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DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 01 - Março
ARTIGO
e, portanto, o local mais adequado para
apresentar argumentos e ideias em favor
de uma causa num ambiente relaxado e de
conversa uida. Ah, se as elegantes paredes
daquele lobby falassem... Aliás, foi também
no Hotel Willard que Martin Luther King
teria escrito o seu famoso discurso “I have a
dream”, mas isso é divagação para um outro
texto.
Menos difundida – basicamente porque a
teoria é minha – há a corrente que diz que
o lobby teria nascido na corte de Henrique
VIII. No reinado dos Tudor o homem mais
inuente da corte era o chamado Groom
of the Stool, nobre encarregado de car na
antessala e suporte higiênico ao rei quando
ele cumpria suas funções biológicas diárias
no “trono”. Enquanto estava sentado aguar
-
dando a natureza correr seu curso, o rei era
todo ouvidos para o seu nobre ajudante,
que recebia pleitos e pedidos de todo o
reino. Era inuentíssimo.
A etimologia é sempre muito divertida e
rende ótimas conversas em volta da mesa
do bar. Mas a língua é dinâmica e, confor
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me o tempo passa, as palavras vão ganhan-
do sentidos e conotações novas. Por isso, a
origem do termo tem para nós hoje menos
relevância do que os sentidos que a palavra
foi ganhando em alguns círculos. Principal
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mente a partir da Operação Lava-Jato –
mas, sejamos justos, também amplamente
antes dela – o termo lobista se popularizou
para designar aqueles que cometiam crimes,
principalmente o pagamento de propinas
e concessão de vantagens indevidas, para
avançar as agendas de seus interesses junto
a governos.
Matéria da Folha de S.Paulo, de 16 de março
de 2006, vai além e detalha a existência de
uma “casa do lobby”, no Lago Sul de Brasília,
onde eram negociados os pagamentos e a
corrupção entre representantes do governo
e empreiteiros. Conforme os escândalos
foram sendo descobertos e investiga-
dos, veio a enchurrada de manchetes com
pequenas variações sobre o tema “lobista
preso”, “lobista depõe”, “lobista faz acordo”
e por aí vai. Hão de concordar que a pala-
vra correta nestas manchetes deveria ter
sido “criminoso”, “corrupto” ou, quando na
dúvida, no máximo, “acusado”. Jamais lo-
bista. Mas a moda pegou.
Para aqueles de nós que praticam a profis
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são conforme definida por Saïd Farhat como
“atividade organizada, exercida dentro
da lei e da ética, por um grupo de interesses
definidos e legítimos, com o objetivo de
ser ouvido pelo poder público para infor
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má-lo e dele obter determinadas medidas,
decisões, atitudes”, essa virada gramatical
pode ser fruto de considerável desconforto.
Alguns prossionais preferem lançar mão
de títulos alternativos, como Relações Ins
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titucionais e Governametais (RIG), Defesa
de Interesses, Advocacy e ans. Mas há
também aqueles que trabalham em prol da
normalização da palavra lobby e apresentam
as suas credenciais de lobistas com orgulho.
Num momento em que vem sendo discutida
a regulamentação da prossão, a nomencla
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tura é também de extrema importância.
Lobby: “atividade organizada,
exercida dentro da lei e da ética,
por um grupo de interesses
denidos e legítimos, com o
objetivo de ser ouvido pelo poder
público para informá-lo e dele
obter determinadas medidas,
decisões, atitudes”.
Saïd Farhat