DIÁLOGOS IRELGOV - NOVEMBRO de 2020
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em videoconferência entre representantes
do Ministério da Saúde e da FIOCRUZ com
representantes do Fundo de Investimento
Direto na Rússia (RDIF), os técnicos tentaram
obter respostas sobre o imunizante, seu preço
para fabricação e a possibilidade de empresas
brasileiras atuarem como parceiras na produção
local. Os jornais Estadão e O Globo apuraram,
na época, que havia desconfiança por falta de
informações, mas o governo brasileiro deixou as
portas abertas. Segundo a Folha de São Paulo,
em 30 de julho, o governador da Bahia, Rui Costa,
e seu secretário de Saúde, Fábio Villas Boas, já
tinham tido reunião com o embaixador da Rússia
para negociar uma possível parceria para testes
e produção da vacina no estado e que poderia
envolver outros estados nordestinos. No dia 11
de agosto, o governador do Paraná, Ratinho Jr.,
anunciou o acordo com o governo russo, que vinha
sendo negociado desde julho. Para isso, R$ 200
milhões seriam investidos para que o Instituto de
Tecnologia do Paraná (Tecpar) seja um dos pólos de
produção e distribuição da vacina para a América
Latina. O convênio também previa a realização da
fase três dos testes clínicos, mediante aprovação
da ANVISA, o que não havia acontecido até o
fechamento desta edição.
Em setembro, a revista britânica The
Lancet, uma das principais revistas científicas do
mundo, publicou estudo de cientistas do Centro
Nacional de Investigação de Epidemiologia e
Microbiologia (Instituto Gamaleya), que envolveu
testes com 38 adultos saudáveis, com idades
entre 18 e 60 anos, ao longo de 42 dias, nos dois
primeiros estágios de desenvolvimento da vacina.
Segundo eles, “não houve resultados adversos” da
Sputnik V entre as pessoas testadas e o composto
conseguiu “provocar uma resposta imunológica”.
Dias depois a revista enviava questiona-
mentos aos autores porque 37 respeitados pesqui-
sadores, encabeçados por Enrico Bucci, alegaram
inconsistências nos dados com possível duplica-
Capa
ção destes, acusações refutadas categoricamente
pelo vice-presidente do Instituto Gamaleya, Denis
Logunov, em nota enviada à imprensa.
Só dias depois o ministro da Saúde russo,
Mikhail Murashko, anunciou o início da fase 3 dos
testes clínicos da vacina. O diretor do RDIF, Kirill
Dmitiev, anunciou que a vacina seria testada
em 5 países: Arábia Saudita, Emirados Árabes,
Filipinas, Brasil e Índia. Cerca de 40 mil voluntários
participarão desta fase e 10 mil vão receber
placebo invés do imunizante. Na Rússia, a vacina
já está sendo aplicada na população. Até agora
não há notícias de efeitos colaterais importantes.
Ainda em setembro, o estado da Bahia confirmou
a compra de 50 milhões de doses da vacina, sem
transferência de tecnologia.
E no dia 23 de outubro a farmacêutica
União Química informou que assinou acordo com
o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) para
produzir a vacina russa Sputnik V contra a Covid-19
a partir da segunda quinzena de novembro. No
dia anterior, a CNN Brasil havia destacado que
a empresa, sediada no Distrito Federal, havia
recebido parte dos insumos para a produção da
vacina. O diretor de negócios internacionais da
União Química, Rogério Rosso, disse à emissora
que esse material é um lote piloto para pesquisa
e desenvolvimento e conta com vetores (matéria
prima) da vacina russa. Já a coordenadora de
biotecnologia do Grupo União Química, Natasha
Kuniechick, destacou à CNN Brasil que essa é
uma fase muito importante para a etapa de
transferência de tecnologia: “Recebemos um
insumo para a produção da vacina, que é o vector
viral e estaremos nos próximos dias fazendo
alguns pilotos. Após isso, teremos os moldes de
vetor, estudos clínicos e vamos pedir os registros
necessários”. A expectativa é que a empresa
solicite o registro à ANVISA em 10 dias. Na segunda
metade de novembro estão sendo esperados
técnicos russos para acompanharem o início da
produção da vacina.