Nesta Edição

ABERTURA

O GT de Mídia e Relações Governamentais teve como objetivo promover debates sobre a intersecção entre relações públicas e relações institucionais e governamentais, campos de atuação muito próximos e que atuam, em diversas situações, de forma interligada.

Em diversos casos, o debate em torno de uma política pública envolve:

  • Decisores governamentais – aqueles que possuem a decisão final sobre determinado assunto, podendo ser o executivo, legislativo, agências reguladoras ou outras entidades governamentais.
  • Influenciadores – aqueles usualmente convidados a fornecer elementos para o processo decisório, como universidades, especialistas, ONGs, think tanks etc.
  • Opinião pública – a sociedade civil engajada no debate, atualmente com participação ativa pelas redes sociais, mas sem excluir a imprensa tradicional.

Na figura abaixo, buscamos expor essa relação de forma didática.

Esses são casos em que o trabalho de relações governamentais pode ser impactado também pela dimensão do debate público. Em outras palavras, são os casos em que o debate sobre determinada política pública extrapola o ambiente decisório e passa a compor a esfera do debate público, o que também influencia opiniões.

Não faltam exemplos de casos em que a política pública é debatida de forma ampla na sociedade. A título de ilustração vale recordar da consulta pública promovida pela Anvisa sobre rotulagem de alimentos que envolveu especialistas e organizações de diferentes matizes conclamando a sociedade a participar da consulta pública.

Abrimos os encontros do GT com um diálogo com Gisela Antakly Martinez, ex-Conselheira de Comunicação do IRELGOV e proprietária da Antakly Public Affairs, com quem tivemos a oportunidade de debater a relevância da comunicação em estratégias de relações governamentais e o campo de public affairs, que sintetiza essa abordagem integrada.

Também debatemos com Renard Aron, fundador da Policy Zone e autor do livro “Lobby Digital: Como o cidadão conectado influencia as decisões de governos e empresas”. Em seu livro, Renard debate de forma muito elucidativa que a relação entre emissor e receptor da mensagem mudou: agora as pessoas têm acesso direto aos tomadores de decisão e isso teve um impacto grande na relação entre cidadãos e autoridades públicas e na relação com a mídia também. Tendo esse debate como ponto de partida, discutimos sobre como fica o relgov nesse contexto.

No terceiro encontro estivemos com Ágatha Paraventi, mestre e doutora em ciências da comunicação pela ECA/USP e professora na ECA/USP. Ágatha aborda em sua produção acadêmica, entre outros temas, os limites éticos da prática de relgov no relacionamento com stakeholders, comunidades, autoridades e imprensa e esse foi o cerne dos debates desse encontro.

Nosso último encontro se deu com Marcela Tullii, gerente sênior de relações governamentais na 99, com quem debatemos a intersecção entre relações públicas e governamentais no âmbito corporativo. Um dos elementos que evidenciam a ascensão do tema é que está cada vez mais frequente o desenho organizacional que integra sob a mesma diretoria relações governamentais e comunicação. Tendo isso em vista, debatemos como estão ocorrendo essas práticas no ambiente corporativo.

Thomaz D’Addio – Conselheiro de Comunicação do IRELGOV

Integração na comunicação governamental

A primeira reunião do Grupo de Trabalho do IRELGOV, realizada em 26 de abril e conduzida pelo conselheiro Thomaz D’Addio, contou com a participação de Gisela Antakly Martinez, CEO da Antakly Public Affairs e focou na intersecção entre relações governamentais e relações públicas, com ênfase em public affairs.

“A abordagem deve ser multifacetada, usando conteúdo patrocinado, campanhas em redes sociais e participação em eventos para garantir que a mensagem alcance o público desejado”
Gisela Antakly Martinez
CEO da Antakly Public Affairs

Gisela Antakly Martinez enfatizou a necessidade de uma comunicação eficiente para a construção de reputação e obtenção da licença social para operar. Ela sublinhou que, em um cenário de crescente desinformação, é vital utilizar todos os meios de comunicação disponíveis, incluindo redes sociais, para promover causas importantes. “A abordagem deve ser multifacetada, usando conteúdo patrocinado, campanhas em redes sociais e participação em eventos para garantir que a mensagem alcance o público desejado”, afirmou.

A reunião também abordou a crescente complexidade da comunicação na era digital, o que torna fundamental uma abordagem estratégica integrada que combine relações governamentais e comunicação. Antakly Martinez e D’Addio abordaram casos práticos e estratégias para enfrentar desafios de comunicação, destacando a importância de encontrar uma agenda comum e criar uma narrativa convincente que ecoe em diferentes públicos.

A reunião reforçou a necessidade de uma comunicação aberta e transparente com todos os stakeholders, incluindo influenciadores e opinião pública, para garantir a integridade e a eficácia das ações de relações governamentais e públicas.

Debate público e influência em políticas públicas

Na segunda reunião do Grupo de Trabalho do Instituto de Relações Governamentais (IRELGOV), realizada no dia 10 de maio, o conselheiro Thomaz D’Addio conduziu o encontro com a participação especial de Renard Aron, da PolicyZone. A discussão teve como foco a relação entre relações governamentais e relações públicas, destacando a importância da integração dessas áreas, especialmente no contexto das mídias sociais, onde o debate público tem uma influência significativa nas políticas públicas.

Renard Aron enfatizou a necessidade de coordenação entre comunicação e relações governamentais para maximizar a efetividade das estratégias de advocacy. Ele apontou que, nos Estados Unidos, há uma tendência crescente de empresas evitarem se posicionar publicamente sobre temas sociais e políticos devido ao risco de retaliação, enquanto no Brasil as empresas sempre foram mais relutantes em participar desses debates.

“A transparência não é apenas ética, é fundamental para manter a confiança do público”
Renard Aron
PolicyZone

A reunião ressaltou a importância de adaptar as estratégias de comunicação às realidades locais e aos contextos culturais e políticos de cada país.

Além disso, foi discutido o uso de influenciadores e campanhas de marketing para promover ideias e políticas públicas. Para Aron, embora essa prática possa ser eficaz, deve ser transparente para evitar a manipulação do público. “A transparência não é apenas ética, é fundamental para manter a confiança do público”, afirmou.

A reunião concluiu com uma reflexão sobre o equilíbrio entre a simplicidade na comunicação e a profundidade do conhecimento técnico, especialmente em temas complexos como a reforma tributária. A discussão reforçou a necessidade de uma abordagem integrada e estratégica, que combine relações governamentais e comunicação, para enfrentar os desafios atuais e moldar a opinião pública de maneira eficaz.

Ética na comunicação corporativa

A reunião do Grupo de Trabalho de Mídias e Relações Governamentais do IRELGOV sobre “Ética nas Relações Governamentais e Relações com a Imprensa”, liderada pelo conselheiro Thomaz D’Addio no dia 14 de junho, contou com a participação de Ágatha Paraventi, da ECA/USP, especialista em ética, comunicação e governança corporativa, que destacou a importância do tema nas comunicações corporativas e governamentais.

D’Addio disse que os profissionais que atuam em consultorias entendem bem a pressão de lidar com determinadas questões. “Muitas vezes nos vemos em dilemas no relacionamento diário com os clientes, pois nos são feitas sugestões de abordagem que ficam em uma zona cinzenta. É importante nos perguntarmos até onde podemos ir, o que é um processo de influência de relações institucionais legítimo e em qual ponto passamos a ter um conflito ético”.

"A pressão dos clientes pode levar a decisões antiéticas que impactam negativamente a reputação das empresas a longo prazo"
Ágatha Paraventi
ECA/USP, especialista em ética,
comunicação e governança
corporativa

Ágatha Paraventi enfatizou como as decisões éticas impactam a integridade e a reputação das organizações, abordando os desafios enfrentados pelos profissionais em equilibrar os interesses dos clientes com as responsabilidades éticas. “A pressão dos clientes pode levar a decisões antiéticas que impactam negativamente a reputação das empresas a longo prazo”, afirmou Ágatha.

A reunião abordou diversos dilemas e riscos éticos enfrentados pelos profissionais de relações governamentais e comunicação, destacando a importância da informação precisa e transparente no processo democrático. Ela explicou como a manipulação de informações pode distorcer debates públicos e decisões políticas, citando exemplos de práticas antiéticas, como a estratégia de astroturfing do iFood e o uso de estudos enviesados na indústria alimentícia.

A professora da ECA/USP também apresentou casos práticos de manipulação de informações e participação pública simulada, destacando a importância de um debate transparente e informado. “Práticas antiéticas podem comprometer a confiança pública e a eficácia das estratégias de advocacy”, alertou. Ela discutiu exemplos como estratégias de astroturfing, onde foram criadas páginas e campanhas falsas para manipular a opinião pública e minimizar a pressão realizada por opositores, claramente um exemplo a não ser seguido.

Transparência como estratégia de comunicação

No último encontro do GT Mídias e Relações Governamentais do IRELGOV, Marcela Tullii, gerente sênior de Relações Governamentais da 99, destacou a importância da comunicação integrada entre relações governamentais (relgov) e relações públicas (RP). A reunião focou na necessidade de transparência e no uso de dados como base para moldar políticas e engajar stakeholders.

Thomaz D’Addio, conselheiro do IRELGOV que conduziu a reunião, ressaltou que muitas vezes são usados os mesmos nomes para atividades que não são exatamente sinônimos, mas que possuem conexões. “É importante entender como ficam as relações entre comunicação, de um lado, e do outro relações governamentais e institucionais”.

Tullii iniciou sua apresentação abordando a evolução das estratégias de relações institucionais e governamentais no Brasil, enfatizando o crescimento do uso de dados e pesquisas para fundamentar argumentos. “Precisamos desmistificar o papel do lobby, promovendo um entendimento mais claro e ético dessa prática dentro da democracia”, afirmou.

"Precisamos desmistificar o papel do lobby, promovendo um entendimento mais claro e ético dessa prática dentro da democracia"
Marcela Tullii
Gerente sênior de
Relações Governamentais da 99

Um dos pontos centrais da reunião foi a integração entre relgov e RP, considerada essencial para a eficácia das iniciativas de engajamento público e influência legislativa. Marcela Tullii ressaltou que a transparência é fundamental para garantir a integridade das ações. “Não é apenas um clichê, é uma prática essencial que deve permear todas as nossas atividades”, disse.

Ela também mencionou a relevância das estratégias de base (grassroots) no contexto atual, especialmente com o advento das redes sociais, que oferecem um canal direto de comunicação com os decisores. “Monitorar e engajar influenciadores é crucial para amplificar nossas mensagens e garantir que a opinião pública esteja bem-informada”, acrescentou.

Marcela destacou a importância do compliance e da preparação de materiais e estratégias com antecedência. “Um planejamento cuidadoso e alinhado aos valores e objetivos da organização é indispensável para o sucesso das nossas ações”, concluiu.

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Expediente #02 – Agosto – 2024

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Jornalista Responsável
Luiza Paula Sampaio (MTb 17.043)

Coordenação Editorial
Thomaz D’Addio
Marcela Tulli

Colaboraram nesta edição
Fernando de Moraes
Iolanda Vieira

Suporte
Márcia Rosa e Débora Santos

Conselho Diretor:
Patricia Nepomuceno – Presidente
Juliana Marra – Vice-Presidente
Lara Gurgel – Diretora Executiva
Felipe Carvalho – Conselho de Planejamento Estratégico
Pablo Cesário – Conselho de Conteúdos
Mariana Guimarães – Conselho Jurídico
Thomaz D’addio – Conselho de Comunicação
Júlia Vianna – Conselho de Parcerias
Verônica Hoe Lopes – Conselho de Responsabilidade Social
Carlos Lima – Conselho de Assuntos Estratégicos
Ariela Zanetta – Conselho de Carreiras
Helga Franco – Conselho Fiscal
Paulo Homem – Conselho Fiscal
Roberta Rios – Conselho Fiscal
Marcelo Almeida – Conselho Consultivo
Leonardo Barreto – Conselho Consultivo
Felipe Daud – Conselho Consultivo
Carlos Petiz – Conselho Consultivo
Mariana Chaimovich – Conselho Consultivo
Luciano Gollner – Diretor regional do IRELGOV no Espírito Santo
Gustavo Bernard – Diretor regional do IRELGOV em Minas Gerais
Rafael Maia – Diretor Regional do IRELGOV no Estado do Rio de Janeiro

 

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