No primeiro painel do Encontro, o moderador Felipe Daud, diretor de Relações Governamentais da América Latina da Alibaba, deu início ao debate com um tema que, segundo ele, ganha a cada dia mais importância – a crescente profissionalização do ofício de relações governamentais.
A afirmação foi corroborada pela presidente do Mulheres em RelGov, Beatriz Gagliardo, que afirmou ter observado uma grande evolução nesse mercado. “Antigamente, bastava que o profissional – geralmente um homem – tivesse um bom caderno de contatos, para atuar de forma eficaz. No entanto, nos últimos anos a profissão caminhou para a capacitação técnica. É um ecossistema de fato, e você tem que entender isso para ser mais efetivo em suas estratégias.
O volume de dados hoje é muito grande e nosso mercado tem que evoluir bastante nessa análise”. A secretária-geral do Coletivo Pretas e Pretos em RelGov, Raiane Paulo, concorda. “São muitos dados. Não podemos pensar que tudo deve ser usado, pois acaba havendo sobreposição de informações. É preciso uma avaliação
técnica.”
Outra tendência é a maior presença de mulheres em posições de liderança. Segundo Daud, o número de profissionais femininas nesses cargos nas empresas chegou a 40%, e nas associações, a 30%. Beatriz Gagliardo ressaltou que as mulheres se ajudam mutuamente, porque sabem que a caminhada é difícil, em uma sociedade que permanece com um forte viés machista. “Com o passar do tempo, percebemos que era preciso nos formalizarmos como associação para avançar em alguns temas complexos, como o assédio. Para enfrentar esse tema, temos que chamar os homens como aliados. Não podemos tolerar um cenário em que, segundo a pesquisa que fizemos, 80% das mulheres afirmam já terem passado por situações de assédio. Precisamos realizar um trabalho educativo para entendermos não só como podemos nos apoiar mutuamente, mas também como empresas, associações e consultorias podem se posicionar.”
A diretora de Reputação e Assuntos Corporativos da América Latina na Unilever, Suelma Rosa, disse que, nos debates sobre entraves da carreira de mulheres em RelGov, o assédio aparece como um dos principais. “Assédio é violência de gênero e isso tem impedido a progressão da carreira de muitas mulheres.”
Outro problema grave que requer atenção é o combate à discriminação racial. Segundo Raiane Paulo, o ponto inicial consiste em identificar os entraves enfrentados por pessoas negras para que deixem de atuar na base e consigam ocupar espaços de liderança. “A escravidão não se resumiu aos quase 400 anos em que esteve em vigor, porque, mesmo depois de abolida, demorou muito para que os negros encontrassem um lugar nas profissões e participassem dos ambientes decisórios. O racismo ainda é estrutural e não dá para falarmos de diversidade e inclusão, se a pauta racial não estiver sendo debatida”.