As relações envolvendo empresas privadas, governos e sociedade como um todo estão em processo de transformação, não somente no Brasil, mas no mundo inteiro. Mudanças estão ocorrendo na geopolítica global, com o desmonte e descoordenação dos mecanismos de controle de poder no cenário internacional. As forças que influenciavam o mundo costumavam ser divididas em duas correntes, mas hoje vivemos no mundo do “G-Zero”, no qual a ausência de uma potência capaz de exercer o poder de “polícia do mundo” acentua as incertezas vindas de situações como as da Coreia do Norte e sua ameaça nuclear, os conflitos na Síria, que desencadeou a crise dos refugiados, e as incertezas na política internacional decorrentes do governo de Donald Trump nos Estados Unidos. No Brasil, o cenário é agravado pelas sucessivas crises políticas e pelos desdobramentos da operação Lava Jato, que criam novos desafios no ambiente empresarial. Entender todos esses cenários e suas consequências são os novos desafios dos profissionais de relações governamentais.
“O mundo ficou muito mais complexo”, resumiu Erik Camarano, presidente do IRELGOV, no debate realizado no dia 14 de setembro, no Rio de Janeiro, oferecido pelo curso MBA em Relações Governamentais da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-RJ). “Novo momento em Relações Governamentais: Desafios e perspectivas da atividade no Brasil e no mundo” foi o tema principal do evento, que além de Camarano, teve participação de Guilherme Cunha Costa, presidente da ABRIG, e Rodrigo Navarro, coordenador do MBA em RelGov da FGV-RJ. O evento contou com a participação do advogado Gabriel Di Blasi, da Di Blasi Parente & Associados, conselheiro do IRELGOV.
Além da maior complexidade do cenário político, nacional e internacional, o processo da globalização e o crescimento dos mercados emergentes teve como consequência o aumento do ativismo governamental. A internacionalização dos mercados fez com que decisões governamentais passassem a ter impacto direto no resultado global das companhias. Isso obrigou as empresas a se relacionarem com os diferentes governos para solucionar questões legais e regulatórias. “Para operar nesses mercados é preciso ter relações governamentais”, afirma Camarano. O presidente do IRELGOV ressalta que, neste momento, passa ser importante haver profissionais capacitados para entender os cenários e estabelecer estratégias adequadas de como fazer a conexão entre as entidades privadas e os diferentes governos. “Há espaço para crescer e capacitação é fundamental”, enfatizou Guilherme Cunha Costa, presidente da ABRIG.
Os profissionais de relações governamentais também precisam entender e interagir com entidades que atuam fora as esferas governamentais, estendendo as atividades para o campo das relações institucionais. O ambiente de negócios é influenciado por diferentes “stakeholders”, cujas decisões podem impactar diretamente os resultados das empresas, Além de órgãos de governo (agências reguladoras, por exemplo), podemos incluir fornecedores, clientes, sindicatos, associações civis, imprensa, entre outros. Camarano apresentou o conceito de “shapeholders”, atores que impactam os ambientes de negócios, sem necessariamente estarem envolvidos diretamente com as empresas (leia mais sobre shapeholders no link http://bit.ly/2wrBUDY).
Conhecer e saber lidar com esses diferentes grupos de influenciadores é importante para garantir o sucesso dos negócios das companhias. Por esse motivo, Camarano ressaltou a necessidade de participação direta dos profissionais de relações governamentais no processo decisórios das empresas. “O cargo de lobista é estratégico para as empresas”, afirmou Rodrigo Navarro, coordenador do MBA em RelGov da FGV-RJ.
Capacitação
Todos os participantes do debate da FGV-Rio ressaltaram a importância da capacitação do profissional de relações governamentais para enfrentamento desses novos cenários. Além do conhecimento dos diferentes públicos, são requisitos fundamentais o entendimento profundo da área de atuação da empresa, saber os trâmites legais e técnicos, nas diferentes esferas de governo, para apresentação e tramitação de projetos de lei e os processos de como se estabelecem políticas públicas.
Questões tecnológicas também estão colocando os profissionais de relações governamentais sob pressão. Negócios disruptivos e mudanças aceleradas do comportamento social na era digital exigem ações imediatas na interlocução entre empresas com o poder público. Rodrigo Navarro deu um exemplo concreto. “O maior problema enfrentado pelas startups é adequar o ambiente regulatório para novos modelos de negócio”, relatou.
Carros autônomos, impressoras industriais 3D e baterias de armazenamento de energia domésticas não são tecnologias de ficção científica, mas realidades que já impactam cadeias produtivas inteiras e devem mudar, rapidamente, relações trabalhistas e legais de diversos setores de negócios.
A maneira com que essas mudanças serão implementadas exigirá a participação direta das relações governamentais. Esses profissionais serão responsáveis por apresentar as demandas e preocupações da iniciativa privada e negociar com o poder público soluções mais adequadas para o bem-estar da população e a integridade dos ambientes de negócios das empresas.
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