As atividades de relações governamentais embutem uma série de riscos, de operacionais a reputacionais. Consequentemente, quanto mais precisa for a análise política, maiores serão as chances de sucesso. Entender o funcionamento de profissionais do segmento foi o objetivo da mesa-redonda “Análise de risco político nas relações governamentais”, mediado pela presidente do IRELGOV na gestão 2020-2022, Suelma Rosa, que lembrou que o papel do Relgov não se limita a falar com autoridades públicas. “Nosso diálogo é com todos os atores da sociedade. Somos uma cadeia de valor com visão sistêmica e devemos nos perceber como tal”.
Para Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice, a análise de risco político é um dos fundamentos da atividade de relações governamentais. “É o começo de tudo, o momento em que avaliamos e definimos o cronograma de acompanhamento dos temas. Precisamos priorizar, pois os recursos são limitados. Desta forma, é possível avaliar se um determinado risco ainda vai levar tempo para causar ameaças ou se é iminente”, explicou.
Após essa análise, Aragão entra em contato com o cliente para atualizar o status do processo e debater caminhos. “Damos uma direção provável que o assunto deve seguir, o que é uma enorme responsabilidade. Somos muito cobrados para acertar. Muitos consultores não vão admitir, mas todos têm dúvidas. Afinal, quanto mais imerso em uma atividade, mais refém de visão de túnel estará. É preciso analisar as variáveis”.
Já Creomar de Souza, fundador da Dharma Political Risk and Strategy, explicou que a primeira etapa consiste em verificar o que o cliente espera de uma consultoria. Para ele, cabe ao profissional deixar claro o trabalho que será executado e até onde é possível ir. “É importante explicitar o viés analítico do trabalho. Somos todos pressionados, mas não temos bola de cristal. Apresentamos os cenários, mas a decisão final é do cliente”. Ele ressaltou que o Brasil é tão complexo que algumas metodologias utilizadas no exterior simplesmente não funcionam aqui. “Precisamos aprender a nos comunicar e entender a análise de risco político dentro de casa”.
O sócio da Arko Advice concordou que o Brasil ainda causa dificuldades de compreensão para investidores estrangeiros. “Falamos português, o que nos diferencia dos outros países da América Latina. Os gestores não têm acesso a muito material em inglês sobre nosso país. Eles não têm tempo para ler nossos regimentos internos e leis, por isso precisam de uma análise política bem fundamentada”.