Por Lara Gurgel, Diretora-executiva do IRELGOV
No dinâmico contexto das democracias contemporâneas, o lobby participativo, como expressão da diversidade de interesses de todos os grupos sociais, desempenha um papel crucial para garantir que uma ampla gama de perspectivas seja devidamente considerada nas decisões políticas e legislativas. Em outras palavras, fazer lobby é bom, saudável e uma das principais formas de ser ouvido por quem tem poder de decisão.
A diversidade de perspectivas não só equilibra o poder entre os diferentes grupos da sociedade, mas também fortalece a transparência e a responsabilidade governamental, pilares essenciais para o fortalecimento de sociedades democráticas vibrantes e resilientes. Ao promover uma governança mais inclusiva e eficaz, esse processo contribui significativamente para o desenvolvimento de políticas públicas mais representativas e capazes de atender às diversas necessidades da população.
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), “pesquisas recentes mostram que os cidadãos esperam que o setor privado se engaje mais, não menos, com os governos em questões-chave da política. No entanto, isso traz expectativas adicionais sobre COMO o setor privado se engaja com os governos e COMO esse engajamento molda a formulação de políticas”.
Ao contrário do que muitos imaginam, uma significativa parte dos profissionais de relações governamentais e institucionais, comumente conhecidos como lobistas, está em busca de profissionalização e de mecanismos que tragam mais transparência e segurança para a prática de sua atividade. Afinal, trata-se de uma prática legítima e a melhor opção – para profissionais e sociedade em geral – é fazer tudo às claras.
Torna-se crucial estabelecer os meios que possibilitarão uma participação mais ampla dos grupos de interesse que atualmente detêm menos poder representativo, social e econômico no Brasil. Neste contexto, a adoção de modelos de referência se destaca como uma prática fundamental tanto para profissionais quanto para organizações. Eles não apenas funcionam como orientações, mas também fornecem estruturas bem definidas, direções claras e passos essenciais para guiar o desenvolvimento de projetos, pesquisas, produtos e até mesmo trajetórias profissionais.
O Instituto de Relações Governamentais (IRELGOV), primeiro think tank brasileiro dedicado ao debate do lobby, trabalhou com uma comunidade de mais de 400 profissionais da área para gerar modelos de referência que possam orientar o trabalho de profissionais, organizações e prestadores de serviços que atuam com representação de interesses.
Os resultados foram modelos, gratuitos e públicos, que trazem orientações para a formação profissional e organizacional daqueles que almejam participar da formulação de políticas públicas que verdadeiramente representem os interesses coletivos de todos os segmentos da sociedade. Trata-se de uma ferramenta importante para que grupos menores e menos poderosos também tenham acesso a recursos para orientar o desenvolvimento de suas atividades. Garantir que a voz dos pequenos seja considerada consiste no melhor caminho para a construção de um país mais justo e igualitário.
*Artigo publicado no jornal O Globo em 19.09.2024