Novas formas de relações institucionais, com influência em políticas públicas e sua importância para a democracia estiveram em debate no “II Congresso Internacional de Relações Governamentais”, realizado nos dias 19 e 20 de maio, em São Paulo. Idealizado pelo Instituto de Relações Governamentais (IRELGOV), o encontro promoveu o debate acerca da geração de valor da atividade de relações governamentais e institucionais para empresas. O evento, realizado em formato presencial, na AMCHAM, teve a participação de profissionais de Relações Institucionais e Governamentais (RIG), pesquisadores, profissionais de áreas relacionadas ou de interesse em RIG e representantes da imprensa.
Entre os destaques da programação estava a mesa redonda mediada pela vice-presidente Global de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos da BRF, Grazielle Parenti, que abordou a interação entre a área de relações governamentais e as demais áreas das empresas. De acordo com o vice-presidente executivo da Braskem, Edison Terra, as empresas serão cada vez mais cobradas pela sociedade para obterem uma licença social para operar. “Se até o momento bastava satisfazer clientes, colaboradores, ter lucro e pagar impostos, hoje as empresas precisam mostrar quais são os benefícios que geram para a sociedade. E essa interação com sociedade e governo passa por áreas bem estruturadas de relações governamentais”. Daniel Bastos, executivo de segurança de informação da Totvs, ressaltou que essa comunicação com o governo possui uma complexidade técnica grande e a equipe de relações governamentais e institucionais têm um papel fundamental de ajudar nessa interlocução.
Outro ponto abordado foi o diálogo multistakeholder na área de relações governamentais e institucionais. Segundo a mediadora e diretora de Relações Institucionais da Mondelez, Helga Franco, estudiosos afirmam que o capitalismo se desenvolveu pela metade porque esqueceu da parte humana. “É necessário uma gestão consciente da parte do líder das empresas. Ouvir opiniões: essa é a essência do capitalismo de partes interessadas”. Para Ligia Pimentel, diretora de Relações Governamentais da Varian Medical Systems, “esse líder tem que ser humano: só assim alcançaremos o ideal de empresa-cidadã”. O diretor de Relações Institucionais da AMBEV, Rodrigo Moccia, concorda: “Ele precisa de duas características fundamentais: ouvir o outro e cooperar”.
No debate sobre análise de risco político, Suelma Rosa, diretora sênior de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade na Unilever, lembrou que o papel do Relgov não se limita a falar com autoridades públicas. “Nosso diálogo é com todos os atores da sociedade. Somos uma cadeia de valor com visão sistêmica e devemos nos perceber como tal”. Para Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice, a análise de risco político é o começo de tudo nessa cadeia. “É desta forma que conseguimos priorizar temas e pensar em estratégias”.
A relação da área de relações governamentais com a imprensa também foi tema de debate no congresso. Mediada pela cientista política e professora da ESPM Denilde Holzhacker, a mesa contou com os jornalistas Iuri Pitta, da CNN Brasil, e Eliane Cantanhêde, do Estado de S. Paulo, além de Patrícia Blanco, presidente executiva do Instituto Palavra Aberta. Cantanhêde disse que a imagem do lobista que andava com gravatas caras e organizava festas extravagantes acabou. “Hoje ele conhece bem o setor que está representando, seus números, há muito mais profissionalismo. O sucesso depende de boa reputação e informações relevantes”. Para Pitta, jornalistas e lobistas têm em comum a pauta do interesse público. “Somos fundamentados nas mesmas premissas: o interesse da sociedade e informações confiáveis. A defesa de interesses é totalmente legítima, mas as informações devem ser transparentes para podermos passar para o espectador ou leitor”.
Já Blanco ressaltou que observou nos últimos anos a profissionalização da atividade de relações governamentais. “Outro ponto importante é como as relações governamentais conseguem incentivar a construção de boas políticas públicas. Um exemplo foi a aprovação da lei contra a pobreza menstrual, que beneficiou muitas meninas e mulheres de baixa renda”.