infraestrutura, até mesmo de conexão à internet. É preciso padronizar, definir a linguagem a ser usada, mas é factível.” Para o diretor regional em Brasília da Abimed, atualmente há muitos atores imbuídos da tarefa de criar padrões, principalmente para que essas tecnologias possam chegar ao SUS (Sistema Único de Saúde). “Mas ainda carecemos de força motriz para implantar esse sistema na saúde pública. Concordo que pode levar décadas.”
Ligia Pimentel afirmou que a Siemens tem sistemas que podem ser aplicados tanto em uma clínica pequena quanto em um grande hospital. “Nossa abordagem consiste em mostrar que os municípios podem ter controle dos dados de saúde de seus cidadãos – desde que estes permitam, claro. Já estamos em negociação para implantação das soluções em algumas cidades. A digitalização é o futuro da saúde, pois os sistemas precisam conversar. É fundamental que o gestor e o paciente tenham conhecimento de seus dados.”
De acordo com Carvalho, quando se fala em interoperabilidade, é um mundo inteiro que se abre. “O código de barras não faz milagres, mas permite a automação. A partir daí, toda a inteligência cabe às empresas. O grande objetivo de um padrão é viabilizar a inclusão, pois permite que muitas empresas e pessoas trabalhem em conjunto, buscando soluções.”