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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
Expediente #01 – Março - 2022
DIÁLOGOS IRELGOV é uma publicação
do Instituto de Relações Governamentais
(IRELGOV) Rua Funchal, 203 – cj. A4
Vila Olímpia – São Paulo – SP
CEP 04551-904
Fone: +55 11 98536-0012
E-mail: irelgov@irelgov.com.br
Conselho Deliberativo
Suelma Rosa (presidente)
Fabio Rua (vice-presidente)
Anna Paula Losi – Nacionalização & Entes

Creomar de Souza – Ensino & Pesquisa
Diego Bonomo – Internacionalização &
Parcerias Internacionais
Helga Franco – Diversidade & Inclusão
Juliana Celuppi – Empreendedorismo &
Transformação Digital
Valeria Rossi – Comunicação & Advocacy
Wagner Parente – Jurídico & Marco
Regulatório
Diretoria de Comunicação
Gisela Antakly Martinez
Conselho Editorial
Fabio Rua
Gisela Antakly Martinez
Valeria Rossi
Coordenação Editorial
Gisela Martinez
Valeria Rossi
A revista Diálogos IRELGOV é editada pela
Arteiras Comunicação
Rua Conde de Baependi, 39/ 502 – Flamengo
Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22231-140
Tel: (21) 99913 4464
E-mail: irelgov@arteiras.com.br
Jornalista Responsável
Luiza Paula Sampaio (MTb 17.043)
Colaboraram nesta edição
Alexandre Aragão, Ana Beatriz Graça, Daniel
Marcelino, Fernando de Moraes, Gisela
Martinez, Guilherme Magalhães, Iolanda
Vieira, Kalleo Coura, Laura Diniz e Laura Ming
Suporte
Márcia Rosa
Copyright © IRELGOV 2021 – Permitida a
reprodução desde que citada a fonte.

dar sentido aos conhecimentos e reverberar mensagens sobre nossa atividade
estão no cerne da missão do Eixo de Comunicação e Advocacy do IRELGOV.
Este número da Revista Diálogos faz isso e muito mais. Capitaneada por Gisela
Martinez, Diretora de Comunicação do IRELGOV e proprietária da Antakly

do IRELGOV e Head de Relações Institucionais e Governamentais da ExxonMobil,

muito orgulho.
Nas próximas páginas abordamos o RelGov 4.0, que cria caminhos para conectar

que cada vez mais gente participe do debate público.
Esta edição reúne vários amigos, que gentilmente partilham seu conhecimento
com nossos leitores. Vivemos um novo tempo para contar histórias, em que
precisamos estar atentos à qualidade da informação, fortalecendo cada vez mais
nossas redes de trocas, que tanto nos ensinam e nos protegem.
             
durante a preparação destes textos, mesmo nos encontrando exclusivamente
          

nos encontrarmos ao vivo.
Muito já se falou sobre as mudanças que o trabalho remoto trouxe para nossas


mais embasada em métricas e demandando capacidade analítica para alcançar
resultados em que todos saem ganhando - o que vem nos tornando cada vez mais
imprescindíveis na implantação das agendas ESG nas empresas.
É assim o RelGov 4.0.
Boa leitura!
Gisela Martinez e Valéria Rossi
EDITORIAL
Nesta edição
03
08
10
18
Congresso internacional debate relações
governamentais
Da maçaneta à massa de dados
O futuro do país na sua telinha
RADAR
CAPA
ANÁLISE
Editorial
2
O engajamento da
sociedade civil nos
debates setoriais
fortalece a
democracia 22
Pesquisas eleitorais
são fotos, agregadores
transformam
 26
O cidadão
 29
O uso de dados em
um planejamento
assertivo 31

RelGov em empresas
disruptivas de
tecnologia 34
Tripé ESG acarreta
mudança comportamental
e técnica do

RelGov 36
Novos associados 39
Conexão dará mais valor à voz das pessoas
PÁGINAS AMARELAS
3
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
O IRELGOV (Instituto de Relações Gover-
namentais) realiza em 19 e 20 de maio o II
Congresso Internacional de Relações Gover
-
namentais. O evento promoverá o debate
acerca da geração de valor da atividade de re
-
lações governamentais e institucionais para
empresas, sociedade em geral e o fortaleci
-
mento da democracia. O formato será híbrido
- a maior parte participará virtualmente.

RIG, de sêniors a iniciantes, pesquisadores,

-
teresse em RIG e representantes da mídia. Os
participantes terão a oportunidade de mape
-
ar tendências e práticas em diferentes merca-
dos, fazer networking e se aproximarem de di-
ferentes áreas de conhecimento transversais
à atividade de RelGov.
Entre os temas estão novidades em ferra
-
mentas de gestão, uso de plataformas online
e redes sociais em estratégias; melhores prá
-
ticas em ética, regularidade, transparência
e responsabilidade; governança corporativa
como forma de geração de valor para os ne
-
gócios; lobby & advocacy e o aprendizado com
estratégias e práticas diferenciadas no mun
-
do e capitalismo de partes interessadas, ESG
e diálogos com a sociedade.
A presidente do IRELGOV, Suelma Rosa, res
-
salta que o instituto é um local de debate de
ideias e construção coletiva de conhecimen
-
to. “Por isso o Congresso é tão importante,
uma oportunidade de nos reencontrarmos
para debater as aceleradas mudanças que
se cristalizaram nos últimos tempos com os
avanços da tecnologia e a inesperada pande
-
mia. Segundo Suelma, agora entramos de-
     
de trabalho ainda desconhecidas e uma nova
agenda de discussão. “O congresso passou a
ser internacional, pois as transformações em

estrangeiros que nos ajudarão a pensar nossa
atividade em múltiplos mercados. Estou cer
-
ta de que seremos capazes de formatar um
novo jeito de desenvolver essa atividade tão
importante para a consolidação da democra
-

O evento será na Amcham (American Cham
-
ber of Commerce for Brazil – Câmara Ame-
ricana de Comércio para o Brasil), na Rua da
Paz, 1431 - Chácara Santo Antônio.
Informações e inscrições no site do evento
www.comarteventos.com/2022/irelgov
-
congresso.
RADAR
Congresso internacional debate
relações governamentais
4
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
Conheça cursos com benefícios e
descontos para associados do IRELGOV
O IRELGOV possui parcerias que possibilitam
aos nossos associados descontos em diversos
cursos relevantes na área de relações gover-
namentais. Um deles foi lançado em fevereiro
deste ano, em parceria com o Conexão RIG.
O grupo fechado é composto por mais de 50

e atualizado toda a semana sobre lobby, advo-
cacy, relações governamentais, planejamento
estratégico, mapeamento de stakeholders,
análise de risco e muito mais. Associados
IRELGOV têm direito a 20% de desconto na
assinatura.
Além disso, o Instituto mantém parceria com
o Briyah Institute. Nossos associados terão
20% de desconto para fazer o curso CEO Meet
& Master. O objetivo do programa é unir ino
-
vação, prática e propósito para inspirar líde-
res no sentido de transformar organizações
que co-criam uma economia de impacto.
Os associados também podem aproveitar o
desconto de 15% no Insper, no curso de Re-
lações Governamentais no Brasil, que faz
parte do programa de Educação Executiva
do instituto e propicia um ambiente de troca
de experiências e inspiração para montar es-
tratégias adequadas para conquistar aliados
internos, viabilizar parcerias externas e con-
quistar a atenção e o respeito do governo.
Com a ESPM (Escola Superior de Propaganda
e Marketing) o IRELGOV possui um acordo de
produção do podcast Transformagov e tam-
bém parcerias para a realização de eventos
conjuntos.
RADAR
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
De 9 e 10 de março, lideranças das maiores
empresas brasileiras e multinacionais da área
de tecnologia se reuniram durante o “9° Con
-
gresso de Inovação da Indústria” para debater
avanços e desafios da inovação. Um dos maio
-
res eventos do gênero na América Latina, o
evento foi realizado pela Confederação Nacio
-
nal da Indústria (CNI) e pelo Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Se
-
brae) e contou com o apoio do IRELGOV.
Por conta da pandemia de Covid-19, esta edi
-
ção foi realizada em formato brido, em São
Paulo (SP). por meio de uma plataforma com
capacidade para mais de 15 mil acessos simul
-
tâneos, que permitiu que o congresso fosse
acompanhado de qualquer parte do mundo.
Na arena virtual, os participantes tiveram a
oportunidade de passear virtualmente pelo es
-
paço em 3D. Além disso, a plataforma contou
com um espaço para networking que permitiu
reuniões em tempo real. Nos dois dias de even
-
to foram debatidos o que há de mais moderno
em termos de tecnologia em 40 painéis com
26 palestrantes internacionais, de 15 diferentes
países.
O congresso foi idealizado pela Mobilização
Empresarial pela Inovação (MEI), criada pela
CNI, reunindo cerca de 400 CEOs e lideranças
das principais empresas com atuação no Brasil.
RADAR
IRELGOV apoiou evento de inovação
na indústria
Foto: Reprodução YouTube CNI
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
A Editora Diálogos tem uma nova diretora-
executiva: Mariana Chaimovich, que terá o de-
  -
mos projetos da casa. A editora foi criada para
estimular a produção de publicações técnicas
-
sional de relações governamentais.
Advogada, doutora pelo Instituto de Relações
Internacionais da Universidade de São Paulo
(USP) e mestre em Direito Internacional, tam-
bém pela USP, Mariana é consultora em rela-
ções governamentais e exerce, atualmente, o
cargo de legal advisor no Instituto de Estudos
Estratégicos de Tecnologia e Ciclo de Nume-
rário (ITCN).
Nova diretora na Editora Diálogos
Planejamento estratégico 2022-2026
O IRELGOV concluiu a elaboração de seu pla-
nejamento estratégico para o período 2022-
2026. A entrega foi realizada em duas reuni
-
ões – uma com conselheiros e diretores, outra
com associados. O principal objetivo do pla
-
nejamento, que foi conduzido pelo conselhei-
ro Diego Bonomo e pela diretora Lara Gurgel,
é estabelecer a estratégia e os processos ne
-
cessários para alavancar o papel do instituto
comothink tank” com foco na produção e
difusão de conhecimento sobre relações go
-
vernamentais e políticas públicas. Nos próxi-
mos três meses, os eixos temáticos trabalha-
rão para realizar as primeiras entregas, que
incluem a elaboração do mapa de “stakehol
-
ders” do IRELGOV; a construção de um plano
de vendas do instituto; a estruturação de um
processo de gestão de projetos para todas as
iniciativas em andamento e futuras; e o cro
-
nograma para a criação e publicação da pri-
meira edição da Agenda de Relações Gover-
namentais e Políticas Públicas, o documento
que orientará a produção de conhecimento
do IRELGOV.
RADAR
Foto: Arquivo pessoal
8
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
Como sócio e presidente do conselho adminis-
trativo da GP Investiments, o engenheiro Fersen
Lambranho participou da construção da internet
no Brasil. Segundo ele, a população brasileira
chega a ser irracional no seu consumo para ter a
individualidade de um celular. “Celular e escova
de dente, cada um tem o seu”, diz.
      block
-
chain provocarão mudanças sociais profundas e
permitirão “construir impérios com poucos re
-
cursos no mundo digital”.
Na conversa a seguir, Lambranho relaciona seu
entusiasmo com o blockchain à conservação am
-
biental e ao futuro da agenda digital do país.
Leia a entrevista:
Para as empresas, quais são os principais ris
-
cos e oportunidades que se colocam numa so-
ciedade cada vez mais conectada?
Eu tenho a lista telefônica do Rio de Janeiro de
1905, em que o maior anunciante era um produ
-
tor de celas para cavalos. Não é surpreendente
que uma tecnologia disruptiva como o telefone
tenha como seu maior promotor algo tão arcai
-
co?
O risco dos negócios está sempre em não enten
-
der a sua real missão e se perder entre tantas
inovações. Quando a Kodak foi criada, diziam
no board que o importante era ter a simplicida
-
de de uma caneta, e eles esqueceram disso ao
longo dos anos. Criaram a máquina digital, mas
esqueceram que as pessoas trocaram a caneta
do bolso da camisa por um telefone digital. E um
telefone digital é, na verdade, uma câmera de
fotografar que também permite comunicação.
A Kodak acabou, apesar de estar presente em
qualquer birosca do planeta. A fantástica máqui
-
na de distribuição que construíram ruiu.
Nessa nova sociedade da web 3.0, a voz do sujei
-
to comum terá mais valor e o risco é as empresas
e os governos não entenderem esse fato.
A oportunidade está na possibilidade de cons
-
truir impérios com poucos recursos no mundo
digital. Uma empresa que tem capacitações em
  
mais facilidade, atingindo um público maior e

-
to novo e resolva oferecer, a seus consumido-
res iniciais, tokens — frações de um contrato de
blockchain — que permitam participar de forma
Conexão dará mais valor à
voz das pessoas
PÁGINAS AMARELAS
8
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
Fersen Lambranho
Sócio e presidente do conselho
administrativo da GP Investiments
Foto: Arquivo pessoal
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
automática do ganho do produto, além de opi-
nar e até mesmo votar em alterações, pode estar
construindo uma maneira de ter funding barato,
pesquisa de mercado contínua e gratuita e ain
-
da promotores do produto, que é a melhor pro-
paganda: o boca a boca. Você integrou a cadeia
e pode estar criando vantagens competitivas
enormes em relação a companhias tradicionais
porque a comunidade daquele produto é mais

Qual é o papel da conectividade em um futuro
em que tudo será mensurável e registrado no
blockchain?
As coisas se somam. Você vai ter a IoT [“internet
of things”, em inglês, “internet das coisas”], que
é conseguir coletar dados de objetos, seja uma
geladeira, seja a catraca do metrô. Você tem o
5G, que vai dar velocidade ao uso móvel, mas não

Porque não adianta ter um bando de dados se
você não consegue fazer correlações e chegar a
conclusões.
E aí você pega esse negócio e coloca em cima do
blockchain. Um contrato pode passar a ser vivo.
Consigo chegar a correlações e posso ter contra
-
tos que dizem o seguinte: quando tal parâmetro
chegar a tal patamar, cai o preço. Isso tudo cami
-
nha para uma redução brutal do risco dos contra-
tos. Brutal. Porque o contrato deixa de ser está-
tico e passa a estar vivo, se autoalimentando do
mundo que está evoluindo. O contrato começa
a ter vida própria, reduzindo custos. Você pode
pegar os dados sem que o homem tenha que
trabalhar para isso, porque acontece no nível do
processamento automático.
Eu não estou dizendo que vai acontecer de o


Só estou dizendo que, pela primeira vez na histó
-
ria, existem os instrumentos para exercitar essas
coisas na plenitude. É uma grande evolução. Se
as pessoas vão usar, se os países vão adotar e
querer isso, eu não vou debater. A diferença é
que passa a ter como fazer. No passado, para
que a lei fosse cumprida, era necessário muito
custo, muito esforço físico, muito esforço huma
-
no, muita consciência. Na medida em que cami-
nhamos para um processo como o que eu des-
crevo, pode ser meio que automático.
Essa lógica tem a ver com a perspectiva do bi-
ólogo italiano Stefano Mancuso, que estabe-
lece a ideia de “democracia vegetal”.
Você fez uma relação perfeita. O Mancuso dá

-
te esquece que os vegetais são seres vivos, e ele
coloca muito bem que os vegetais decidiram em
algum momento da evolução que seriam imó
-
veis, e eles vivem centenas, milhares de anos.
Enquanto nós, seres móveis, vivemos dezenas. A

existe proteção mútua entres as plantas, que é
um processo automático do ponto de vista hu
-
mano.
Mas do ponto de vista das plantas demanda
energia, uma coordenação também com os
fungos.
É perfeita essa visão. Adicione o fato de que o
      
quando você olha as populações originais do
Brasil. Elas convivem e entendem essa lógica —
inclusive, e talvez por esta razão, o conceito de
privacidade seja muito diferente. O conceito de
vida em comunidade é muito diferente.
PÁGINAS AMARELAS
Não estou dizendo que vai acontecer de o
mundo ficar mais justo. Mas pela primeira
vez na história, existem os instrumentos
para exercitar essas coisas na plenitude
Fersen Lambranho
Ainda presente no imagi-
    
que atua com base só em
relacionamentos foi subs
-

multidisciplinar e analítico,
capaz de construir coali
-
sões em que a sociedade
também sai ganhando.
Em 2018, os negócios da Boeing estavam vo-
ando. Naquele ano, pela primeira vez em sua
história de mais de um século, a empresa su
-
perou a marca de dois aviões entregues por
dia a clientes em todo o mundo.
O mais vendido da frota era o recém-lança-
do Boeing 737 Max, equipado com motores

-
res para as companhias aéreas.
Mas o céu de brigadeiro começaria a se fe
-
char em outubro, com a queda do voo Lion
Air 610, na Indonésia, e em março do ano
seguinte, em uma tragédia quase idêntica,
quando outro 737 Max, desta vez da Ethio
-
pian Airlines, mergulhou para o chão sem o
controle do piloto e sem explicação eviden
-
te a princípio.
Ao todo, nos dois acidentes, 346 pessoas
morreram. O documentário “Queda Livre:
A Tragédia do Caso Boeing” (2022), lançado

executivos omitiram informações de agên
-
cias regulatórias com o objetivo de colocar
o 737 Max no mercado mais rapidamente,
minimizando em documentos uma novida
-
de chamada MCAS (“Sistema de aumento de
características de manobra”, na sigla em in
-
glês), que demandaria treinamentos para os
pilotos e aumentaria o custo para as compa
-
nhias aéreas.
Após o primeiro acidente, a Boeing contra
-
-
xar na imprensa a narrativa de que a culpa
havia sido do piloto — estratégia inicialmen
-
te bem-sucedida, mas que ruiu assim que o
segundo acidente aconteceu em circuns
-
tâncias quase idênticas, indicando falha no
projeto da aeronave. Só então autoridades
regulatórias proibiram que o modelo voas
-
se em todo o mundo. De acordo com o do-
cumentário, esta situação só foi possível
porque executivos da Boeing priorizaram

-
gurança durante anos.
Da maçaneta à massa de
dados
CAPA
10
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 1 - Março
11
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
Segundo Sergio Lazzarini, professor titular
“vai che
-
gar o momento em que a gente vai ter que
abdicar de lucro. Falar: essa linha eu não cru
-
zo. Cada empresa vai estabelecer esse limite
e todos [os colaboradores] devem estar ali
-
nhados”, com foco na relação entre o setor
público e privado. “A Boeing cruzou a linha.”
-
za a relação entre empresas, políticos e insti-
tuições públicas, detalhando campanhas em
redes sociais, reportagens investigativas na
mídia e a coordenação entre parentes das
vítimas, pressões que levaram a uma inves
-
tigação no Congresso dos Estados Unidos,

-
nal para a Boeing.

para a orientação estratégica da empresa.
O que eu quero ser?”, questiona Lazzarini.
E completa citando um objetivo ideal: “uma
empresa que, no longo prazo vai ter negó
-
cios, lucrar e ter interação com o sistema po-
lítico, porém sempre buscando boas iniciati-
vas, boas ações”.
Para o professor do Insper, não se trata de
“abandonar os interesses da empresa e do
político, porque senão estaríamos no mun
-
do da fantasia”. Mas, sim, de buscar sempre
o ganha-ganha-ganha — buscar vantagens
para a empresa, para o político e também
para a sociedade como um todo. A tese do
triple win” foi detalhada em artigo no JOTA,
por seus criadores: Lazzarini, Milton Selig
-
man e Carlos Melo.
  
calcava sua atuação apenas em relações

-
mente — conhecido no passado como “ma-
çaneta”. 
institucionais e governamentais (RIG) exige
compreensão das relações sociais, além de
capacidade técnica para planejar e avaliar as
ações. “Falar em impacto social ou ambiental
requer estudos e análise”, resume Lazzarini.
“Não é chegar e simplesmente falar que tal
setor precisa de isenção tributária porque
caso contrário vagas de emprego serão fe
-
chadas.”
Intérprete e educador
Andréa Gozetto, fundadora do #Conexão
-
RIG e coordenadora acadêmica do MBA em
relações governamentais da Fundação Getu
-
lio Vargas (FGV), argumenta que a capacida-
de de observação e a escuta ativa são essen-
ciais. Ela cita o artigo acadêmico “The Ideal
Lobbyist: Personal Characteristics of Eective
Lobbyists” (“O Lobista Ideal: Características

McGrath, da Universidade de Ulster (Irlanda
do Norte), feito com base em entrevistas
   
-
las, Londres e Washington.

mesmo tempo um intérprete e um educa
-
dor”. “Essa pessoa interpreta o ambiente
externo para o ambiente interno — e vice-
-versa. É ela que vai educar tanto o público
interno como o público externo”, diz Gozet-
to. A professora da FGV resume: “Como você
sabe se o interlocutor está te falando um
‘não’ cifrado, se você não ouve?”
CAPA
Não se trata de abandonar os interesses
da empresa e do político, porque senão
estaríamos no mundo da fantasia”
Sergio Lazzarini
12
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
Mas ela faz uma ressalva: “A gente cai na
      
Relgov é sempre aquele que atua na repre
-
     
que faz backoce, precisa de habilidades
diferentes do que fala com stakeholders.”

tem todas as habilidades e competências”.
“É importante construir uma equipe comple
-
mentar.”
  
-
nais e Governamentais) não pode depender
só do relacionamento. E, no passado, esse
relacionamento às vezes era confundido
head de
políticas públicas do iFood para a América
Latina e professor de relações institucionais
e governamentais na Universidade Presbi
-
teriana Mackenzie. “A gente precisa de aná-
lise de dados, construção de coalisões com
parceiros diversos, noções de comunicação,
noções de ciência política, antropologia e
sociologia”, ele continua.
Advogado de formação, antes de trabalhar
no setor privado Felipe Daud atuou como
assessor jurídico e chefe de gabinete na Se
-
cretaria de Assuntos Jurídicos da Presidên-
cia da República, de 2011 a 2015. “Acima de
tudo, eu diria que, trabalhando em empre
-
sas, a gente precisa aderir à cultura corpo-

separada, que faz algo obscuro para o resto
[da empresa]. É uma área que tem metas,
que apoia outras áreas quando ela precisa
dialogar com stakeholders e gera muito va
-
lor, seja reduzindo custos, seja em termos de
reputação”, conclui.

da maçaneta, o do relacionamento apenas,
algumas questões passaram a ser muito im
-
portantes”, diz Denilde Holzhacker, diretora
de ensino e pesquisa do IRELGOV e coorde
-
nadora-geral de pesquisa e pós-graduação
stricto sensu da Escola Superior de Propa
-
ganda e Marketing (ESPM). “Uma delas é ga-
rantir que as ações da empresa representam
de fato interesse público, acho importante
isso até por uma pressão da sociedade”, diz.
Estratégia
Para planejar estratégias que estejam ali
-
nhadas à gestão da organização, é neces-
sário “entender quais fatores e elementos
impactam as decisões de negócio e têm im
-
    
mesmo sentido, Felipe Daud defende que é
CAPA
Felipe Daud
Head de políticas públicas do iFood para a América Latina
e professor de relações institucionais e governamentais na
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Denilde Holzhacker
diretora de ensino e pesquisa do IRELGOV e
coordenadora-geral de pesquisa e pós-graduação
stricto sensu da Escola Superior de Propaganda e
Marketing (ESPM)
Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal
13
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
CAPA
fundamental compreender “a dinâmica, os
incentivos que os parlamentares têm quan
-
do apresentam projetos de lei”.

-
-
ender não só “o cenário político, o cenário
legislativo, a organização do governo”, mas
“de que forma esses stakeholders afetam os
principais interesses das empresas, associa
-
ções, setores econômicos e da sociedade em
geral”, continua a professora da ESPM.
As mensagens que serão difundidas tanto
em público como para stakeholders especí
-

de quem está sendo defendido representa
também o interesse público e exige uma
ação em termos públicos”.
“É olhar para o que está acontecendo na
empresa, entender o que está se passando
na sociedade e fazer essa interligação”, de
-
fende Holzhacker. “Uma análise prospectiva,
não só o que está na agenda, mas quais po
-
dem ser temas futuros que podem impactar
a organização ou o setor representado.”
Para Felipe Daud, “a pandemia tornou o con-
tato com os stakeholders muito diferente,
tirou uma proximidade que você consegue
estabelecer na relação pessoal, presencial,
que é importante para construir relaciona
-
mento”.

-
locidade que colocou — com medidas res-
tritivas — tornou isso ainda mais saliente. A
gente conseguiu manter excelente contato
14
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
CAPA
com diversos stakeholders, mas o presencial
é muito melhor, por permitir maior aproxi
-
mação.”
A atuação explícita na defesa de políticas
públicas ainda é vista como tabu por parte
das organizações. “Tudo depende de como
essa empresa se posiciona na esfera públi
-
-
zetto. “As empresas nem sempre acreditam
que possuem a legitimidade necessária para
     
-
ciando esse ciclo. Ainda têm muito medo de
represália, porque infelizmente há uma hi
-
pocrisia.”
Mais uma vez, a ideia se conecta à governan
-
ça da organização: “Na agenda ESG, o pro-
      
importante para trazer para a empresa esse
papel de mais ativismo de discussão e pro
-
     

-
vernamentais tem que atuar como formu-
lador de políticas públicas. Não tem mais
desculpas, os dados estão disponíveis”, con
-
corda Sérgio Lazzarini, do Insper.
Big data a serviço do raciocínio

-
sionais de RIG facilidades que, há uma dé-
cada, seriam impensáveis. Análises sobre o
andamento de milhares de projetos de lei,
em dezenas de Casas Legislativas — que
antes demandavam pessoas em várias ci
-
dades —, agora podem ser produzidas por

-
nidos. Principalmente com a tendência de
que a experiência humana seja cada vez mais
mensurável. Mas não adianta ter respostas à
disposição se a empresa não está fazendo as
perguntas certas.
Quanto mais informação gerarmos, mais

-
dréa Gozetto. “Hoje em dia temos uma es-
pécie de fetiche de dados, as pessoas acham
que ter informação é ter poder. Mas não. Ter
conhecimento — a análise e o sentido que se
dá às informações — é poder. A capacidade
de predizer, de construir cenários.” Para ela,
big data é um caminho sem volta, mas não é
uma panaceia”.
À frente da área de políticas públicas do
iFood, uma empresa com atuação capilar,
Felipe Daud lidera uma equipe que acompa
-
nha projetos de lei e ações do Executivo em
dezenas de cidades. “No âmbito municipal,
as Casas têm ritos e regimentos diferentes,
além de sistemas informatizados diversos.
A gente acaba contratando prestadores de
serviço que padronizam um pouco esse pro
-
cesso para nos gerar métricas como o índice
de criticidade”, ele explica. “A gente acom
-
panha não só o impacto do conteúdo do pro-
jeto, mas também qual é a possibilidade de
ele ser aprovado, analisando o trâmite legis
-
lativo.”
       
estratégias, a massa de dados disponível
também é fundamental para mostrar inter
-
namente à organização o impacto da área

qualquer outro tipo. No iFood, segundo
Daud, a metodologia de OKRs (“objectives
and key-results”, em inglês, objetivos e resul
-
tados-chave) é usada para construir métricas
Quanto mais informação gerarmos, mais
importante é o profissional de RIG”
Andréa Gozetto
15
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
CAPA
conjuntas entre a área de políticas públicas e
outras da empresa.
As mais comuns, segundo o executivo, são
com as áreas jurídica e de comunicação,

com a de logística: a construção de pontos
de apoio para entregadores do aplicativo
em capitais como Fortaleza e São Paulo. “A
métrica é certamente importante, mas tem
um elemento subjetivo, de ter um relaciona
-
mento, uma rotina de engajamento, que dá

Daud, ressaltando que a iniciativa envolve os

-
vidos.
Os entrevistados concordam que a atitude
mais ativa por parte de empresas na defe-

de uma decisão estratégica, ecoando o ra
-
ciocínio de ganha-ganha-ganha. “No cenário
brasileiro, em função do alto ativismo legis
-
lativo e forte presença regulatória, o pro-
       
ações defectivas”, diz Denilde Holzhacker,
da ESPM.
A busca por uma conexão maior com os an
-
seios e interesses da sociedade passa, tam-
bém, por maior diversidade no setor, aspec-
to cada vez mais presente nos processos
seletivos. “A gente precisa melhorar esse
mercado”, resume Felipe Daud, que coorde
-
na o curso de relações institucionais e gover-
namentais no contexto corporativo, na Uni-
versidade Presbiteriana Mackenzie. “A gente
tem trazido isso no curso e distribuído bol
-
sas de estudo, no mínimo metade para mu-
lheres, pessoas pretas e LGBTQIA+”, ele diz.


-
ção da área nas principais empresas. Esta-
mos prontos para uma era com novos cases
ganha-ganha-ganha.
Aperfeiçoar as relações governamentais no
país por meio da capacitação dos futuros
     
Sigalei/ ESPM (Escola Superior de Propa
-
ganda e Marketing), voltado para contribuir
     
de Relações Institucionais e Governamen
-
tais (RIG). É resultado de um relacionamen-
to de longa data entre as duas instituições
que, desde 2016, promovem ações conjun
-
tas.
Para Marcello Fragano Baird, professor no
curso de Relações Internacionais da ESPM
e um dos coordenadores do curso, a insti
-
tuição tem muito interesse em fazer essa
aproximação com o mercado de trabalho
para estabelecer vínculos e dar um caráter
prático às suas disciplinas. “É especialmen
-
te interessante para os alunos quando a
parceria é com a Sigalei, pois ela disponibi
-
liza uma ferramenta importante de monito-
ramento e inteligência política.
Desta forma, eles já entram em contato
com algo que eles terão que operar quan-
do ingressarem no mercado”. Ivan Ervolino,
cofundador e diretor de estratégia da pla
-
taforma de inteligência política e regula-
tória Sigalei, acrescenta: “Nossa meta con-
siste em melhorar a qualidade do debate
das relações governamentais no país. Uma

quem está chegando ao mercado. Investir
em estudantes é a nossa forma de contri
-
buir para um melhor ambiente de atuação”,
diz.
Podem participar do prêmio alunos do cur-
so de Relações Internacionais (RI) da ESPM.
Até agora, as inscrições estavam restritas
aos que escolhiam a trilha chamada de mi
-
nor em relações governamentais dentro do
Marcello Fragano Baird
Professor no curso de Relações
Internacionais da ESPM
Uma ponte entre universidade e mercado
CAPA
16
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 1 - Março
Foto: Arquivo pessoal
17
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
curso de RI. “A partir desse segundo semes-
tre de 2022 vamos expandir, todos os alunos
do curso que estão no quinto semestre po
-

       
analisar os stakeholders envolvidos, avaliar
as chances dele ser aprovado e pensar nos
cenários e nas estratégias de atuação em
relação a ele. “Para tal, as equipes exploram
as diversas funcionalidades das ferramentas
do Sigalei de análise de tramitação e posicio
-
namento dos parlamentares sobre o tema”,
explica Marcello Baird. Os trabalhos passam

-
nais do Sigalei e por professores da ESPM.
Como prêmio, as equipes vencedoras (pri
-
meiro e segundo colocados) ganham um cur-
so no Pensar RelGov e têm seus trabalhos
publicados no blog do Sigalei, o que propor
-
ciona uma boa visibilidade junto ao merca-
do”, ressalta Ervolino.
O diretor do Sigalei acredita que os estudan
-
 -
tentes, até mesmo pela relação que eles têm
com a tecnologia. “Certamente não terão
    
como big data, softwares de análise de ce
-
nários e métricas”, aposta Ivan. A avaliação é
compartilhada pelo professor da ESPM, que
concorda que a capacidade de aproveitar os
benefícios da tecnologia é um diferencial.
Não há mais necessidade de coletar informa
-
ções manualmente, os aplicativos realizam

podem dedicar mais tempo à parte analítica.
Claro que competências como capacidade
de avaliação, diálogo e resiliência continu
-
     
do segmento, mas a tecnologia oferece van
-
     
oportunidade de ter contato com essa nova
realidade”.
Se você se interessou pelo prêmio e
quer conhecer mais, clique aqui.
Ivan Ervolino
Cofundador e diretor de estratégia da
plataforma de inteligência política e
regulatória Sigalei
CAPA
17
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 1 - Março
Foto: Arquivo pessoal
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
O futuro do país na sua telinha
ANÁLISE
18
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 1 - Março
Poucos duvidam de que as eleições de 2022
serão uma das mais acirradas dos últimos
tempos. As ideias divergentes que domina
-
ram o pleito de 2018 ganharam ainda mais
força e os dois blocos com maior peso no es
-
pectro político nunca estiveram tão distan-
tes, com possibilidades de diálogo pratica-
mente nulas.
Em um cenário de disputa concorrida, todas
as ferramentas disponíveis serão utilizadas
e as que circulam pela internet certamente
terão destaque. Se em 2018 as mídias sociais
causaram surpresas e foram um dos princi
-
pais fatores responsáveis pela eleição de um
candidato com pouca presença na mídia tra
-
dicional, é lógico imaginar que, quatro anos
   
entre outros, seja ainda maior.
As recentes mudanças de hábitos de consu
-

tradicionais perdessem espaço. Internet,
aparelhos celulares – no Brasil há mais de
um por habitante – e mídias sociais como
Facebook, Twitter, Instagram e YouTube
formam um coquetel poderoso, que pro
-
porciona grande capilaridade e alcance aos
usuários, com custos muito baixos quando
comparados a TVs e jornais. Além disso, per
-
mitem maior feedback aos emissores das
mensagens, proporcionando condições para
     
otimizando recursos e garantindo correções

cheio no público-alvo.
O problema do milagre da democratização
dos meios de comunicação, que permite que
candidatos com poucos recursos levem sua
mensagem a um grande número de pessoas
é que, muitas vezes, as pessoas que operam
esses veículos não seguem as regras éticas
     
-
      -
cias e focam em aspectos sensacionalistas
dos fatos, que garantem maior visibilidade.
Um dos riscos é a desinformação, que deve
constituir um dos principais problemas des
-
ta eleição. Basta nos lembrarmos de como
ela afetou o combate contra a Covid-19, com
informações desencontradas, boatos e no
-
tícias claramente falsas. Certamente alguns
pagaram o preço máximo por acreditarem
nessas matérias – com a própria vida.
A situação piora quando se trata dos aplica
-
tivos de mensagens, como o Whatsapp. Em
19
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
2018, foram utilizados de forma inovadora
por alguns candidatos. Na próxima eleição,
não apenas serão usados novamente, como
deverão ganhar novas estratégias, que am
-

controlar o que circula nesses aplicativos.
Responsabilizar os autores então, é ainda
mais complicado.
E o que será feito para evitar os danos? Em
termos de controle do Poder Público, foram
criados mais instrumentos jurídicos desde a
última eleição. Recentemente, o TSE (Tribu
-
nal Superior Eleitoral) editou uma resolução
que proíbe a divulgação de fatos não-verda
-
deiros. Também vetou o envio em grande
quantidade em aplicativos de mensagens
sem autorização dos destinatários. A ideia
é controlar mensagens falsas e campanhas
que detratem a imagem dos adversários. O
tribunal prevê como punição máxima a cas
-
sação da candidatura.
Mas em um mundo pós-moderno, as rela-
ções líquidas ultrapassam a esfera da vida
pessoal e se impõem também ao ambiente
político. A conexão entre eleitor e candidato
tende a não se basear em ideologias comuns

-
dias sociais atribuem aos políticos.
Cabe aos eleitores conscientes a busca por

recebem ou às quais são expostos. Há me
-
canismos para isso, como agências de che-
     -
pacitados para informar sobre a veracidade
dos dados. Nesse momento, vale o conselho
que recebemos em casa desde criança: “Não
acredite em tudo que falam para você”.
ANÁLISE
20
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
Sérgio Lüdtke é editor do Projeto Comprova,
uma iniciativa surgiu em 2018 como resulta-
do de uma série de conversas que reuniram
veículos, plataformas e a First Draft, uma
organização que atua contra a desinforma-
ção internacionalmente e que já havia coor-
denado iniciativas semelhantes na França,
nos EUA e no Reino Unido. “Naquele ano,
24 organizações jornalísticas se uniram sob
a liderança da Abraji para trabalhar colabo-
rativamente e, seguindo uma metodologia
clara e transparente, contra a disseminação
de conteúdos falsos ou enganosos”.
     
conteúdos suspeitos, publicados por cida
-
dãos comuns sobre as eleições presidenciais
e que obtinham grande alcance nas redes
-
pos disseminadores de desinformação. Des-
de então o escopo foi ampliado: hoje o Com-

associados a políticas públicas no âmbito fe-
deral e à pandemia de Covid-19.
A metodologia consiste em selecionar, entre
os conteúdos suspeitos dentro do escopo,
os que estão obtendo maior alcance e en
-
gajamento nas redes sociais. Isso faz com
    
semanalmente. “Mas em período eleitoral
esse número aumenta”, ressalta Sérgio. Esse
trabalho conta com o apoio da tecnologia,
com o uso de softwares para monitoramen-
to e processamento das listas de conteúdos
monitorados. “Estamos desenvolvendo um
robô para automatizar parte do nosso aten-
dimento por WhatsApp”, antecipa ele.
Voltado para o cidadão que alcança por in
-
termédio de seus canais e pelos canais dos
membros da coalizão, o Comprova procura
exercer o jornalismo com metodologia clara
e transparente, aplicando valores como pre-
cisão, responsabilidade ética, independên-
cia, imparcialidade e transparência. “O jorna-
lismo só se impõe à desinformação quando

seus leitores. No entanto, não tem, hoje, ca-
pacidade de, sozinho, enfrentar esse mundo
carregado de desinformação. Outras insti-
tuições e a sociedade civil precisam atuar
em conjunto para debelar a desinformação
-
nhas que têm a intenção de formar opiniões
e, em alguns casos, desacreditar e minar a

Para o editor do Comprova, as pessoas for-
mam suas opiniões a partir de informação
que, quando é falsa ou enganosa, pode levar

em um voto e também pode embasar deci
-
sões e atitudes que coloquem vidas em ris-
co. “Num ambiente de baixa atenção e alta
oferta de conteúdos, os que são mais atra
-
tivos tendem a capturar mais facilmente a
atenção das pessoas. E a mentira, que não
precisa se limitar aos fatos, pode ser muito
mais atrativa que a verdade”.
O trabalho do projeto é reconhecido pelo
TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que divul
-

Fato ou Boato.
A mentira pode ser muito mais
atraente que a verdade
ANÁLISE
20
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 1 - Março
Checagem de notícias é poderosa
aliada no combate à desinformação
A Agência Lupa nasceu da experiência da jor-
nalista Cristina Tardáguila, que conheceu o
fact checking em 2014 quando era editora
de política do jornal O Globo. Na época era
     
e dos programas políticos. “Quando a cam
-
panha terminou, ela percebeu uma oportu-
nidade e decidiu, em 2015, criar a agência,

explica a diretora da Lupa, Natália Leal.
Como uma agência de notícias especializada
em fact checking, a Lupa seguia um modelo
importado dos Estados Unidos, com o obje
-
tivo de vender serviços para veículos tradi-
cionais. Nos primeiros três anos de vida foi

hoje a atuação se expandiu. Há um acordo

de notícias. “Também prestamos serviços
para instituições internacionais, consulados
e embaixadas. Além disso, passamos a ela
-
borar projetos, captar recursos e executá-
-los”, revela Leal.
Atualmente, a equipe de 25 colaboradores


tríade “quem fala, o que fala e qual é o baru
-
lho que isso faz”, ou seja, qual é o potencial
     
de avaliar o que é dito e conferir com o apoio
de dados públicos, a agência mantém parce
-
rias com empresas de tecnologia, que moni-
toram vídeos no YouTube ou a propagação
de hashtags no Twitter. “Mas a checagem
      
-
sionais treinados de forma diferente do re-
pórter tradicional. O checador tem um outro

dados, informações. Nada de declaratório –
é apuração na veia”.
Outra área importante é a de educação, por
        
-
lestras no sentido de aumentar a conscien-
tização sobre desinformação. Ela considera
essencial levar ao conhecimento do público
a necessidade de buscar fontes seguras de
informação, em especial em momentos cru
-
ciais, como as eleições. “A desinformação é
um problema social, de desigualdade, até
mesmo psicológico. Estamos ensinando as
pessoas a desenvolverem pensamento crí
-
tico sobre a veracidade das informações.
E esse empoderamento social resguarda
os valores da democracia”, ressalta Natália
Leal.
ANÁLISE
21
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 1 - Março
São inúmeras as vantagens
de “sermos todos mídia”,
um conceito que, apesar de
 
para o desenvolvimento da
Comunicação Social, tam-
bém tem como contraparti-
da a potencial proliferação de conteúdo cli-
ckbait, informações falsas, fraudulentas ou
simplesmente equivocadas.
Com a estonteante quantidade de canais
disponíveis e de manifestações individuais
em tempo real, estamos provavelmente dis
-
persos e, possivelmente, infoxicados. O ano
é 2022, mas relembro mentalmente a per-
gunta que Caetano Veloso fez, pela primei-
ra vez em 1967, na música Alegria, Alegria:
Quem lê tanta notícia?”.
Hoje, a internet ocupa um lugar de destaque
na preferência de muitos brasileiros ao es
-
colherem como vão se manter informados.
Uma pesquisa realizada pelo PoderData, em
outubro de 2021, indicou que, para 43% dos
meus conterrâneos, a web é a fonte princi-
pal para buscar informação (22% por redes
sociais e 21% por sites e portais), seguida
pela televisão, que é preferida por 40% dos
entrevistados . Dados publicados pelas pla-
taformas de mídias sociais indicam que, no
início de 2022, os usuários brasileiros no Fa-
cebook eram 116 milhões, no TikTok 74 mi-
lhões, no LinkedIn 52 milhões e no Twitter
19 milhões . Além disso, cada vez mais con
-
teúdo circula pelas redes sociais privadas:
WhatsApp, Inbox de Instagram, Telegram e
outros aplicativos.
O engajamento da sociedade civil
nos debates setoriais fortalece
a democracia
ARTIGO
22
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 1 - Março
Gisela Martinez

e Diretora do eixo de Comunicação e Advocacy
do IRELGOV
Foto: Arquivo pessoal
Foto: Projeto Brasil com S produzido por Lab678
23
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
ARTIGO
Imagino que não seja surpresa para ninguém
que a gigantesca massa de conteúdo dispo-
-
ra da qualidade do debate público. Mas será
que damos a devida importância para o fato
de que a desinformação afasta as pessoas
das discussões que têm impacto no dia a dia
de todos? O lado bom de tudo isso é que,
como resposta a esse
estado permanente de
-
-
ciedade vem buscando
  
-
áveis, reconhecendo a
importância da veraci-
dade dos dados, serie-
dade das análises e rigor para apurações e
checagens.
     
-
mentais para o exercício pleno da democra-
cia, o que podemos fazer para estimular que
circulem de forma mais ampla? Como pode-
mos entender o jogo político para participar
do debate como protagonistas?
Não tenho dúvida de que um dos caminhos
para ampliar nossa capacidade analítica é
entender e acompanhar a atuação de gru
-
pos organizados, como associações e orga-
nizações setoriais. Essas entidades, que con-
gregam empresas de setores econômicos,
ocupam espaços institucionais importantes
e promovem interlocução direta com o po
-
der público. No Brasil, muitas delas vêm se
    
transparência em suas estratégias de comu
-
nicação e Advocacy. Isso é muito positivo.
Então, se as associações que atuam de ma
-
neira propositiva e colaborativa contribuem
com a elevação do nível das discussões pú
-
blicas, por que nos engajamos tão pouco
com elas? A resposta pode estar na forma
equivocada com que mui
-
 -
sa de interesses setoriais,
ignorando que esses inte-
resses também nos afe-
tam como consumidores,
empregados e cidadãos.
Ora, se um determinado
setor tem interesses, e se
organiza para defendê-los, não é importante
nos engajarmos e participarmos das discus-
sões?
Nessa edição da Diálogos, convidamos dois
representantes de associações setoriais
para contarem para nossos leitores como as
entidades que representam atuam na defe
-
sa de pleitos setoriais. São cases relevantes
que demonstram, de forma bastante clara,
como essas causas têm impacto na nossa
vida. Notem que o engajamento da socieda
-

Está, portanto, ao nosso alcance participar
mais ativamente do debate e da construção
política; um movimento que ajudará a con
-
solidar a democracia e nos fortalecerá como
sociedade organizada.
O engajamento da sociedade civil é
sempre um desafio a ser superado
Gisela Martinez
24
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
ARTIGO
Como seu setor atua? Quais são os principais desaos?
A CBDL celebrou 30 anos em 2021 e teve o seu início voltado
para a defesa dos interesses dos associados que tinham produ-
tos importados e precisavam comprovar que não havia similar
nacional para efeito de obter a licença de importação junto ao
-
ca de 70% do mercado de diagnóstico in vitro – fabricantes,
importadores e distribuidores, nacionais e multinacionais, de
vários portes diferentes.
Atualmente, seu papel é muito mais am-
plo. Além da questão regulatória, tam-
bém olhamos para a sustentabilidade
do setor, por meio de discussões sobre
o valor do diagnóstico.

de novas tecnologias, a sustentabilida-
de do setor e a utilização da Tecnologia
da Informação.
Quais as estratégias mais ecientes
de advocacy que sua associação ado-
ta?
A base do trabalho todo é feita na pró-
pria entidade, em conjunto com os asso-
ciados que se reúnem em Grupos de Trabalho temáticos (Re-
gulatório, Jurídico, Acesso, Comunicação, etc).
Assim, após fazermos ampla divulgação deste trabalho, inicia-
mos o desenvolvimento de algumas das propostas, lideradas
por membros sêniores das empresas associadas.
Qual a principal causa pela qual a associação faz advocacy?
Promoção do acesso ao diagnóstico precoce e preciso como
          
forma sustentável e com qualidade. Outro ponto é apre-
sentar o valor do diagnóstico e sua importância dentro da
saúde pública.
Qual o nível de engajamento da sociedade percebido pela
associação nessa causa?
Houve uma mudança sensível por conta da pandemia. O que
antes era desconhecido, tornou-se algo não apenas mais cla-
ro, como acessível. Produtos como o RT PCR já são facilmente
compreendidos pelo cidadão comum.
Como é a articulação com a sociedade civil? Quais são as
diculdades?
Houve muitos avanços, mas ainda há
muito a percorrer... um exemplo é a que-
bra de paradigma que tem sido a dis-
cussão, aprovação e implementação do
autoteste para o Covid-19. Embora ele
chegue talvez tardiamente, terá um pa-
pel importante para evitar-se a propaga-
ção do vírus, por meio do engajamento e
empoderamento do cidadão na busca do
seu “Auto-Cuidado”.
Como a tecnologia está mudando o ce-
nário das relações governamentais?
      -
-
do grandes inovações tecnológicas que
podem acelerar o acesso a informações cruciais e integradas,
que reduzirão o custo de saúde pública, além de racionalizar o
uso dos recursos escassos (telemedicina, prontuário eletrôni-
co comum etc).
O que você acha que poderia ser feito para aperfeiçoar as
relações governamentais no Brasil?
Entendo que a transparência e integridade sejam questões
inegociáveis atualmente. Por esta razão, é fundamental que
haja a devida regulamentação do lobby-
vidade de relações governamentais tem ser pautada por ética,
devido respeito às regras, prestação de contas e a necessária
“accountability”.
Advocacy ganha impulso com causas
abrangentes: a experiência da CBDL
Carlos Eduardo Gouvêa
Foto: Arquivo pessoal
Carlos Eduardo Gouvêa, presidente da CBDL (Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial) e
vice-presidente da ABIIS (Aliança Brasileira da Indústria Inovadora em Saúde)
25
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
ARTIGO
Advocacy ganha impulso com causas
abrangentes: a experiência da Abiplast
Como seu setor atua? Quais são os principais desaos?
O setor que representamos, o de plástico, está presente em
99% da matriz industrial brasileira e na casa de todo o cidadão
        
se comunicar com todos, pois não temos um nicho de público.
Temos a sociedade inteira.
Claro que recentemente temos tido uma
grande preocupação mundial em relação
à poluição plástica, mas temos trabalha-

continuar a fomentar a economia circu-
lar e, por outro lado, lutar contra a de-
sinformação.
Quais as estratégias mais ecientes
de advocacy que sua associação adota?
Não existe bala de prata nem a melhor
estratégia. Estratégias são utilizadas
e pensadas de acordo com contextos e
atores. E como estes são mutantes, as
estratégias sempre são renovadas. Uma
orientação que temos é trazer o debate
técnico e transparente. O acesso à infor-
mação é fundamental e estar atualizado sobre o que se debate
em políticas públicas ao redor do mundo ajuda na atuação e
traz elementos que inspiram alternativas.
Qual a principal causa pela qual a associação faz advocacy?
Temos a atuação voltada para a Competitividade Setorial, mas
uma das principais causas é a promoção da Economia Circu-
lar. Nosso setor tem essa missão de trazer soluções para essa
agenda. Buscamos incentivar o redesign e a reutilização de
produtos, garantir a reciclagem e buscar materiais alternativos
para nossos clientes.
Qual o nível de engajamento da sociedade percebido pela
associação nessa causa?
Temos caminhado a passos lentos. A agenda da Economia Cir-
cular é uma temática pública que envolve a sociedade em ge-
ral. Tem relação com consumo consciente, sustentabilidade,
inovação, distribuição de renda, escolaridade, infraestrutura e
uma miríade de nuances.
Como é a articulação com a sociedade civil? Quais são as
diculdades?
Temos uma diversidade enorme de produtos e cada um com
ciclo de vida e solução diferentes. Produtos hospitalares, de
engenharia, farmacêuticos, de saneamento, os de vida média e
longa. Os holofotes estão sobre os produtos de vida curta, ou
“single use” (de uso único), como emba-
lagens. 
atuar. Quando se troca um produto por
outro, é importante saber a decisão que
se está tomando. É difícil para a socie-
dade entender que, às vezes, uma deci-
são tomada por uma minoria organizada
geralmente tem impactos enormes no
restante da sociedade. O exemplo do
que se fez com o banimento das sacolas
plásticas e dos plásticos de uso único é
nítido de como esse processo funciona.
A falta de diálogo, de transparência e de
    -
des que precisam ser superadas. Enten-
do que esse deve ser também o papel
da associação de classe. Contribuir para
criar espaços de debate, participativo e coletivo. -
camos limitados à nossa bolha, perdemos a oportunidade de
criar pactos sociais mais duradouros e estruturais.
§vernamentais?
A acessibilidade e a supressão do espaço e tempo foram fun-
damentais. Com a Covid-19, tivemos que criar espaços on-line,
virtuais. Claro que as relações pessoais movidas a oxitocina li-
beradas pelos apertos de mão e abraços continuam fundamen-
tais, mas temos que considerar que a geração Y está aí e está
muito mais adaptada a esse formato. As novas estratégias têm
que levar em consideração este modelo híbrido.
O que você acha que poderia ser feito para aperfeiçoar as
relações governamentais no Brasil?
A regulamentação do lobby seria um grande passo. Transpa-
rência e governança nas relações são o caminho. Pelo lado

avaliação, montagem de mapas, clusters de atuação etc., têm

Paulo Teixeira, superintendente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast)
Paulo Teixeira
Foto: Arquivo pessoal
Pesquisas eleitorais são fotos,
agregadores transformam em
lmes
ARTIGO
26
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 1 - Março
Estamos prestes a entrar no “horário nobre”
das eleições brasileiras, o que também sig
-
     -
ções de um monte de pesquisas eleitorais.
Mas, cuidado: ao perguntar para os eleitores
sobre suas intenções de voto hoje, as pes
-
quisas dão a ilusão de prever o vencedor da
eleição com meses de antecedência.
As pesquisas muitas vezes parecem imbuídas

noção de certeza matemática, algo que sus
-
peito ter origem na Bíblia, coincidentemen-
te numa narrativa apresentada no capítulo
cinco de Daniel, contando que o rei Belsazar
fazia um banquete e festejava com seus no
-
bres, embora os medos e persas estivessem
nos portões da cidade e eventualmente to
-
mariam Babilônia naquela noite. A festa é in-
terrompida pela escrita em letras ardentes
na parede: “mene mene tekel upharsin”, (nu
-
merado, numerado, contado e pesado). O
Senhor contou o reino de Belsazar, contou-o

falta. Desde então, os números parecem car
-

  

de um país inteiro falando com apenas 1 mil
pessoas. Mas a matemática funciona se essas
1 mil pessoas forem selecionadas por meio
de um processo verdadeiramente probabi
-
lístico. Pense desta forma: uma certa parcela
de brasileiros atualmente pretende votar no
candidato A na eleição. Não podemos obser
-
var isso diretamente, mas sabemos que essa
parcela está lá em algum lugar.
Existe um número crescente de institutos e
empresas de pesquisa operando no país, e
isso é muito positivo. Quanto mais empresas
realizando pesquisas, melhor. Entretanto,

Daniel Marcelino
Analista de dados no JOTA. Cientista político
especializado em métodos quantitativos, técnicas
de amostragem e modelos bayesianos de previsão
Foto: Arquivo pessoal
27
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
pesquisas da ABC News por 20 anos –, o problema é que nem todas as pesquisas são criadas
iguais. Algumas pesquisas são produzidas com mais cuidado do que outras e esse esforço
precisa ser contabilizado. O dilema que surge é: como fazer isso?
Considere por alguns instantes as duas imagens a seguir. Elas retratam as pesquisas de
intenção de voto espontâneo publicadas desde o ano anterior até o momento. No topo da
primeira imagem vemos os resultados desses levantamentos para o ex-presidente Lula da

o resultado medido por cada sondagem, sendo que as últimas cinco estão destacadas em
cor diferente.

intenção de votos obtida nesses levantamentos. E isso é perceptível mesmo entre pesqui
-
sas realizadas em períodos próximos, como no mesmo dia ou semana. De fato, a diferença
entre elas pode ser tão grande quanto 10 ou 15 pontos percentuais.
No próximo conjunto de imagens, as mesmas sondagens são apresentadas, mas agora des
-
tacando o método de entrevista utilizado em cada levantamento. Não há nada de muito so-

pesquisa e os resultados aferidos pelos institutos para os dois líderes de intenção de voto?
Você consegue imaginar alguma tendência ou padrão consistente a partir da informação do
modo como as entrevistas foram realizadas?
Na minha opinião, pesquisa sem análise é apenas um conjunto de números. Como todas as
demais notícias que cruzam nossas telas todos os dias, cada levantamento de opinião preci
-
sa ser avaliado cuidadosamente e julgado sobre seu mérito. Ler e avaliar cada pesquisa para

-
bém a mensagem consensual entre todos eles, é uma tarefa que pode consumir algumas
horas do nosso tempo daqui até a eleição.
ARTIGO
28
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
     
política e na forma como as pessoas veem
o governo e as eleições, no JOTA nós prefe
-
rimos utilizar informações agregadas a nos
basear em números de uma única pesquisa
ou em todas as pesquisas de um único ins
-
tituto. Isso exige uma mudança de cultura,
porque quando as pesquisas divergem, para
o nosso agregador não é contradição; são in
-
formações adicionais. Cada levantamento de

quando construímos uma sequência desses
levantamentos, pode-se analisar o compor
-
tamento das estimativas através do tempo,
permitindo captar tendências que seriam
impossíveis de serem detectadas. Portanto,
um agregador é capaz de transformar as fo
-

Ao longo de mais de uma década de apren
-
dizado, construímos alguns modelos de ci-
ência de dados para tratar e agregar dados
das pesquisas de avaliação de governo e de
intenção de votos e, também, informações
sobre os institutos e empresas que condu
-
zem essas pesquisas. Esses modelos estatís-
ticos permitem comparar resultados de dife-
rentes pesquisas, calibrando os resultados
originais com informações adicionais como
a data da pesquisa, tamanho da amostra,
método de seleção e entrevista dos partici
-
pantes, tempo até a próxima eleição etam-
bém pela performance passada do instituto
em outras eleições. Parece bastante familiar
     
-
mosas que eu acredito que você deve usar
diariamente, ou pelo menos ter ouvido falar,



de modelagem de dados e simulações para
projetar o futuro, nós também desenvolve
-
     
cada pesquisa. Isso contribui para manter

Uma observação importante é que esse tipo
de tratamento dos dados é meramente me
-
      -
mento, uma análise de idoneidade de insti-
tutos. A discussão sobre vieses sistemáticos

busca por melhores técnicas, estudada por
estatísticos e cientistas políticos há pelo me
-
nos duas décadas.
Para resumir em um parágrafo todas as ino
-
vações ocorridas nos últimos anos envol-
vendo essas ferramentas de agregação de
pesquisas, eu diria que no princípio existiam
apenas as pesquisas. Então, veio a pesquisa
das pesquisas. Depois, veio a pesquisa das
pesquisas ponderadas. E, agora, também
existe uma pesquisa das pesquisas com pe
-
sos que são estatisticamente modelados e
pesos que mudam dinamicamente a cada
nova pesquisa. Isso é exatamente o que os
agregadores que desenvolvemos no JOTA
fazem.
Foto ou lme?
ARTIGO
Esses modelos estatísticos comparam
resultados de diferentes pesquisas,
calibrando-os com informações
adicionais”
Daniel Marcelino
29
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
No lobby digital, o ator prin-
cipal é o cidadão. Entende-
-se que campanha online
que deu certo é aquela que
teve milhares ou milhões
de likes, compartilhamen
-
tos e assinaturas. Isto por-
que somente uma massa crítica de cidadãos
chamará a atenção dos decisores, podendo

Mas não são somente os números que con
-
tam (análise quantitativa), mas o que estão
falando (análise qualitativa). Memes, vídeos,
hashtags e mensagens deixam transparecer
as preocupações que motivam o engajamen
-
to da sociedade.
Dois pontos adicionais também merecem
atenção: se a campanha online está pautan
-
do a cobertura da mídia tradicional e se está
ditando o debate em torno da política pú
-
blica. Porque, se for este o caso, sobrará ao
outro lado a ingrata tarefa de tentar refutar
pontos que estão ganhando a aceitação da
sociedade e dos decisores. Em vez de estar

posição nos termos ditados pelo outro lado.
Em vez de levar seus argumentos sobre as
vantagens de um PL ou uma regulamenta
-
ção, estará refutando os pontos levantados
por seu adversário nas plataformas sociais.
É o que aconteceu com o PL 6299/2002, mais
conhecido como PL do Veneno. Primeiro, as
ONGs enquadraram o tema – agrotóxico vi
-
rou sinônimo de veneno. Segundo, elas leva-
ram seus talking points à sociedade via re-
des sociais, pautando a cobertura da mídia.
Mesmo que o projeto tenha sido aprovado
pelo dobro de votos na Câmara, o debate no
Senado promete ser mais complicado, pois o
O cidadão inuenciador
ARTIGO
29
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 1 - Março
Renard Aron
Fundador da PolicyZone, espaço
dedicado ao lobby digital
Foto: Arquivo pessoal
30
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
ARTIGO
setor de defensivos agrícolas terá que con-
vencer senadores de que o PL não irá tirar a
Anvisa e o Ibama do processo de avaliação,
de que agrotóxicos cancerígenos não serão
aprovados no país e que o atual governo não
aprovou número recorde de novos agrotóxi
-
cos. Todos pontos repetidos exaustivamen-
te nas mídias sociais.
Além do mais, o cidadão stakeholder cumpre
um segundo papel no mundo online. Ele atua
como difusor da informação, isto é, ele leva
informação às suas redes. Assim, qualquer
informação, inclusive fake news, poderá ra
-
pidamente tornar-se fato aceito por amplo
número de pessoas, impactando o debate
sobre uma política pública.
Por exemplo, acompanhei várias conversas
no Twitter no caso em que uma campanha
de marketing do Bradesco recomendava que
seus clientes aderissem à “Segunda sem car
-
ne” para reduzir sua pegada de carbono. A
campanha não pegou bem com o setor agro-
pecuário nem com aqueles que acreditam na
hashtag #quemlacranãolucra.
No Twitter, uma pessoa compartilhou um

de gases de efeito estufa (GEE) de vários se
-
tores nos EUA, incluindo agropecuário, auto-
mobilístico e energia. Dizia que o setor agro-

responsáveis, respectivamente, por 3,9% e
2% do total de emissões nos EUA. A mensa-
gem: muito pouco para merecer a atenção
que está recebendo.
Fui checar no site do Departamento de Agri
-
cultura dos EUA (USDA), e o valor correto
para as emissões de gases de efeito estufa a
partir do gado nos Estados Unidos são 3,3%
(dados de 2019) e não 2%. A diferença não
é grande, mas os dados são dos EUA e esta
-
mos falando do Brasil.
Para o Brasil, a ONG Observatório do Cli
-
ma estima que o percentual das emissões
de gases de efeito estufa a partir do reba-
nho bovino é de 17% do total de emissões
de GEE. Globalmente, a FAO (braço da ONU
para alimentação e agricultura) estima que
a emissão de gases de efeito estufa a partir
do setor de pecuária representa 14,5% das
emissões globais, das quais o gado é respon-
sável por 60%.

-
sa uma ideia incorreta que pode facilmente
se tornar mantra entre parcela da sociedade
e contaminar o debate em fóruns nacionais
e internacionais, como a COP 26.
Melhor então acompanhar de perto a con
-
versa online e não deixar para se engajar
quando for muito tarde, porque o cidadão
       
     
públicas.
Assim, qualquer informação, inclusive
fake news, poderá rapidamente tornar-
se fato aceito por amplo número de
pessoas, impactando o debate”
Renard Aron
31
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
A pergunta acima pode ser respondida de diver-
sas maneiras. Para começarmos pela abordagem
mais simples e prática, vê-se que o uso de um
grande volume de dados para um planejamento
assertivo é possível a partir da união das experti
-

ciência de dados e outro de relações institucio
-
nais e governamentais. Geralmente, ambos es-
tão dentro da mesma empresa e, na maior parte
dos casos, pouco interagem.
Em relação à ciência de dados, algumas consi
-
derações são necessárias. É uma área voltada
ao estudo e à análise de dados estruturados e
não-estruturados para a obtenção de insights
que permitam uma tomada de decisão assertiva.
Apesar de existir há mais de 30 anos, o campo
ganhou notoriedade em meados dos anos 2000
a partir de publicações do Data Science Jour
-
nal[1]. Desde então, popularizou-se, sobretudo
no setor privado, com criação de áreas de busi
-
ness intelligence voltadas, geralmente, à identi-
-
cias de consumidores.
No campo das relações governamentais e ins
-
titucionais (RIG), no entanto, o avanço foi mais
lento. Em 2016, na Harvard Business Review[2],
o tema era objeto de debates introdutórios.
Para Gottlieb e Gurney (2016), autores do artigo,
a área de relações governamentais não deveria
       
outras áreas das companhias. “Companies have
long relied on data-driven approaches to track
and improve every other business function. Why
     
questionaram. Três anos antes, em 2013 e 2014,
respectivamente, vimos movimentos relevan
-
tes nesse sentido, com a fundação das startups
FiscalNote e Quorum Analytics. Ambas, com
O uso de dados em um planejamento
assertivo
ARTIGO
31
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 1 - Março
Ana Beatriz Graça
Cientista de dados do JOTA
Foto: Arquivo pessoal
32
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
base em dados públicos disponíveis dos Pode-
res Legislativo e Executivo dos Estados Unidos,
passaram a oferecer, dentre outras soluções,
ferramentas de monitoramento, priorização e
predição de aprovação para potenciais riscos re
-
gulatórios, tais como projetos de lei[3] no Con-
gresso Americano. Curiosamente, os fundadores
dessas startups dividiam-se em dois nichos de
formação: tecnologia ou ciência de dados e hu
-
manidades.
O uso de dados em RIG no mercado americano,
pouco tempo depois, passou a ditar tendências
no Brasil. A partir de 2016, vimos, ainda que de
forma tímida, o surgimento de legal e govtechs,
bem como o início do uso de big data por alguns
times de RIG em empresas. Dadas as dimensões
do sistema político brasileiro, a tendência não
poderia ser outra. São pelo menos 58 mil verea
-
dores, 5.568 prefeitos, 1.059 deputados estadu-
ais, 513 deputados federais e 81 senadores com
competência para editar atos normativos em mi
-
lhares de casas legislativas por todo o país. Ape-
nas na Câmara dos Deputados, até a presente
data, há 34.449 matérias em tramitação[4].
Nesse contexto, exemplos da utilização da ciên
-
cia de dados para um planejamento assertivo em
times de RIG não faltam. Na Ambev, por exem
-
plo, em 2015, uma planilha para monitoramento
de riscos regulatórios com quatro variáveis era
a principal ferramenta utilizada para atividades
de monitoramento e priorização. De lá pra cá, a
mesma planilha tornou-se um sistema para ges
-
tão de riscos que possui, dentre outras funções,
algoritmos preditivos que indicam quais riscos
possuem maiores probabilidade de ocorrência
e impacto para o negócio. Com o sistema, além
da clara melhoria do processo de priorização te
-
mática, o volume de horas empregadas para as
atividades manuais de monitoramento caiu seis
vezes, havendo mais tempo para uma atuação
menos reativa e mais proativa. O desenvolvimen
-
to dos modelos seguiu a tendência já apontada:

RIG e de ciência de dados. Aqui, cabe uma curio
-
sidade: internamente, em diferentes setores da
empresa, havia dezenas de cientistas de dados
trabalhando em modelos preditivos para previ
-
são da demanda de cerveja, por exemplo, mas
nenhum para a predição de riscos regulatórios.
Após um ano de trabalho, em 2017, foi desenvol
-
vida uma das primeiras ferramentas preditivas
de RIG do mercado.
Lucas Baggi
Gerente de Relações Institucionais da Ambev
ARTIGO
Foto: Arquivo pessoal
33
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
Outro case é o Aprovômetro, do JOTA. Numa ló-
gica semelhante, o Aprovômetro é uma tecnolo-
gia que está em constante evolução. Atualmen-
te, funciona como uma ferramenta preditiva que
estima as chances de aprovação de proposições
legislativas que tramitam no Congresso Nacio
-
nal, tais como Projetos de Leis (PLs, PLSs, PLPs
e PLVs), Propostas de Emenda à Constituição
(PECs) e etc. Para o cálculo dessas estimativas,
o Aprovômetro conta com tecnologias como Big
data
de 3 mil variáveis que são analisadas de forma
automática, sem a necessidade de qualquer ação
humana. Isso só é possível porque os cientistas
de dados do JOTA estudaram décadas de trami
-
tação de projetos no Congresso e, assim, desen-
volveram uma fórmula matemática complexa
capaz de encontrar padrões nos resultados de
aprovação e arquivamento das propostas. Com
64.410 proposições em sua base de dados, no
ano de 2019, o Aprovômetro previu corretamen
-
te o resultado de 97,5% de projetos arquivados e
de 72% de propostas que, de fato, viraram lei[5].
Como consequência, o Aprovômetro elimina a
necessidade da produção e do acompanhamento
de planilhas para tentar decifrar os rumos de um
projeto, além de entregar uma informação mais

para auxiliar o trabalho de diretores e executi
-
vos de relações governamentais e institucionais,
assim como gestores de risco e planejamento e
diretores jurídicos. Os clientes do JOTA que têm
acesso ao Aprovômetro comentam que, antes
de conhecê-lo, tinham somente intuições e fe
-
elings sobre as possíveis chances de aprovação
de proposições da Câmara e do Senado. Agora

-
-lo como guia para redirecionamento de estraté-
gias.
Para além dos cases apontados, focados na

-
nidade de outras oportunidades no uso de da-
dos para predição, tais como o mapeamento de
posts em redes sociais que indicam projetos de
lei a serem apresentados; o uso da localização
do volume de votações em eleições para exe-
cução de estratégias de grassroots, e inúmeras
    
serem explorados. Diante disso, a pergunta que
não quer calar: seu time de RIG já está conectado
aos cientistas de dados da sua empresa?
[1] Disponível em: https://datascience.codata.org/. Acesso em: 22 fev. 2022.
[2] Disponível em: https://hbr.org/2016/12/lobby
22 fev. 2022.
[3] Disponível em: https://www.washingtonpost.com/lifestyle/magazine/can-big-data-predict-which-bills-will-pass-con
-

[4] Considerando apenas PECs, PLPs, PLs, MPVs, PLVs e PDCs.
[5] Disponível em: https://www.jota.info/legislativo/aprovometro-projetos-previsao-09012020. Acesso em: 24 fev. 2022.
ARTIGO
34
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
Os desaos do RelGov em empresas
disruptivas de tecnologia
ARTIGO
34
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 1 - Março
Empreender,
por si só, é
sempre um
 
-
do em vista
as diversas
dificuldades
enfrentadas pelos empreende
-
dores, que vão desde gerir pes-
soas até a burocracia e a inse-
gurança jurídica e regulatória.
Empreender no ramo da tecno
-
logia com o objetivo de causar
disrupção em setores como o
de logística ou mobilidade, por
   
extra: romper com a até então
“normalidade” de um merca-
do ou de um setor produtivo.
São novos negócios, conceitos,
ferramentas tecnológicas e
formas de trabalho. Em suma,
novas formas de se relacionar
e lidar com antigas atividades
que objetivam a redução das
complexidades e dos custos.
No enfrentamento desse desa
-
-
ções Governamentais e Institu-
cionais é fundamental! É esta
equipe que exercerá o papel
de anunciar para determina
-
dos stakeholders a revolução
que a inovação tecnológica e a
disrupção estão causando nos
negócios tradicionais, esclare
-
cendo os benefícios proporcio-
     
de colaborar na formulação das
políticas públicas que afetarão
diretamente a vida dos cida
-
dãos.
A construção desta agenda le
-
gítima e transparente do time
de Relações Governamentais e
Institucionais, bem como sua
participação direta nas diver
-
sas fases do processo de cons-
trução das novas decisões do
Estado, só traz benefícios para
a sociedade, uma vez que agre
-
ga novos elementos em dis-
cussões tão relevantes. Desta
forma, como consequência de
uma participação democrática
tem-se o aprimoramento das

mais equilibradas, justas, con
-
dizentes com a nova realidade
e livres de inconstitucionalida
-
des ou problemas normativos.
E para que esta estratégia te
-
nha sucesso, é imprescindível
que o grupo, além de profundo
conhecimento do negócio e do
prévio mapeamento dos stake
-
holders e dos temas relevantes
em discussão com o poder pú
-
blico, esteja amparado por da-
dos, pesquisas e estudos que
corroborem os benefícios da
Vanessa Isidoro
Advogada e diretora da Loggi
Foto: Arquivo pessoal
35
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
transformação digital para os
cidadãos e para os negócios.
São as coletas e os comparati
-
vos de dados históricos e atu-
ais, os estudos de impactos
sociais e econômicos, as pes
-
  
em números esses impactos e
as percepções do consumidor
que facilitarão a interlocução
com os atores envolvidos na
tomada de decisão e tornarão
os debates decisórios mais pro
-
fundos e proveitosos.
Foi o que aconteceu, por exem
-
plo, nas interações com o poder
público durante a pandemia da
Covid-19. As empresas de tec
-
nologia precisaram demons-
trar que suas atividades eram
fundamentais para que fosse
evitada uma crise de abaste
-
cimento no Brasil. Dados, es-
tudos, números e pesquisas
foram apresentados e compar
-
tilhados com os tomadores de
decisões e o resultado foi o re
-
conhecimento da essencialida-
de dos serviços relacionados à
tecnologia da informação e de
processamento de dados para
o suporte das demais ativida
-
des essenciais previstas no De-
creto Federal nº 10.282/2020,
tais como entregas, logística de
cargas em geral e o trânsito e
transporte de passageiros.
Muito mais do que defender in
-
teresses de uma determinada
corporação ou setor, os times
de Relações Governamentais e
Institucionais de empresas dis
-
ruptivas de tecnologia exercem
o papel fundamental de propa
-
gar as novidades que impacta-
rão a sociedade e de colaborar
para que Governo, Sociedade
Civil e Terceiro Setor as com
-
preendam e formulem políticas
públicas adequadas ao proces
-
so de evolução social.
ARTIGO
36
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
Tripé ESG acarreta mudança comportamental
e técnica do prossional de RelGov
ARTIGO
36
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 1 - Março
Os holofotes sobre os temas
de ESG – o tripé de sustenta
-
bilidade que aborda as me-
lhores práticas ambientais,
sociais e de governança cor
-
porativa – estão se voltando

de relações institucionais e governamentais. E
toda esta luz vem impactando diretamente nos
-
sas atividades e, via de consequência, determi-
nando a necessidade de desenvolvimento, por

Com o advento do ESG, os temas diversidade,
transparência, comunicação clara e precisa e
proteção ao meio ambiente, entre outros, pre
-
cisam sair do papel e dos discursos. Sem dúvida
alguma são obrigações a que toda empresa está
vinculada, e que agora devem ser retratadas em

sem conteúdo já não surtem mais efeito. A socie
-
dade e os stakeholders querem resultados con-
cretos. Discursos fugazes não têm mais vez.

-
sional da área de relações institucionais e gover-
namentais que, nos últimos anos, vem passando

dúvida, demonstrar que o lobby não é uma ativi
-
dade ilegal – a despeito do contexto da palavra
no Brasil – e que sua atuação correta e precisa
pode, sim, trazer benefícios para a sociedade de
modo geral.
          
-
trar que muitas vezes uma alteração legislativa
– sem o conhecimento, por parte do legislador,

negócio que seria afetado pela lei em questão –
poderia gerar prejuízos incalculáveis à sociedade
– consumidores, prestadores de serviço, forne
-
cedores e órgãos públicos, inclusive.
Sandra Gebara
Vice-presidente de compliance e políticas
públicas do Instituto Mulheres do Varejo
Foto: Arquivo pessoal
37
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
        -
sumir um novo papel. Além de demonstrar seu
conhecimento sobre o negócio onde atua, sua
capacidade de argumentação junto ao poder
público e órgãos de classe e o mapeamento de
riscos do negócio com planos de mitigação, deve
saber endereçar corretamente todas as deman
-
das inseridas no tripé ESG dentro das organiza-
ções.

-
paz de não apenas direcionar, mas encabeçar
mudanças internas e externas, e atender aos di
-
versos questionamentos advindos dos investido-
res e stakeholders de modo geral, com a devida
observação à inovação e transformação digital.
Inovação e transformação digital, sim. Sendo
impossível acompanhar todas as alterações ne
-
cessárias em uma organização, é impossível im-
plementar todas as diretrizes do tripé sem que a
tecnologia seja uma aliada.
Este é um caminho sem volta, pois não basta um
acompanhamento, há que se demonstrar os re
-
sultados esperados, com métricas, investimen-
tos e real impacto de todas as iniciativas, posto
que a palavra, o discurso, como mencionados,
não são mais aceitos.
Outra habilidade a ser desenvolvida é a da comu
-
nicação ao mercado e com os investidores, habi-
lidades essenciais no novo modelo de atuação.


e executivos de mercado em mensagem apta a
ser assimilada por todo e qualquer cidadão que
tenha relação com a empresa, seja qual for sua
formação.
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em todas estas frentes? Por todos os motivos
citados acima – conhecimento do negócio, habi
-
lidade de comunicação, potencial possibilidade
de engajamento interno e externo e enfrenta
-
mento político correto, entre outros – mas, es-
pecialmente, por seu poderoso networking que,
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toda uma atuação voltada a uma nova forma de
agir na sociedade.
A capacidade de implementar essas mudanças
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que estas se incorporem de forma genuína no
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atuarão sozinhos, mas sempre em equipe, uti
-
lizando seu grande poder de relacionamento e
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O que se vê, portanto, é que o tripé ESG, além
de trazer discussões sobre a necessidade de mu
-
danças organizacionais, acarreta inevitavelmen-
te transformações comportamentais e técnicas
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ARTIGO
O tripé ESG acarreta transformações
comportamentais e técnicas de grande
parte dos profissionais de RIG
Sandra Gebara
Os melhores analistas da Política e do Judiciário no Brasil
O JOTA PRO Poder oferece uma visão ampla
e concreta das eleições federais e estaduais.
Agregador de popularidade presidencial: O
agregador apresenta o nível de aprovação ou
reprovação de Jair Bolsonaro.
Acertamos o resultado das últimas
eleições presidenciais com
de precisão
99
%
Agregador Eleitoral: Dados atualizados
diariamente para apresentar o consolidado
atual, histórico e a projeção para os
próximos 21 dias.
Fábio Zambeli
Analista-chefe em São Paulo
Felipe Recondo
Sócio e analista-chefe
Fernando Mello
Sócio e diretor do JOTA Labs
Bárbara Baião
Analista de Congresso
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 1 - MARÇO
O IRELGOV dá as boas-vindas aos seus novos associados
ASSOCIAD@S EMPRESA ADMISSÃO CIDADE UF
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THOMAZ FERRARI D’ADDIO ÁGORA COMUN. ESTRATÉGICA E PUBLIC AFFAIRS   
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AMANDA FORTALEZA BRANDES DE SOUZA FRENTE PARLAMENTAR DO EMPREENDEDORISMO   
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EMPRESA CIDADE ADMISSÃO
Representante(S)
CARVALHO BRITTO ADVOCACIA (Carvalho Britto Advocacia Ltda) Rio de Janeiro RJ
vio Andrade de Carvalho Britto - Sócio Fundador
Gustavo Schreiber de Carvalho Britto
GS1 BRASIL (Gs1 Brasil Associação Brasileira de Automação) Brasília DF
Pedro Henrique P. de Martino - Gerente de Relações Institucionais
UNILEVER (Unilever do Brasil Ltda) São Paulo SP
Juliana Durazzo Marra - Gerente Relações Institucionais e Governamentais
Juliana Abreu - Gerente de Advocacy em Sustentabilidade
Rafael Ponsoni - Coordenador Rel. Institucionais e Governamentais
Guilherme Camargo - Coordenador Rel. Institucionais e Governamentais
Lilian Dorighello - Gerente Assuntos Corporativos e Comunicação
Maria Isabel Esteves - Coordenadora Assuntos Corporativos e Comunicão
Aline Siqueira - Coordenadora Assuntos Corporativos e Comunicão
Nathalia Cardoso - Coordenadora Assuntos Corporativos e Comunicação
NOVOS ASSOCIADOS IRELGOV