“O IRELGOV é um lugar de aprimoramento da educação e de nossos relacionamentos”, afirma a presidente do IRELGOV, Patricia Nepomuceno.
Prestes a dar à luz, Patricia Nepomuceno, aceitou, em maio deste ano, um desafio – presidir o IRELGOV. Nesta entrevista, ela fala sobre a importância do instituto para o aprimoramento da profissão e conta um pouco de sua trajetória profissional. “A política é uma atividade muito dinâmica para quem a exerce, de forma direta ou indireta. Lidamos com percalços o tempo todo e é necessário ser resiliente, não esquecer que temos uma integridade a zelar. Sem esquecer do nosso papel democrático de construção da nossa sociedade, que é um papel perene. Independente dos hiatos que a vida nos impõe, precisamos continuar lutando por uma sociedade próspera. Vejo no IRELGOV essa oportunidade de apoio entre profissionais e comunidades. É um lugar de aprimoramento da educação e de nossos relacionamentos”, ressalta.
1 – Conte um pouco sobre sua trajetória profissional/formação acadêmica e como isso contribui com sua missão no IRELGOV?
Tenho duas formações, uma delas é relações internacionais, que estuda muito política internacional, a outra é direito. Comecei trabalhando no governo, na Presidência da República. Lá, atuei na Secretaria de Assuntos Estratégicos. Minha função era unir tudo que todos os ministérios faziam de cooperação técnica entre Brasil e países africanos, catalogar e pensar/formular políticas públicas. Na época, o ministro Mangabeira Unger me convidou para fazer articulação com os governos locais. Comecei a fazer relações governamentais em nível federal e estadual.
Minha segunda experiência profissional é na Firjan, onde atuo há 15 anos. Atualmente sou gerente de relações institucionais e governamentais da federação. Sempre gostei muito de estudar o desenvolvimento do Brasil e como isso passa pela indústria. Na época do governo, a gente olhava muito para a pauta industrial e, quando surgiu a oportunidade de representar, na época, o segundo maior PIB do Brasil, em Brasília, isso tudo foi se encaixando com meus objetivos. Naquele momento, nossos processos eram mais reativos e com o tempo fomos amadurecendo essa área de relgov, implantando, por exemplo, o mapeamento de stakeholders.
2 – Quais são os principais desafios e metas da sua presidência no IRELGOV e como pretende alcançá-los? Quais temas pretende priorizar?
O grande desafio da atual gestão do IRELGOV é aproximar o universo acadêmico das empresas e organizações que possuem uma área de relações governamentais.
3 – Como você enxerga o papel do IRELGOV para o universo das relações governamentais?
Conheci o IRELGOV na segunda turma de relgov do Insper. Porém, só me aproximei do instituto alguns anos depois, durante a gestão de Suelma Rosa, em 2020, e aí passei a me dedicar ao IRELGOV, coordenando alguns grupos, como o de stakeholders. Eu ajudava na pasta de eventos e recebia novos associados, entre outras atividades.
O IRELGOV gera conexões valiosas e fortalece a profissão de relgov como um todo. Temos produzido muito conteúdo e é necessário conectar essas produções à academia.
4 – A nova diretoria é liderada por duas mulheres. Qual o significado desse fato na luta por condições mais igualitárias na sociedade e no mercado de trabalho? Como é possível mudar o cenário, tornando-o mais justo?
Parte dessa escolha foi inspirada pela pesquisa sobre o assédio dentro da nossa profissão, apoiada pelo IRELGOV no ano passado. Os números são alarmantes: 80% das entrevistadas afirmaram que sofreram assédio moral ou sexual em algum momento da sua trajetória profissional. Uma liderança 100% feminina indica uma mensagem clara: a política é lugar das mulheres. Seja de forma direta ou indireta, essa é uma conquista histórica e continuaremos trabalhando para que esse espaço seja respeitoso e acolhedor com qualquer população minorizada.
5 – Como vê a questão da regulamentação do lobby?
Na minha opinião, não se pode criar barreiras de acesso. Uma vez que a gente está falando de democracia, de participação das pessoas nas decisões do governo, em participação popular não devemos criar barreiras de acesso.
Uma regulamentação deveria partir dos agentes públicos. Se o agente público tem essa transparência imbuída na gestão dele, não teríamos que estar discutindo a corrupção. O governo tem que ser transparente em primeiro lugar e esse não pode ser um ônus da sociedade que está ali fazendo um exercício da democracia. Estipular limites em relação aos presentes, por exemplo. É mais no sentido de moralizar do que de criminalizar a conduta.
Um caminho possível para a regulamentação do lobby seria a autorregulamentação de certificações privadas. Nesse sentido, o IRELGOV deu um primeiro passo nesse sistema de certificação com os modelos de referência. Eles não se esgotam neles mesmos, não são restritivos e trazem as boas práticas que os profissionais de RIG podem seguir. É um trabalho que ficará em constante atualização. Os modelos ajudam a guiar profissionais que estão começando e os seniores a continuarem no caminho da integridade dentro do lobby, além de empresas e consultorias.
6 – Alguns setores da sociedade ainda avaliam a atividade de lobby de forma negativa. Como mudar essa percepção?
Precisamos educar a sociedade e esclarecer que tráfico de influência é diferente de lobby, que é o exercício legítimo de democracia. É papel de qualquer lobista desmistificar isso. Parte de um trabalho de associações (Abrig) e coletivos (Pretas e Pretos em relgov, Mulheres Relgov), entre outros. Um profissional de relgov que tem vergonha de falar que é lobista não entende o que está fazendo.
7 – Indique uma sugestão de livro de cabeceira que você julgue útil para a profissão de relgov.
“Como as democracias morrem”, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt. O trabalho de relgov não faz sentido se não estivermos em uma democracia. Precisamos estar, o tempo todo, vigilantes.