A pandemia de Covid-19 colocou o setor de saneantes – produtos de limpeza e higiene – sob muita pressão: da noite para o dia, 203 milhões de habitantes precisavam de grandes quantidades de diversos itens fabricados pelo segmento, como o álcool em gel, para citar apenas um exemplo. Foi preciso rever processos, fornecedores e criar novas soluções. Quais ensinamentos
ficaram?
De acordo com o moderador do painel, o diretor-executivo da Abipla (Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes), Paulo Carvalho Engler Pinto Júnior, a crise provocada pela pandemia mostrou a importância das relações governamentais para a adaptação das empresas e da regulamentação. “Na ocasião, o governo fez decretos específicos para as atividades essenciais que não podiam parar, como as áreas de medicamentos, transportes, alimentos e higiene. O problema é que era preciso acrescentar ‘limpeza’ a esse último decreto. Os profissionais de RelGov entraram em campo e ajustaram o decreto.”
Para a head de Relações Institucionais e Governamentais na Ipê, Roberta Kurusu, as empresas aprenderam com uma grande dor. “No nosso caso, como a empresa é familiar, os integrantes da diretoria se uniram e perceberam mais do que nunca a importância dos produtos que fabricavam, que aquilo era saúde. E direcionamos todos os esforços para a situação: não fazíamos álcool em gel; mas em 72 horas reunimos área de Pesquisa & Desenvolvimento, aproveitamos o fast track criado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e colocamos o produto no mercado muito rapidamente. No final, acabou virando um produto regular da nossa linha.”
A saúde pública, contudo, não depende somente da fabricação de produtos; é preciso também que eles estejam acessíveis à população. “Muitos dos problemas da sociedade não serão resolvidos de forma isolada, por uma empresa ou um governo, mas com a construção de ecossistemas para solucioná-los”, acredita a gerente de Assuntos Corporativos na Reckitt, Patricia Casotti. “A gente tem um papel muito importante de garantir acesso. Temos que estar presentes onde a população está, do mercadinho ao e-commerce. Um segundo ponto consiste em disponibilizar informações e trabalhar na educação do consumidor.”
A sustentabilidade das ações das empresas é outra preocupação que cresceu ainda mais com a pandemia. “A sociedade espera isso das grandes empresas e é importante que faça parte da estratégia de todas as organizações”, disse Patricia Casotti. “Na Reckitt, temos o que chamamos de ‘ambições de sustentabilidade’, que se conectam com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU (Organização das Nações Unidas). São três pilares: ‘marcas guiadas por propósito’, para a redução da pegada química dos produtos; ‘mundo mais saudável’, relacionado à diminuição do impacto das nossas operações, com redução de emissões, do uso de água e eletricidade; e ‘sociedade mais justa’, que aborda as consequências positivas que queremos promover na comunidade por meio de projetos, e a garantia de direitos humanos em toda a nossa cadeia.”
Segundo a gerente sênior de Assuntos Corporativos da Unilever Brasil, Juliana Marra, a empresa adotou soluções na mesma linha. “Também temos um plano global de sustentabilidade, dividido em três pilares – saúde do planeta, saúde das pessoas e inclusão para um mundo mais justo. Nosso setor possui alguns desafios, como no aspecto de regulação, pois esta não pode ser um impeditivo à inovação. A regulação precisa ser séria, mas tem que ter agilidade na aprovação.”