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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Expediente #2 – Junho - 2022
DIÁLOGOS IRELGOV é uma publicação
do Instituto de Relações Governamentais
(IRELGOV) - Rua Dr. Renato Paes de Barros
n° 33 - Sl. 151 - Itaim Bibi | São Paulo - SP
CEP: 04530-904
Fones: +55 11 99157-0920 / 11 98536-0012
E-mail: irelgov@irelgov.com.br
Conselho Deliberativo
Jorge Lima - Presidente
Anna Paula Losi - Vice-presidente
Carlos Lima – Conselheiro Administrativo e
Financeiro
Verônica Hoe Lopes – Conselheira Projeto de
Negócios
Diego Zancan Bonomo – Conselheiro
Planejamento Estratégico
Denilde Holzhacker – Conselheira Conteúdos
Wagner Parente Filho – Conselheiro Jurídico
Gisela Martinez – Conselheira Comunicação
Paulo Homem – Conselheiro Parcerias
Silvia de Toledo Fagnani – Conselheira
Relacionamento com Clientes
Diretor de Comunicação
Thomaz D’Addio
Coordenação Editorial
Gisela Antakly Martinez
Thomaz D’Addio
A revista Diálogos IRELGOV é editada pela
Arteiras Comunicação
Rua Conde de Baependi, 39/ 502 – Flamengo
Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22231-140
Tel: (21) 99913 4464
E-mail: irelgov@arteiras.com.br
Jornalista Responsável
Luiza Paula Sampaio (MTb 17.043)
Colaboraram nesta edição
Carlos Parente, Creomar de Souza, Daniela
Castro, Fernando de Moraes, Iolanda Vieira,
Edison Terra Filho, Elbia Gannoun, Ignacio
García, Fernando de Moraes, Iolanda Vieira,
Ligia Pimentel, Marcel Fukayama, Miguel
Menechini de Camargo, Patricia Blanco, Paulo
Homem, Sheila Guebara
Suporte
Márcia Rosa
Patricia Coelho
Copyright © IRELGOV 2021 – Permitida a
reprodução desde que citada a fonte.
A felicidade era visível nos rostos dos participantes do II Congresso Internacional
de Relações Governamentais. Após dois anos sem encontros presenciais, chegara
a ocasião de rever amigos e colegas de trabalho, fortalecer reencontros e,
principalmente, debater temas essenciais para a atividade.
É o que você, caro leitor, encontrará nessa edição especial da nossa “Diálogos”.
            
redondas e cada Relgov Talk estão detalhados pelo olhar atento de nossa equipe
de jornalistas. Da regulamentação do lobby à defesa de causas do Terceiro Setor,
os temas debatidos estão aqui sintetizados nessa edição.
E o tema congresso continuou presente na seção dedicada aos artigos, todos
eles redigidos por especialistas que participaram do evento. Nessas páginas,
eles puderam aprofundar os temas abordados sem a natural limitação do tempo
durante o evento.
Muito conhecimento e novidades foram o resultado dos dois dias de encontro.
É com alegria que trazemos esse relato para os leitores da revista, a quem
convidamos a fazer parte desses diálogos.
Boa leitura!
Thomaz D’Addio
EDITORIAL
Nesta edição
07
43
45
47
49
53
55
57
62
66
03
II Congresso Internacional de Relações Governamentais - O relgov
como agente de mudança
Defesa de causas e advocacy
CAPA
ARTIGO
Análise de risco político: manual de uso
ARTIGO
O valor do engajamento multi-stakeholder na construção de uma
proposta de valor sustentável com propósito
ARTIGO
ARTIGO
O mapeamento sistêmico de comunidades de stakeholders
ARTIGO
Capitalismo: de shareholders para stakeholders
Relações governamentais e regulatório
ARTIGO
ARTIGO
Relações governamentais e sua importância para áreas de negócio
ARTIGO
Novos associados
ASSOCIADOS
Novos conselho e diretoria: continuidade com inovação
RADAR
Quem nunca fez lobby, que atire o primeiro business card!
3
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
O novo conselho do Instituto de Relações
Governamentais (IRELGOV) foi eleito no dia
20 de maio para o biênio 2022 / 2024. Lidera
-
da pelo novo presidente, Jorge Lima, e pela
vice-presidente, Anna Paula Losi, a chapa
“Conecta – conhecimento, protagonismo
e reputação” recebeu 57 votos, sem votos
brancos ou nulos.
Entre os pilares da nova diretoria estão dar
continuidade ao trabalho desenvolvido pela
gestão anterior, renovar as lideranças do
instituto, reforçar o compromisso com diver
-
sidade e inclusão, fortalecer a reputação do
IRELGOV e aperfeiçoar o papel do instituto
como único think tank brasileiro de relações
governamentais.
O foco será na ampliação das parcerias e da
presença do IRELGOV no cenário das relações
governamentais; no aumento de retorno da
agenda de eventos presenciais e virtuais; no
fortalecimento da produção de conteúdos
de qualidade e impacto; na continuidade da
melhoria dos processos de gestão e adminis
-
tração do IRELGOV e na implementação do
planejamento estratégico elaborado em par
-
ceria com os associados.
RADAR
Novos conselho e diretoria:
continuidade com inovação
Foto: Thiago Ribeiro
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Planejamento Estratégico aponta
novos passos do instituto
O Planejamento Estratégico do IRELGOV
     
posicionamento do instituto como think
tank. Foram 18 meses de trabalho com
44 associados, um total de 120 horas. O
plano foi desdobrado em seis objetivos
estratégicos - transformação, produção e
difusão de conhecimento, formação de rede,
comunicação e marketing, receitas e despesas
e gestão, 20 resultados-chave e nove planos
de ação.
     
o “Mapa de stakeholders, responsável
por desenvolver o modelo e processo de
gestão dos stakeholders do IRELGOV; outro
sobre “Plano de vendas”, voltado para
desenvolver o modelo e processo de venda
do IRELGOV, com foco em aumento de
membresia e receita de serviços; o terceiro
é sobre “Processo de gestão de projetos”,
responsável por desenvolver o processo
de gestão dos projetos de conteúdo e de
negócios do IRELGOV; e o quarto será focado
na “Agenda de relações governamentais
e políticas públicas”, para desenvolver o
modelo e processo de elaboração, validação,
publicação e divulgação da agenda.
Entre os resultados do planejamento,
      think tank
de base associativa, cujo propósito é a
produção e difusão de conhecimento, para
impactar, de forma positiva, a formação do
    
       
O foco desse conhecimento está em duas
áreas, relações governamentais e políticas
públicas horizontais, observando três
   
aperfeiçoamento das relações público
privadas e boas práticas regulatórias.
RADAR
5
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
O Conselho Deliberativo do IRELGOV esta-
beleceu, com associados, Comitê de Regula-
mentação para discutir a regulamentação do
lobby, um importante tema em debate para
    
institucionais, seguindo os princípios:
Consulta para posicionamento - Entendendo
a pluralidade de opiniões dentro do instituto,
qualquer posicionamento formal do IRELGOV
será precedido de consulta aos associados. A
decisão da maioria será adotada e deverá ser
respeitada.
Barreira de entrada à atividade - O
IRELGOV não apoiará quaisquer dispositivos
na regulamentação que visem criar barreiras
de entrada à atividade, como, por exemplo, a

natureza. O IRELGOV defende que o lobby é
uma atividade essencial para a manutenção
da democracia e que pode ser exercido de
forma legítima por qualquer membro da so
-
ciedade brasileira.
Transparência e reputação da atividade - As

-
tação devem ser o aumento da transparên-
cia e a ampliação da reputação da atividade
no Brasil.
Requisitos burocráticos para a atividade - A
regulamentação que gere requisitos buro-
cráticos ao exercício da atividade deverá ser
avaliada frente ao benefício pretendido; e o
posicionamento formal do IRELGOV sobre

de consulta aos associados.
Audiência pública e webinar
No dia 28 de junho, o conselheiro do
IRELGOV, Wagner Parente, representou o
instituto durante a audiência pública na Câ-
mara dos Deputados sobre o PL 4.391/2021,
referente à regulamentação do lobby, sob
relatoria do deputado federal Augusto
Coutinho. Participaram do debate parlamen-
tares, representantes do IRELGOV e de enti-
dades como CGU, Abrig, Ministério da Econo-
mia, CNT e CNI.
Na mesma data o IRELGOV promoveu um
webinar com o tema “Regulamentação do
lobby sob uma perspectiva global”, com a
participação de James Meszaros, vice-presi
-
dente executivo da Powell Tate. Ele abordou
as particularidades da legislação norte-ame
-
ricana, pontos fortes e fracos e a importância
de transparência na atividade para garantir
igualdade de condições entre os diferentes

RADAR
IRELGOV cria comitê para discutir a
regulamentação do lobby
6
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Nova temporada do TransformaGov
O IRELGOV lançará no segundo semestre a
nova temporada do podcast TransformaGov,
uma das iniciativas do instituto, em parceria
com a ESPM, para compartilhar o conheci-
mento relacionado à temática “eleições” com
os associados e a sociedade como um todo.
Discutimos sobre eleições de uma maneira
ampla, para que não apenas possamos co-
nhecer mais a respeito dos diversos temas
-
do eleitoral, mas para entendermos as infor-
mações que recebemos dos diversos meios
de comunicação e tentarmos fazer escolhas
mais bem fundamentadas.
Os temas vão de aspectos relacionados ao Di-
reito Eleitoral e às mudanças recentes no sis-
tema de governo até diversidade e inclusão
nas eleições, passando pelo papel da mídia,
da análise de dados e da tecnologia nas elei-
ções.
Com isso, pretende-se abordar temáticas que
permanecerão relevantes neste e nos próxi-
mos pleitos e que poderão servir de apoio
para compartilhar informações em um am-
biente plural e seguro para perspectivas e
análises diferentes.
-
tação de Mariana Chaimovich, diretora execu-
tiva da Editora Diálogos.
Episódio 1: “Dados e eleições: antecipando
tendências”
Convidados - Jairo Pimentel e Ricardo
Ribeiro, doutores em Ciência Política pela
USP
Episódio 2: “Diversidade, inclusão e gênero
nas eleições”
Convidada - Janina Onuki, cientista política e
livre-docente da USP
Episódio 3: “Tecnologia e eleições: a tecno
-
logia a serviço ou desserviço da socieda-
de?
Convidado - Raphael Caldas, fundador da
Inteligov.
Episódio 4: Mudança no sistema de gover
-
no: discutindo o semipresidencialismo
Convidado - Wagner Parente Filho, CEO da
consultoria BMJ
Episódio 5: A relação entre a mídia e as
eleições
Convidado - Lucas De Aragão, sócio da Arko
Advice
Episódio 6: “As transformações recentes
do Direito Eleitoral e as próximas eleições”
Convidado - Diogo Rais, professor do
Mackenzie
RADAR
Poucos resistem à ideia de que a pandemia
de Covid-19 trouxe uma nova era para a hu
-
manidade. O vírus provocou mudanças signi-

      
tecnologia, mais do que nunca, foi a solução
encontrada para oferecer suporte ao home
    
Mas como essa nova realidade afetará as re
-
lações institucionais? De que forma se dará
o diálogo entre sociedade e governo? Quais
são as novas habilidades essenciais para os

Foi para responder essas e - muitas - outras

-
vernamentais de todo o país se reuniram
no II Congresso Internacional de Relações
Governamentais, de 19 a 20 de maio, em São
Paulo.
Organizado pelo Instituto de Relações Go
-
vernamentais (IRELGOV), o evento promo-
veu o debate acerca da geração de valor da
atividade de relações governamentais e ins-
titucionais para empresas e sociedade, bem
como seu papel no fortalecimento da demo
-
cracia.
Na mensagem de boas-vindas, a presidente
da gestão 2020-2022 do IRELGOV, Suelma
Rosa saudou a possibilidade de reunir os

-
mento. “Em nossa atividade, temos origens
em diversos campos, da farmácia à comuni
-
cação. Mas nossa palavra-chave é conexão.
Um encontro como esse é uma oportunida
-
de de construirmos conhecimento de forma

uma cadeia de valor”.
Ela ressaltou a participação das relações
governamentais no processo de construção
de políticas públicas. “Somos agentes da
democracia. Os debates comportam opini
-
ões divergentes. O importante é que haja
condições de dialogar. O século XXI é digital
e pode ser entendido como a era das cone
-
xões. Por isso, vamos cocriar”.

que aconteceu durante o II Congresso Inter-
nacional de Relações Governamentais.
Da maçaneta à massa de
dados
CAPA
7
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
8
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Os desaos de um mundo em
constante transformação
A manhã do primeiro dia começou com a pa-
lestra internacional “Como fazer RELGOV:
de um mundo VUCA (siga em inglês que
    
Ambiguous - volátil, incerto, complexo e am-
bíguo) para um mundo BANI (sigla em inglês

Incomprehensible - frágil, ansioso, não-line
-
ar e incompreensível), da CEO da DevryBV
Sustainable Strategies, Devry Boughner
-
-
te mudança e citou como exemplos a pande-
mia global e a guerra na Ucrânia.
“Por isso digo que vivemos em um mundo
frágil, cujo equilíbrio pode acabar de uma
hora para a outra. Quando comecei a atuar
o mundo estava em pleno processo de inte
-
gração. Tudo mudou nos últimos dois meses.
As relações entre os países não serão mais

ideológica entre eles. Haverá procura por
fornecedores entre os países amigos e a re
-
gionalização das cadeias de produção”.
Devry Vorwerk deixou claro que todas essas
mudanças passarão pela área de relações
governamentais. Segundo ela, empresas e
    
necessidades regionais, até porque uma em
-
presa não se torna global se não se integrar

priorizar o local. E levar em consideração
todos os envolvidos na cadeia. Os setores,
como o de alimentação, por exemplo, não
solucionam mais seus problemas de forma
isolada. É preciso envolver todo tipo de for
-
necedores – de tecnologia, transportes, te-
lecomunicações. E garantir que os humanos
e o planeta estejam no centro do debate”,

Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
9
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
O relgov como agente da mudança
A primeira mesa-redonda do congresso, me-
diada pela CEO do Radar Governamental,
Juliana Celuppi, teve como tema a interação
entre a área de relgov e as estratégias de ne-
gócios de economia e redução de custos.
A vice-presidente para a América do Sul da
General Motors, Marina Willisch, citou um
caso da indústria automobilística para ex
-
plicar a importância do lobby na defesa dos
interesses da sociedade: a substituição dos
estepes dos automóveis, que até então de-
viam possuir dimensões idênticas aos pneus
de rodagem do carro, por um conjunto mais
        
em economia para consumidores e indús-
tria. “Mostramos para as autoridades que
esse custo recaía sobre o consumidor, que
não queria mais arcar com ele; além disso,
argumentamos tecnicamente, apresentan-
do novas tecnologias desse tipo de pneu e
como é a legislação em outros países. Mas
demorou”.
     
-
cam novos negócios, produtos e tecnologias
e são as responsáveis por pensar como se-
rão os próximos 20 anos. “A tarefa do relgov
é apresentar esse futuro aos governos para
que eles construam condições favoráveis
para torná-lo possível por meio de políticas

A indústria já desenvolveu alternativas aos
combustíveis líquidos, mas cabe às autori-
dades criarem regulamentações para que as
empresas se sintam seguras e façam os in-
vestimentos necessários”.
Para Antonio Werneck, CEO da Bombril, o
      
-
versos atores, pois nenhum deles possui
capacidade para resolver os problemas de
forma independente. “É necessário ter olhar
sistêmico, perceber que todos existem de

-
municação com esses stakeholders, pois as
Marina Willisch
Vice-presidente para a América do Sul da
General Motors
Juliana Celuppi, CEO do Radar Governamental,
e Antonio Werneck, CEO da Bombril
Foto: Thiago Ribeiro
Foto: Thiago Ribeiro
pessoas têm outros objetivos e mapas men-
tais e nem sempre entendem suas ideias. E o
terceiro consiste em mobilizar as lideranças
das empresas – os CEOs têm que ter compe-
tências complementares e participar do pro-
cesso”.
Segundo o vice-presidente da Arko Advice,
Cristiano Noronha, recentemente as empre
-
sas passaram a se questionar sobre o que
extraem e o que devolvem para a sociedade.
“Esse aspecto se tornou uma preocupação
dos gestores, ainda mais diante da diversida-
de de grupos que compõem a democracia”.
No entanto, para comprovar os benefícios
que a área de relações governamentais ob-
tém para empresas e sociedade é necessário
medir o resultado. “Por meio das métricas é
que você sente que está sendo ouvido, que
o trabalho está rendendo”, comenta Marina
Willisch, da GM. “Nosso papel é traduzir os
anseios da sociedade em metas. Há 10 anos
quem estaria falando de carbono zero? Hoje
é um objetivo a ser alcançado”.
CAPA
10
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Cristiano Noronha
vice-presidente da Arko Advice
Foto: Thiago Ribeiro
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
11
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Tecnologia como ferramenta
A tecnologia tornou o trabalho do relgov
     
ao mundo de Brasília e ao caderninho de te
-
lefones. Hoje é preciso avaliar redes e enten-
der de métricas. “Aqueles que trabalhavam

Fábio Rua, diretor de Relações Governamen
-
tais para a América Latina e Líder Global de
ESG Policy da IBM. “Atualmente os políticos
usam o YouTube e o Twitter como platafor
-

precisa se atualizar”.
Para ser ouvido, é preciso provar que é ínte-
gro – e a transparência se torna uma quali-
dade essencial. “Essa clareza tem que estar
presente na forma de comunicar. O relgov
é protagonista, se posiciona, representa a
empresa publicamente. Faz a sociedade en
-
tender quais são seus temas estratégicos.

interesse da empresa talvez não tenha vida


-
sa não encontra mais espaço”.
Rua ressaltou que atualmente a informação
é bem mais poderosa do que no passado e

A capacidade de usar dados e plataformas
de forma inteligente aumenta as chances de
impactar e melhorar o país. “Cabe ao relgov
saber como se posicionar. Talvez se pronun
-
-
cazes. As redes sociais estão umbilicalmen-
te ligadas à capacidade das empresas de se
comunicarem e serão ferramentas funda-
mentais nesse século XXI que começa agora,
após a pandemia”.
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
12
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
A conquista do protagonismo
A interação entre a área de relações gover-
namentais e os demais setores das empre-
sas foi abordada na segunda mesa-redon-
da do congresso. A mediadora Grazielle
Parenti, vice-presidente Global de Susten-
tabilidade e Assuntos Corporativos da BRF,
lembrou que até pouco tempo atrás os
     
quando aparecia um problema. “Mas não fa
-
zíamos parte do cotidiano do negócio. Aos

-
do às outras”.
Edison Terra, vice-presidente executivo da
Braskem, concordou: “Saímos de um mundo
onde o resto da empresa não sabia o que a
área fazia e nem queria saber”, disse. “Hou
-
ve uma evolução muito grande. A área dei-
xou de ser reativa e busca atuar em um am-
biente de negócios cada vez mais complexo,
com interações com outros stakeholders
clientes, poder público, fornecedores e até
concorrentes”.
As relações governamentais, segundo o exe
-
cutivo de segurança da Totvs, Daniel Bastos,
são essenciais para que a empresa perceba
como pode ser afetada por políticas públi
-
cas. “Temos sete missões críticas e uma de-
las é segurança da informação. Faço a inter-
locução com a equipe de relgov e a troca é
muito rica. Eles trazem uma imagem real do
cenário e nós temos a oportunidade de con
-
tribuir nesse debate, ajudando a elaborar a
estratégia”.
Para o diretor da MSD, Guilherme Leser, a
área de relgov ganhou protagonismo nos
últimos anos, que se acentuou com a pan
-
demia de Covid-19. “Deixamos de oferecer
consultoria interna para realmente fazer
parte da empresa. Entramos nas unidades
de negócios, tanto que foi a área de relgov a
responsável por criar os planos estratégicos
da companhia para os próximos três anos e
apresentá-los globalmente”.
Esse maior entendimento do negócio das
empresas é vital para a continuidade destas.
No caso da MSD, por exemplo, as mudanças

-

relgov. “O envelhecimento da população vai
impactar nosso negócio”, comenta o diretor
da empresa. “Em 20 anos, 50% dos brasilei
-
-
sional de relações governamentais precisa
entender essa realidade para que auxilie o
governo a formular políticas públicas de saú
-
de que atendam essa população”.
Daniel Bastos
Executivo de segurança da Totvs
Foto: Thiago Ribeiro
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
13
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Regulatório: uma nova dinâmica
     
cada dia mais técnicas, exigindo contínua
     
isso afeta seu desempenho? Como lidar com
essa nova realidade na qual a própria admi
-
nistração pública tem que se ajustar? Essas
foram as perguntas da terceira mesa-re
-
donda do congresso, mediada por Beatriz
Gagliardo, Government Relation, Regulatory

       
      -
presas estão no caminho certo. Para a área
em que atua, a saúde, transparência e regras
claras são essenciais para que as companhias
tenham segurança para operar. “É importan
-
te existir equilíbrio entre o técnico e o po-
lítico. A segurança jurídica colocará o Brasil
no mapa dos investimentos na área”, aposta.
A análise de impacto regulatório traz essa
avaliação holística que leva em conta os fa
-
tores econômicos e sociais. É nesse ponto
     
-
nais de relgov. É importante ouvir todos os
stakeholders. Por exemplo, estamos envolvi
-
dos no processo de áudio bulas. Foi apenas
quando conversamos com associações de

necessário efetuar ajustes”.
Paulo Homem, gerente-executivo de Rela
-
ções Internacionais da Compass Gás & Ener-
gia, acredita que o processo de construção
das regras passa por um amadurecimento
natural. “Tenho uma visão otimista. A cada
Paulo Homem
Gerente-executivo de Relações Internacionais da
Compass Gás & Energia
Foto: Thiago Ribeiro
Foto: Thiago Ribeiro
dia que passa as agências estão melhor
equipadas e a qualidade das decisões ten
-

relgov devem buscar maior compreensão de
como funciona o processo do regulatório.
“Não é o advocacy tradicional que acontece
no congresso. São dinâmicas diferentes”.
Para Beatriz Gagliardo, essa é a virada de
chave que deve ser levada para o debate.

as mudanças na regra do jogo, como acon
-
tece essa discussão de construção de uma
política regulatória”. O head de Assuntos
Públicos, Ciência e Sustentabilidade Brasil
-
lação geralmente é multidisciplinar e exige


cooperação. Precisa ter proximidade com o
jurídico, com as áreas de negócios. Às vezes
a abordagem deve ser econômica, às vezes
     

disse.
Para ele, os instrumentos de inteligência
evoluíram bastante nos últimos anos e é
possível extrair informações relevantes, mas
ainda permanecem muitos gaps para as res
-
postas. “Trabalhar somente com os dados
       
ainda é útil”.
CAPA
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Beatriz Gagliardo
Government Relation, Regulatory and Public

Foto: Thiago Ribeiro
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Advocacy como estratégia de negócios
 lobby, a forma de
negociação mais antiga da humanidade.
A frase, da CEO da ABEEólica (Associação
Brasileira de Energia Eólica), Elbia Gannoum,
pode ser considerada a síntese do segundo
Relgov Talk do congresso, que teve como
tema o advocacy como estratégia de negó
-
cios.
“Na crise institucional que o Brasil vive hoje
esse é um tema muito importante”, disse
Gannoum. “Nossa cultura traz uma conota
-
ção nem sempre muito boa do lobby. No en-
tanto, é um trabalho sério, relevante”. Para

-
zerem boas negociações, pois é um conheci-
mento tácito, difícil de explicar.
Gannoum acredita que a Teoria dos Jogos
traga ensinamentos úteis, como capacidade
de adaptação. “A arte de negociar é buscar
um equilíbrio que permita que você e seu


-
sionais com os quais você encontrará nova-
mente”. Para ela, é importante buscar o re-
sultado que atenda suas expectativas, mas
que também deixem o outro lado confortá
-
vel.
E o que é negociar? De acordo com Elbia
Gannoum, é ouvir mais, falar bem pouco e
trazer equilíbrio para o jogo. “Não existem
ganhadores e perdedores. É a arte do rela
-
cionamento, de conversar, de conquistar, de
convencer. E isso você aprende na prática,
observando”.
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Diálogo, fator de inclusão de todos
os públicos
-
gov possuir a capacidade de se relacionar
com todos os públicos de interesse da em
-
presa. Essa foi a tônica da quarta mesa do
congresso “RELGOV e o diálogo multi-stake
-
holder”, que teve como mediadora a direto-
ra de Relações Institucionais da Mondelez,
Helga Franco. “Todos os atores estão inter-
ligados. É preciso passar a pensar em solu-
ções integrativas”.
A diretora de Relacionamento e Marketing

que hoje não é mais aceitável que o lucro
seja unilateral ou em detrimento das pesso
-
as e do planeta. Segundo ela, há alguns anos
começaram os debates nos fóruns econômi
-
cos sobre o capitalismo multi-stakeholder e
inclusão dos diferentes públicos. “Estamos
diante de uma nova forma de enxergar ris
-
cos e oportunidades. As empresas precisam
garantir que escutam seus stakeholders e
que levam em conta o que é dito em suas de
-
cisões”.
O diretor de Relações Institucionais da
Ambev, Rodrigo Moccia, compartilha da opi-
nião. “Para que as empresas voltem a cres-
cer, o Brasil tem que voltar a se desenvolver
economicamente. Temos um papel-chave
nesse crescimento compartilhado. Só será
bom quando for para todos”.
Foto: Thiago Ribeiro
Foto: Thiago Ribeiro
Foto: Thiago Ribeiro
Cintia Gherardi
Diretora de Relacionamento e Marketing do
Sistema B Brasil
Rodrigo Moccia
Diretor de Relações Institucionais da Ambev
Ligia Pimentel
Diretora de Relações Governamentais da
Varian Medical Systems
CAPA
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Ligia Pimentel, diretora de Relações Gover-
namentais da Varian Medical Systems, acre-
dita que todos possuem condições de levar
pleitos e mudar cenários. “Todos nós somos

de uma causa, se montarmos uma coalização
de empresas, será possível incluir todos nas
decisões”, disse. “Não apenas os executivos
de diversas áreas, mas também pacientes e
fornecedores”.
E essa integração deve acontecer com os
concorrentes também. “Muitas empresas
compartilham riscos de direitos humanos e
sustentabilidade”, revelou Cintia Gherardi.
“Na busca de soluções, não devemos ter o
receio de mostrar nossas falhas. Muitas ve
-
zes uma empresa sozinha não tem força para
fazer as mudanças que o mercado necessita.
Então, a saída é a união de esforços. O poder
de negociação das indústrias é muito gran
-
de e elas têm condições de fazer com que as
coisas mudem”.
       
-
mento dos stakeholders aos negócios. Para
Rodrigo Moccia as metas são importantes
para você estabelecer um processo. “Te
-
mos que medir o impacto no resultado da
empresa. O que você não mede você não
gerencia. Na Ambev há métricas para tudo.
       
-
nidade é um dos caminhos para alcançar
bons resultados”.
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
18
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
A hora da regulamentação
A regulamentação da atividade de lobby, de-
batida há décadas, ainda não se tornou re-
alidade no Brasil. E quais são os caminhos?
      
foram as perguntas da quinta mesa-redon
-
da do congresso, mediada pela gerente de
relações governamentais da BMJ, Rebeca
Lucena. Ela deu início ao encontro ao abor-
dar o PL 4392 / 2021, que trata da questão.
     
Global Action for Business Integrity do
Unodoc (Escritório das Nações Unidas sobre
sobre Drogas e Crimes), voltou no tempo
para lembrar que um dos resultados da Rio
+ 20 foi a elaboração de uma agenda susten
-
tável com 17 objetivos, um deles a inclusão.
“Talvez a vertente mais importante da sus
-
tentabilidade seja a inclusão. E a regulamen-
tação do lobby é necessária justamente por-
que é capaz de trazer diferentes grupos para
participar do debate”, explicou.
Andrea Gozzeto, fundadora do ConexãoRIG,
considerou que esse debate não desperta
paixões, mas é importante, especialmente
no caso de uma atividade que ainda sofre de
forte estigma por parte da sociedade. “Por
isso todos devem colaborar e analisar o pro
-
jeto. Ele é bom, mas pode ser muito melhor”,

apontou a formalização das interações entre
iniciativa privada e representantes do poder
público como um dos principais. “A única ma
-
neira de um grupo de interesse levar suas
Foto: Thiago Ribeiro
Foto: Thiago Ribeiro
Foto: Thiago Ribeiro
Luis Gustavo Cardoso

Integrity do Unodoc
Henrique Petersen Paiva

da Siemens
Andrea Gozzeto
Fundadora do ConexãoRIG
CAPA
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
demandas é via audiência pública, enviando
comentários ou sendo convidado”. Entre os
problemas do PL, segundo ela, estão o fato
de que somente o agente privado é obriga
-
do a registrar a interação e de se limitar à
esfera do executivo.
Henrique Petersen Paiva, head of
    
Siemens, acredita que a função vem ganhan
-
do complexidade em termos de riscos e res-
ponsabilidades. “A legislação é importante.
No entanto, talvez fosse necessário mais
tempo para debatê-la, ajustá-la. O texto ain
-
da não está maduro, mas a sociedade precisa
dar início a essa discussão. Chegou a hora”.
Gozzeto concorda que é necessário mais
tempo para que todos sejam ouvidos e ajus
-
tes, feitos. “O parlamento precisa ouvir to-
dos os envolvidos, cabe a nós cidadãos pres-
sionarmos para tal. Esse projeto aproveita
muito pouco de outras legislações em vigor,
como a LGPD (Lei Geral de Proteção de Da
-
dos Pessoais). Essa celeridade para aprová-
-la não faz sentido”.
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
O desao de regulamentar a
economia digital
-
dos pelo crescimento observado pelas ino-
vações digitais dos últimos anos. Esse foi o
tema abordado por Jorge Lima, sócio e su-
perintendente de Relações Governamentais
e Institucionais no Itaú Unibanco e novo pre-
sidente do IRELGOV, no Relgov Talk “Relgov,
ntech
Segundo Lima, o mundo da nova economia
  
-
presas que não existiam há poucos anos
exigem novas estratégias e arcabouços re-
gulatórios. “Até recentemente tínhamos
somente duas empresas unicórnio, startups
com valor superior a US$ 1 bilhão. Hoje te-
mos 34 e o número vai crescer. Importante
é saber como escalar esses negócios dentro
da realidade da América Latina”.
O presidente do IRELGOV lembrou que as
primeiras regras criadas pelo CMN (Conse
-
lho Monetário Nacional) para o setor são de
2018, mas antes já haviam ntechs operando
em áreas como meios de pagamentos, câm-
bio, seguros e crédito. “O segmento vem
crescendo exponencialmente. Exatamente
por isso é preciso ir além, aperfeiçoar as re-
gras. O futuro depende do conhecimento do
regulador. Por isso é importante incremen-
tar o nível de conhecimento sobre o tema”.
Para ele, a transformação digital traz desa
-

regulador é se atualizar. O cenário oferece

de relgov na apresentação às autoridades
públicas das diferentes formas de regula
-
mentação.
O Banco Central é um regulador extrema
-

para entender o ecossistema. Criou, por
exemplo, mecanismos como o open bank
para conseguir oferecer produtos melhores
e mais acessíveis. Na área de criptomoedas
o Brasil está entre os cinco maiores merca-
dos – e ainda não há regulação. O poder pú-
blico precisa que a sociedade forneça inputs
e cabe a nós, de relações governamentais,
cumprir esse papel”.
Foto: Thiago Ribeiro
Jorge Lima
Presidente do IRELGOV
CAPA
21
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Cidades mais pet friendly
      
relações governamentais vai muito além

podem mudar o cotidiano de pessoas e até
animais de estimação por meio do poder de
mobilização. Esse foi o convite feito pela
Mars durante o congresso – tornar as cida
-
des brasileiras mais amigáveis aos pets.
A mensagem foi trazida por Sheila Guebara,

A empresa, que começou suas atividades no
setor de chocolates, hoje tem a maior par
-
te dos seus colaboradores no segmento de
pets
estão nessa área. “Temos veterinários, cui
-
dadores e atuamos em mais de 2,5 mil clíni-
cas e hospitais no mundo. Queremos convi-

dessa mobilização coletiva por uma agenda

Guebara explicou que o objetivo da Mars é
colaborar na construção de um mundo me
-
lhor para os animais de estimação. A estraté-
gia inclui oferecer serviços aos tutores que
cuidam de seus pets e aos animais abando
-
nados. “Não é apenas empatia, mas também
um bom negócio. Queremos incentivar mais
famílias a terem pets, implantar programas
de controle populacional dos animais, esti
-
mular um maior número de hotéis a aceita-
rem pets como hóspedes. Esse movimento

-
der de mobilização dos relgov”.
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
22
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Breve história das relações institucionais
O último Relgov Talk do primeiro dia de con-
gresso foi dedicado a apresentar um rápi-
do histórico das relações institucionais no
Brasil. Para o CEO da Arko Advice, Murillo
Aragão, que ministrou a palestra, a simples
realização do evento comprova o quanto o

“Há 40 anos, quando cheguei a Brasília, ain
-
da estávamos no regime militar. O Congres-
so era até um pouco mais livre do que as
outras esferas de poder, não era controlado
o tempo todo pelos militares. Mas a concen-
tração das decisões era muito grande e pra-
ticamente tudo se resolvia conversando com
o ministro da Fazenda. Aos poucos, as nego-
ciações foram passando para o Congresso”,
lembrou Aragão.
O CEO da Arko Advice ressaltou que a so
-
ciedade brasileira sempre foi marcada pela
predominância do estado e, por isso, a im
-
portância central deste. “Todos os grandes
movimentos ocorreram por intervenção das
forças próximas ou do próprio estado – a
Proclamação da República e a própria aber-
tura democrática. Consequentemente, é es-
sencial contar com mecanismos que façam
essa interlocução entre estado e sociedade

papel”.
Com o passar do tempo, a sociedade brasi
-

perdeu força para as redes sociais, os oligo-

se transformou em uma sociedade multi-
polar. Todos querem se expressar e o esta-
do deve permitir – e ouvir - a manifestação
de qualquer um. É legítimo. Em um cenário
desses, empresas e grupos de interesse se
tornam cada vez mais dependentes da inte-

de relações institucionais proporcionam”.
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
23
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Transformar comunidades locais
Levar ações como microcrédito, esportes
e formação em empreendedorismo para
um bairro carente de São Miguel Paulista,
na grande São Paulo, é um dos projetos da
Fundação Tide Setúbal. Mas de que forma a
comunidade foi impactada? Será que mudou
mesmo? Algumas das respostas foram apre-
sentadas pela superintendente da fundação,
Mariana Almeida, no primeiro Relgov Talk do
segundo dia de congresso.
“Em 15 anos de atuação no local nós muda
-
mos a história de muita gente e da própria
comunidade”, revelou Mariana Almeida. “En-
tretanto, não conseguimos eliminar todas
as vulnerabilidades. Não demos o salto que
gostaríamos, até porque nenhuma organiza-
ção do Terceiro Setor conseguirá isso sozi-
nha. Quem pode garantir os direitos básicos
da população é o Estado, que até está pre-
sente com escolas e unidades de saúde, mas
a alternância de poder provoca a desconti-
nuidade de uma série de projetos, o que pre-
judica a população”.
A superintendente da Fundação Tide Setúbal
ressaltou que são necessárias ações inter
-
disciplinares e continuidade para conseguir
alterar cenários. Segundo ela, os problemas
não são constituídos somente de baixa ren-
     
má qualidade, mas pela forma como essas
vulnerabilidades convergem. “Se houvesse
sinergia, os resultados seriam muito melho-
res. Os governos não são formatados para
serem interdisciplinares, mas não podemos
aceitar as limitações do Estado”.
A solução passa pela própria comunidade,
que se transforma em agente de mudança
por meio da construção de um planejamen
-
to que direcione políticas públicas e do qual
ela se torna guardiã. “Retiramos a comuni-
dade desse papel passivo, de receber o que
pensam para ela. Eles fazem um plano para o

projeto entra em convergência com o que
o governo daquele momento planejou – de
ações de drenagem a tratamento de resídu-
os sólidos. E às vezes é preciso se sentar com
uma secretaria, por exemplo, e negociar mu-
danças”, explicou.
A pandemia teve efeitos também nas rela
-
ções entre comunidade e poder público.
“É uma provocação contínua. Não dá para
voltar a ser o que éramos. Fazer melhor vai
exigir inovação. Teremos que repensar nos
-
sa forma de organização, a maneira de falar
com as pessoas”.
Foto: Thiago Ribeiro
Mariana Almeida
Superintendente da Fundação Tide Setúbal
CAPA
24
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
O desao da defesa de causas do
Terceiro Setor
Como o setor privado e o Terceiro Setor
      
de causas desse segmento? Essa foram as
questões que nortearam a mesa-redonda
“Relgov e a defesa de causas”, realizada na
manhã do segundo dia do congresso, me
-
diada pela diretora executiva da Impacta
Advocacy, Daniela Castro. “As empresas vêm
sendo cobradas para que os impactos positi
-
vos sejam reais. São atores políticos e preci-
sam dar respostas à sociedade e o advocacy
é uma das estratégias para falar em defesa
de causas”.
Para o vice-presidente do Instituto Ayrton

é a descontinuidade. “Os secretários irão
mudar, mas a permanência do corpo técnico
permite transformar ideias em política de
estado. Estamos em um momento de trans
-
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
25
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
formação do advocacy em um processo ins-
titucional com clareza de agenda e intencio-
nalidade de engajamento dos stakeholders.
Fizemos por entender que o Terceiro Setor é

-
dança”.
Na Natura & Co, as causas estão agregadas
ao negócio desde sua fundação. Segundo a
coordenadora de Relações Governamentais
da empresa, Elisa de Araújo, a preocupação
com as pessoas e os impactos positivos de
sua atuação na biodiversidade são a própria
essência da construção do negócio. “Intera
-
gimos com muita gente, do fornecedor ao
consumidor, mas são impactos pontuais. Só
é possível transformar a realidade de forma
perene a partir de alterações de políticas
públicas. Nesse sentido, nenhuma empresa
é capaz de substituir o Estado”.
  
-
sário falar com múltiplos atores. A frase é do
diretor de Projetos Especiais do Impact Hub
Brasília, João Marcelo Borges, que recorre à
Teoria dos Jogos em seu cotidiano. “Em um
cenário de jogos repetidos, reputação é cru
-
cial. As partidas não devem ser de soma zero
- os dois têm que ganhar”. Ele admitiu que
por meses só tomava café com os interlocu
-
-
ça que possibilitasse uma negociação. “As
organizações que mais alcançam seus objeti
-
vos são as que conseguem passar de estraté-
gias de soma zero para relações de respeito
e legitimização dos outros, o que lhes garan
-
te o diálogo”, explicou.
Daniela Castro ressaltou que todos são ato-
res políticos, mas é na concretização de im-
pactos sociais que as empresas se encontram
com as causas. Mas será que as ONGs têm
feito a diferença? Para João Marcelo Borges
      
de uma empresa sempre tem impacto social,
positivo ou negativo. Por muito tempo es
-
perava-se delas apenas a geração de rique-
     
gerou um desequilíbrio enorme, que não é
contrabalançado pela geração de empregos.
Só vejo negócios sociais em empresas que se
comprometem em envolver todos, do consu
-
midor ao fornecedor. É o que faz a Natura”,
comentou.
A coordenadora de Relações Governamen
-

as empresas interessadas em executar ações
de ESG (sigla em inglês para governança
ambiental, social e corporativa) precisam
aprender a ouvir diversos públicos. “Se que
-
rem, de verdade, construir uma área de ESG
precisam montar equipes diversas, que saiba
se conectar a todos. É necessário estar aber
-
to para escutar a visão de mundo de outras
pessoas, de pessoas diferentes”.
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
26
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Desaos e diculdades de entender
o Brasil
As atividades de relações governamentais
embutem uma série de riscos, de operacio
-
nais a reputacionais. Consequentemente,
quanto mais precisa for a análise política,
maiores serão as chances de sucesso. En
-

segmento foi o objetivo da mesa-redonda
Análise de risco político nas relações go
-
vernamentais”, mediado pela presidente
do IRELGOV na gestão 2020-2022, Suelma
Rosa, que lembrou que o papel do Relgov
não se limita a falar com autoridades públi
-
cas. “Nosso diálogo é com todos os atores
da sociedade. Somos uma cadeia de valor
com visão sistêmica e devemos nos perceber
como tal”.
Para Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice,
a análise de risco político é um dos funda
-
mentos da atividade de relações governa-
mentais. “É o começo de tudo, o momento

de acompanhamento dos temas. Precisa
-
mos priorizar, pois os recursos são limitados.
Desta forma, é possível avaliar se um deter
-
minado risco ainda vai levar tempo para cau-
sar ameaças ou se é iminente”, explicou.
Após essa análise, Aragão entra em conta
-
to com o cliente para atualizar o status do
processo e debater caminhos. “Damos uma
direção provável que o assunto deve seguir,
o que é uma enorme responsabilidade. So-
mos muito cobrados para acertar. Muitos
consultores não vão admitir, mas todos têm

atividade, mais refém de visão de túnel esta-
rá. É preciso analisar as variáveis”.
Já Creomar de Souza, fundador da Dharma
Foto: Thiago Ribeiro
Foto: Thiago Ribeiro
Lucas de Aragão
Sócio da Arko Advice
Creomar de Souza
Fundador da Dharma Political Risk and Strategy
CAPA
27
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Political Risk and Strategy, explicou que a

cliente espera de uma consultoria. Para ele,

que será executado e até onde é possível ir.
“É importante explicitar o viés analítico do
trabalho. Somos todos pressionados, mas
não temos bola de cristal. Apresentamos
  
-
te”. Ele ressaltou que o Brasil é tão comple-
xo que algumas metodologias utilizadas no
exterior simplesmente não funcionam aqui.
“Precisamos aprender a nos comunicar e en
-
tender a análise de risco político dentro de
casa”.
O sócio da Arko Advice concordou que o Bra-

para investidores estrangeiros. “Falamos
português, o que nos diferencia dos outros
países da América Latina. Os gestores não
têm acesso a muito material em inglês so
-
bre nosso país. Eles não têm tempo para ler
nossos regimentos internos e leis, por isso
precisam de uma análise política bem funda
-
mentada”.
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
28
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Imprensa e lobby, uma relação em
construção
A relação da área de relações governamen-
tais com a imprensa também foi tema de de-
bate no congresso. Mediada pela cientista
política, professora da ESPM e conselheira
do Irelgov, Denilde Holzhacker, a mesa-re-
donda contou com os jornalistas Iuri Pitta,
da CNN Brasil, Eliane Cantanhêde, do Estado
de S. Paulo e a presidente executiva do Insti-
tuto Palavra Aberta, Patricia Blanco.
A moderadora lembrou que a relação entre
as duas atividades já foi mais distante, mas
que a situação vem mudando com a maior
   
    
buscam dados relevantes e transparentes,
até para fazer frente ao processo de de
-
sinformação que vem impactando a opi-
nião pública. O relgov pode ser um aliado
nessa busca”, disse.
Eliane Catanhêde comentou que a imagem
do lobista que andava com gravatas caras
e organizava festas extravagantes acabou.
“Hoje ele conhece bem o setor que está re
-
presentando, seus números. Seu principal
-
nalismo”. Para ela, políticos populistas de di-
reita e de esquerda querem sufocar a mídia
para poder incutir nos corações e mentes da
população seus interesse e crenças. “A mídia
é um anteparo, dá a oportunidade ao povo

sem imprensa livre jamais poderão ser cha-
mados de democracia”.
Iuri Pitta revelou que já trabalhou “do outro
lado do balcão”, com assessoria de imprensa,
quando levou as propostas de uma multina
-
cional do setor energético para os candida-
tos às eleições de 2018. “Foi quando des-
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
29
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
cobri que não temos noção de como somos
parecidos. Vender uma pauta necessita de
boas informações e argumentação sólida”.
Para ele, o jornalista se baseia no interesse
público. “Se a informação tiver fundamento,
ele vai ouvir. Mas o apelo também é impor-
tante: não adianta vir com um calhamaço de
informações técnicas difíceis de entender”.
Patricia Blanco comentou que o ambiente
      
opinião sobre tudo. O processo de descons
-
trução do papel da imprensa faz com que a
relação fonte de informação e jornalista se
torne cada vez mais difícil. “Se falo direta-
mente com meu público por meio das mí-
dias sociais, não preciso mais atender esses
jornalistas incômodos que fazem perguntas
que não quero responder. É assim que mui
-
tos pensam”. Por isso, é importante fazer a
população entender o papel da imprensa e
que liberdade de expressão é condição sine
qua non para a democracia. “É um direito de
cada um de nós, cidadãos, não apenas da im-
prensa”.
Sobre as relações governamentais, Blanco
observou que elas também podem contri
-
buir para o fortalecimento dos regimes de
liberdades democráticas. “Mas podem ir
além: um ponto importante é como as rela-
ções governamentais conseguem incentivar
a construção de boas políticas públicas. Um
exemplo foi a aprovação da lei contra a po-
-
ninas e mulheres de baixa renda”.
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
30
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Relgov no mundo pós-Brexit: extremismo
político, pandemia e guerra
Erik Camarano, Diretor Sênior de Relações
Governamentais LATAM na BioMarin, bateu
um papo rápido com Karan Bhatia, vice-pre-
-
cy do Google, ex-subsecretário de comércio
dos Estados Unidos e com longa experiência

Como as relações governamentais se dão
atualmente?
Quando comecei nessa área o cenário era
mais básico – em muitas empresas a área
     
    
Na verdade, o lobby era fonte de incertezas
para as empresas.
Hoje a maioria das grandes empresas conta
com um departamento dedicado, logo abai
-
      -
mentos, o papel do governo é mais impor-
       
sucesso ou no fracasso comercial. Às vezes
a questão regulatória atrapalha e o risco su-
pera os benefícios.
Todas as gerações consideram o seu momen
-
-
timos 20 anos, o zeitgeist era de integração
internacional, de economias convergindo.
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
31
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Entretanto, houve uma fratura nesse con-
senso e hoje já se fala em “desglobalização”,
um movimento no sentido contrário, turbi-
nado por regimes populistas, que incenti-
vam o protecionismo econômico.
O mundo é multipolar, com lideranças frag
-
mentadas – Rússia, China, o ocidente preo-
cupado com suas divisões internas. Há incer-
teza e alguns países não sabem como agir
-

globais, o que torna ainda mais importante a
atuação dos relgovs.
Ao mesmo tempo, existem mais partes in
-
teressadas – colaboradores, comunidades,
stakeholders, políticos, ativistas de direitos
-
vernos, as empresas assumem um papel de
liderança, mas para tal a companhia precisa
entender seus próprios valores. Explicar ob-
jetivos e propósitos a todos esses públicos é
-
zo de resposta é cada vez mais curto, caiu de
horas para minutos.
Nesses dois últimos anos fomos surpreen
-
didos pela pandemia. O que mudou na área
de relgov? A integração digital acelerou?
Nesses dois últimos anos de condições ex
-
traordinárias houve mais aceleração do que
haveria em 10 anos “normais”. E isso vale
para tudo – desde as formas que usamos
para nos encontrar ao entretenimento. Isso
alterou radicalmente os negócios e não va-
mos voltar ao cenário anterior.
A humanidade abriu uma caixa de pandora.

de dentro de nossas casas. Para a área de
relgov é muito prático. Lidero equipes em
55 países e todos aparecem em pequenos
quadrados na tela. Isso traz igualdade para

E quais são os efeitos colaterais? Como
será o futuro do relgov?
Muitas tensões acumuladas já existiam an
-
tes da Covid-19 - desigualdade econômica,
problemas ambientais e raciais. Isso provoca
-
ceis.
No entanto, os países poderiam se unir para
encontrar soluções. A pandemia não teve co
-
ordenação central alguma, foi cada um por
si, cada país correndo atrás de vacinas e fe-
chando fronteiras. Essa desorganização não
ajuda nossa atividade.
Há muitos estudantes acompanhando o
congresso. Quais são as habilidades do
prossional de relgov do futuro?
Não podemos mais ser generalistas. Sere-
mos obrigados a conhecer a fundo o sistema
político de um país, ter domínio dos temas
para agregar valor. Em um mundo que traba-
lha cada vez mais com conexão entre as pes-
soas, habilidades de comunicação - escrita e
oral – serão essenciais.
Como operamos em ambientes incertos, te
-
mos que possuir boas capacidades de julga-
mento para avaliar as situações. E isso não
é fácil; se fosse, seríamos substituídos por
computadores. O Google até está trabalhan-
do nisso, mas não será tão simples.
CAPA
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Capitalismo de todos
Como o capitalismo lida com seus stakehol-
ders? Quais as formas de levar os conceitos
de diversidade para dentro das empresas?
Esses foram os temas da mesa-redonda me
-
diada por Guilherme Athia, CEO da Gui Athia
& Partners. “Se até pouco tempo os stakehol
-
ders eram deputados ou diretores de pode-
rosas federações de indústrias, hoje o cená-
rio é bem mais complexo. Todos são públicos
de interesse e têm algo a dizer, que deve ser
ouvido pelas empresas”, ressaltou Athia.
Valeria Café, diretora executiva de Vocaliza
-
-
ro de Governança Corporativa), ressaltou a
importância dos conselhos de administração
das empresas, responsáveis por garantir a
sustentabilidade da organização e de todo
seu ecossistema. “Para tal, é necessário
transparência, prestação de contas, equida
-
de, governança e responsabilidade corpora-
tiva. Desta forma, há equilíbrio e o empre-
endimento terá condições de se relacionar
com o governo e parceiros. E o protagonista

governamentais, um agente transformador
que conduz essas relações”.
Sócia do Mattos Filho Advogados, Ariane
Costa Guimarães falou da importância da
diversidade dentro dos conselhos. Para ela,
contar com diferentes visões é um ponto im
-
portante para acolher novas demandas da
sociedade, como as associadas ao tema ESG
(sigla em inglês para governança ambiental,
social e corporativa). “Um exemplo são as no
-
vas regras para as companhias abertas, que
passarão a ter que apresentar informativos
sobre os impactos climáticos de suas ativida
-
des, com critérios claros, evitando que seus
discursos soem vazios”.
Para Marcel Fukayama, líder de Política Glo
-
bal do B Lab, o consumidor tem estado cada
vez mais consciente sobre seus atos de con
-
sumo, o que tem levado empresas a busca-
rem formas de se apresentarem de maneira
positiva para seus públicos. “Nosso primeiro
Foto: Thiago Ribeiro
Foto: Thiago Ribeiro
Valeria Café

IBGC
Marcel Fukayama
Líder de Política Global do B Lab
CAPA
33
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
     -
ção, é descobrir quem são os líderes dispos-

escalar esse processo – infelizmente, ainda
estamos longe: no Brasil existem 18 milhões
de empresas, mas só 200 são empresas B”,
lamentou Fukayama. “Há mais de 10 anos
estamos trabalhando por um ecossistema
econômico mais regenerativo e sustentável.
Não é mais possível ganhar dinheiro de um
lado e comprar créditos de carbono do ou
-
tro, para compensar os danos”.
A líder de Cultura, Inclusão e Diversidade da
    

-
tais deve ter visão sistêmica e protagonismo
para mostrar que há resultados que só se
concretizam a longo prazo e que a diversi
-
dade é essencial. “A maioria das nossas em-
presas não é diversa. Das 90 empresas com
ações na bolsa de São Paulo, somente duas
são lideradas por mulheres. Se não temos
diversidade em nossas empresas que repre
-
sentem a sociedade não teremos inovação”.
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
34
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Compliance para a segurança de todos
      -
ções governamentais e as áreas de com-
pliance e jurídica foram o tema da última
mesa-redonda do congresso, mediada pelo

“Hoje acredito que as duas áreas têm
     
Carracedo, Chief Compliance, Risk & Audit
       
possível reproduzir os modelos do passado.
As relações têm que ter formalismo. Não
dá mais para ser um compliance que diz não
pelo não. É preciso argumentar”.
Para Olga Pontes, especialista em gover
-
nança, risco, compliance e auditoria é legi-
timo que cidadãos e empresas queiram se
relacionar com agentes públicos. “Não é um
pecado. Faz parte da democracia. No entan-
to, é preciso ser transparente e estabelecer
regras. Até porque será pouco provável con-
-
sa que se reuniu com um agente público e
não reportou”.
Vanessa Vilar, General Counsel Brazil da
Unilever, revelou que a responsabilidade é
de todos os colaboradores, pois trabalham
como um conjunto. “Todos vendemos Dove
e Hellmann’s. Todas as áreas são igualmente
importantes e devem seguir os três pilares
do compliance da empresa - prevenção, re
-
pressão e treinamento. O conhecimento e a
obediência a esse conjunto de normas aju
-
dam a companhia a se manter em um alto
padrão de conformidade”.
A ideia principal do compliance é pensar li-
nhas de defesa sucessivas. Ele é a segunda
trincheira”, disse Silvia Helena, Risk & AML

as relações sejam construídas com integri
-
dade. O compliance atuava muito olhando
para o passado pelo retrovisor. Hoje plane
-
jamos de forma a evitar problemas futuros.
Os executivos já perceberam que estamos
ali para ajudar, chegamos até a alinhar o con
-
teúdo da conversa com o poder público, por
exemplo”.
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
35
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Advocacy por um mundo melhor
A velocidade das mudanças tecnológicas
experimentadas pela civilização humana
nos últimos anos tem provocado alterações
    
Machado, cofundador e sócio da Cause
Brasil, essa rapidez desenfreada do mundo
eleva as pressões sobre todos e possui capa-
cidade de mudar o mindset de muitos pro-

O que está por trás desse cenário é o impac
-
to da tecnologia. Como isso afeta as formas
como consumimos, nos movemos, interagi-
mos? De que forma altera nossa mentalida-
de?”, lançou as perguntas Leandro Machado.
Para ele, isso criou uma estrutura em rede,
que aumentou o número de stakeholders,
além de torná-los cada vez mais poderosos.
“Exigem cada vez mais posicionamento das
empresas, que devem fazer muito mais do
que negociar produtos e serviços e pagar im-
postos. É preciso defender causas, deman-
das da sociedade. No entanto, elas precisam
estar em sintonia com as organizações, de-
vem ter aderência aos propósitos”.
Segundo Leandro Machado, o conceito que
vem à mente é o de advocacy, um termo ain-
da em construção, um conjunto de ferramen-
tas reunidas num esforço de longo prazo de
ações de comunicação, mobilização e cons
-
cientização, que demandam mais planeja-
mento do que atuação tática. A partir de um
tema que possua conexão com a empresa, o
advocacy ajuda a planejar melhor. “A estraté
-
-
      
os stakeholders tomadores de decisão, quais
são seus interesses, quem são os opositores
e obstáculos, inventariar os pontos fortes de
sua organização, buscar parceiros que con
-
tribuam com seu planejamento, estabelecer
metas, indicadores e resultados e pensar es
-
trategicamente”.
Foto: Thiago Ribeiro
CAPA
36
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
A hiperconexão das redes
Internet de alta velocidade, dispositivos
móveis, redes sociais: a receita empoderou
o cidadão de uma forma nunca antes ob-
servada. Uma única voz pode incendiar de-
bates e promover mudanças. Acompanhar
o que é dito no mundo virtual – mas com
consequências muito palpáveis no mundo
-
sionais de relações governamentais. Esse foi
o tema do oitavo Relgov Talk do congresso.
Ignacio García, CEO da Tree Inteligence, em
-
presa de monitoramento e análise de redes
sociais, começou falando de sua origem aca-
dêmica – a antropologia. “As mudanças nos
últimos 30 anos foram muito agressivas. Se
considerarmos a história da humanidade em
uma linha do tempo, em 99% de nossa exis-
tência até os dias de hoje fomos coletores
de alimentos. Fomos preparados para viver
em pequenos grupos. Esse conceito de hu-
manidade que está dentro de nós é pertur-
bado pela hiperconexão que as redes sociais
proporcionam”, explicou.
Ele lembra que, quando começou a trabalhar
com mídias sociais, as redes eram muito mais


sociedade civil organizada apresenta enor
-
me diversidade. As redes são descentraliza-
-
cais. Há múltiplos stakeholders, com diversos
tipos de vínculos, e as empresas precisam de
ferramentas para monitorá-los”.

-
nais de relgov terem uma visão sistêmica do
cenário no qual estão inseridos. “Existem di-
versos níveis e públicos de interesse. As re-
des são importantes para obter informações
e atuar. As ferramentas atuais permitem en-
xergar não apenas as redes multi-stakehol-
ders externas, mas também as internas. Essa
visão leva à formatação de estratégias mais
precisas”.
Foto: Thiago Ribeiro
Ignacio García
CEO da Tree Inteligence
CAPA
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
A constante imprevisibilidade do cotidiano
No último Relgov Talk do congresso,
Creomar de Souza, fundador da Dharma
Political Risk and Strategy, abordou os de-
     -
tam no cenário brasileiro. “Esses 800 dias de
pandemia provocaram mudanças coletivas
em diversos aspectos do cotidiano”, disse.
Cada época tem seu elemento imprevisí-
vel – o assassinato do arquiduque Francisco
Ferdinando, que provocou o início da Primei-
ra Guerra Mundial e mudou o mundo, a Re-
volução Russa, o assassinato do presidente
Kennedy, o suicídio de Getúlio Vargas, que
atrasou o golpe militar em pelo menos uma
década - o nosso é a Covid-19”.
Segundo Souza, é preciso ir além da análise
do passado. “O retrospecto não resolve, mas
ajuda. A maioria das tendências ocorre no
campo do que não sabemos. O grande de-

desta década provavelmente teremos outra
epidemia, por conta da expansão urbana, do
desmatamento, do contato da civilização hu-
mana com organismos que estavam restritos
-
que estão com visão de túnel”, comentou.
Nesse sentido, as consultorias têm a missão
      
-
cionam como um farol a iluminar o caminho.
Em uma democracia instável e volátil somos
exigidos cotidianamente a ter respostas.
Para se ter uma ideia um pouco mais precisa,
torna-se necessária uma abordagem multi-
disciplinar da realidade. As consultorias são
capazes dessa interpretação”.
Foto: Thiago Ribeiro
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Sustentabilidade. Ética. Responsabilidade
empresarial. Interação. Relacionamento.
Pensamento integrado. Diálogo. Adaptabi-
lidade. Transformação. No mundo de hoje,
não são mais apenas conceitos adjacentes ou
soltos. São itens de sobrevivência corporati-
va. Sem isso, não se consegue engajamento.
Por conseguinte, não se tem alinhamento,
mobilização e ação assertiva e efetiva.
Compliance (ou conformidade) veio para
apoiar as empresas com regras claras, maior
regulamentação, pontos de controle e orde
-
namento. Essenciais para um bom desempe-
nho empresarial. Mas não pode ser encarada
como uma área hermética. Compliance tem
que atuar em sinergia com todas as áreas da
companhia, sejam de negócio, operacionais
e administrativas e/ou de apoio. É óbvio que
há mais interação com alguns departamento
 -
les internos e segurança de dados e da infor-
mação, mas todas as áreas devem estar em
consonância com a conformidade.
Para tanto, também é fundamental que a or
-
ganização tenha narrativas – legítimas, cons-
trutivas, transformadoras e integradoras –
que engajem as pessoas, para que toda boa
intenção não se perca, literalmente!
Quando o assunto é compliance, sempre é
lembrada como um ponto de atenção a falta
de sintonia entre as áreas da empresa. Po
-

compliance era um assunto “selado”, de res-
ponsabilidade apenas de um departamento.
As empresas brasileiras têm buscado um
Compliance com regras claras
e trabalho integrado blinda
montanhas
ARTIGO
39
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 2- JUNHO
Carlos Parente

40
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
equilíbrio entre conformidade, negócios,
operações e crescimento estratégico, ali-
nhando objetivos de negócios, operacionais
e comerciais com os cuidados e as regras de
conformidade, mitigando riscos e aumen-
tando o valor de seu negócio.
Quando a área de Compliance está ideal
-
mente integrada em toda a empresa e posi-
cionada para contribuir com as decisões de
negócios e se adaptar rapidamente às cons-
tantes mudanças inerentes ao mundo atual,
os líderes podem tomar medidas mais ágeis,
com embasamento, sem comprometer a efe-
tividade das operações e dos negócios.
Sem dúvida, atuar com regras claras, de co
-
nhecimento de todos, e com atividades se-
dimentadas em bases sólidas, com apoio de
políticas, normas e outros instrumentos for
-
mais, é um bom passo de compliance. Mas
isso deve estar integrado a todos os depar-
tamentos, ser incorporado ao dia a dia da
empresa como fator do negócio e da ope-
ração. Compliance tem que ser uma vanta-
gem competitiva. A ética, a transparência e a
conformidade formam um grande ativo das
empresas, único e inegociável.
Se não houver diretrizes, conceitos e com-
portamentos que legitimem uma estrutura
organizacional fundamentada em crenças,
princípios e valores fortes, a organização ou
os colaboradores podem recair em erros ou
deslizes ou, ainda, trilhar caminhos inapro
-
priados, o que ninguém em sã consciência
quer.
ARTIGO
Por trás de tudo, as relações humanas...
O que predomina, em todos os processos –
operacionais, negociais e administrativos –

voláteis e muitas vezes informais. E, nesse

nas organizações, bem preparados e capaci
-
tados, amparados também por regras claras
de compliance na empresa, pode ser muito
importante. E aqui estamos falando de com
-
pliance não pelo lado punitivo, mas pelo viés
orientador, educador.
E tendo como pano de fundo os valores e
princípios da organização, os preceitos éti-
cos e a transparência. Isso somatiza para a
criação de narrativas integradoras na ativi-
dade da empresa e das pessoas.
As narrativas devem basear-se na legalida
-
de, mas também na legitimidade. Essa prer-
rogativa explica porque muitas empresas,
estruturalmente, colocam a conformidade
em um guarda-chuva maior, de programa de
integridade. A cultura de integridade con-
41
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
ARTIGO
tribui para o aperfeiçoamento dos mecanis-
mos de governança e para a manutenção de
um ambiente de negócios consistente.
Tudo é passível de risco nos relacionamen
-
tos corporativos. A conformidade, no pro-
cesso de construção de narrativas de uma
empresa, faz parte da legitimação de qual-
quer companhia, olhando não só os aspectos
de legalidade, mas também o contexto, pois
conforme a sociedade evolui e se transfor-
ma o arcabouço legal também vai evoluindo
e se adequando.
Dessa forma, compliance não pode apenas
focar nos riscos e no “não à primeira vis
-
ta”, mas sim em contribuir para a criação de
um escudo de proteção a toda a substância
corporativa da organização, junto com os
preceitos éticos e a cultura organizacional.
Qualquer ação empresarial está sempre no
contexto das relações humanas.
Não podemos nos esquecer que o mundo
está em contínuo progresso, com mudanças
a cada segundo, mas há questões no univer
-
so corporativo que nunca deixam de ter im-
portância, como “o que pode” e “o que não
pode”, a gestão de situações embaraçosas e
o andamento das coisas no dia a dia. Como
as relações funcionam no cotidiano? Como
dizer não?
Na conjuntura do entendimento das rela
-
ções humanas, quando acrescentamos, às
regras de conformidade, pitadas de ingre
-
dientes valiosos como razoabilidade, bom
senso, sensibilidade, empatia e leitura trans
-

42
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Integridade e compliance como
elementos estratégicos na
organização
Os executivos das empresas, em geral, estão
enxergando os programas de integridade
e compliance, no contexto atual, como um
investimento e não mais como um custo,
integrando-os aos objetivos estratégicos
das organizações. Esse direcionamento
torna crucial uma governança integrada e

Ainda mais no atual ambiente empresarial.
Estamos imersos em um momento da
humanidade em que tudo muda ao mesmo
tempo e agora.
O ritmo das mudanças regulatórias e a
convergência da regulamentação global,
atrelados à concorrência de novas empresas,
ao surgimento de novos nichos de negócio,
ao aumento da pressão dos stakeholders e
ao rápido avanço tecnológico, criaram um
ambiente extremamente complexo para
todas as organizações.
Atributos como capacidade de fazer
várias coisas ao mesmo tempo, adaptação
constante, conhecimento, relacionamento
e resiliência são algumas das características
    
nas companhias. Assim, passou a ser
    
capacitados para entender os cenários,
estabelecer estratégias positivas e tomar
decisões adequadas.
Não adianta uma empresa ter um programa
de integridade e compliance robusto, uma
governança alinhada às melhores práticas
      
produtividade e contar com iniciativas
ESG expressivas se as áreas internas
apresentarem problemas. As lideranças têm
que dar o exemplo, e devem ser capacitadas
em integridade e conformidade, para depois
reforçar com suas equipes.
    
as políticas, consulte as normas de

da organização. A sua credibilidade é o mais
importante dentro da organização e fora
dela. Mas olhe compliance em um contexto
maior, com cuidado e foco nas relações
humanas.
ARTIGO
A atividade de relações governamentais é
     
-
cessidade de construir um nível de interlo-
cução da organização que se defende junto
a esferas diversas do Poder Público, faz-se
necessária também a construção de um pro
-
cesso de imersão de aprendizagem dos ato-
res internos sobre os riscos e as ameaças
que um ambiente político conturbado tem
sobre o faturamento e a reputação de qual
-
quer empresa e negócio.
Como um primeiro passo, é importante ten-
tar mentalizar o princípio de que elementos
inerentes à atividade de defesa de interes
-
se legítimo passam pela construção de um
olhar assertivo sobre riscos e ameaças. A
partir daí, surge no horizonte a necessidade
de falar um pouco mais sobre análise de ris
-
co político.
Concretamente, o diálogo sobre risco polí-
tico parte de uma premissa de base: a ideia
de que determinadas ações ou escolhas da
organização da qual fazemos parte podem
gerar dano reputacional ou regulatório para
esta. Obviamente, há de se reconhecer que
existe uma série de outras matizes e elemen
-
tos que se colocam no rol de elementos que

na literatura, passando de Nassim Nicholas

os textos e as abordagens sobre esse tema.
Efetivamente, portanto, ao buscarmos an
-
tecipar qualquer risco, suas consequências
e os elementos daí derivados, basicamente
estamos trabalhando com duas questões:

Em termos metodológicos, a construção de

construção de evidências fortemente estru
-
turadas é fundamental para o trabalho de
análise de risco político. Por consequência, a
internalização destas premissas só é plena à
medida que se construam parâmetros trans
-
Análise de risco político: manual
de uso
ARTIGO
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 2- JUNHO
Creomar de Souza
Fundador da Dharma Political Risk
and Strategy
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
ARTIGO


a atividade de relações governamentais em
um país como o Brasil, onde as regras do
jogo se transformam com muita frequência
e as instituições são constantemente cons
-
trangidas por arroubos de toda ordem. No
ambiente político brasileiro, a construção
desses parâmetros é ainda mais importante
e crítica.
Retomando um elemento esboçado no início
 
-
de de entender a lógica de risco político não
apenas como derivada de uma externalida
-
de. Faz-se sumamente importante pensá-la
como uma derivação endógena de tempos
complexos, em que a forma como cada ator
dentro da tomada de decisão da organiza
-
ção fala pela organização de acordo com a
conveniência dos críticos e concorrentes.
Este entendimento é importante sobretudo
pelo fato de que, ao pensarmos no exercício
     
-
tando daquilo que está fora do radar de uma
atividade cotidiana.
Peguemos, como exemplo, o processo elei
-
toral em curso no Brasil. De maneira funda-
mental, os gestores de relações governa-
mentais em período eleitoral estão premidos
pela força das circunstâncias. De um lado,
há uma série de atores políticos que podem
efetivamente criar ameaças ou problemas
reputacionais para sua organização. Aqui é
importante lembrar que o Brasil é um país
com alto nível de ingerência estatal na ativi
-
dade econômica, o que faz com que, direta
ou indiretamente, os governos de ocasião
representem interesses de um sócio por ve-
zes temperamental.
Soma-se à essa pressão externa a necessi-
dade de que se construam salvaguardas e
processos internos que antecipem e miti
-
guem danos e riscos reputacionais. O pro-
blema, entretanto, está no fato de que, por
vezes, os atores da própria organização não
são partícipes desse processo. Este fato nos
remete, novamente, à necessidade de um
trabalho de imersão de aprendizagem – ou
talvez, em outras palavras, de uma evange
-
lização – dos stakeholders sobre a importân-

recorrentes de variáveis de risco político. Se
aquilo sobre o que se tem percepção é uma
ameaça, o número de variáveis que está fora
do nosso radar constitui-se em outra tarefa
espinhosa.
Lidar com o imponderável, com algo que não
pode ser antecipado com uma apreciação
anterior dos fatos, portanto, acaba sendo
uma tarefa ingrata. É impossível que consi
-
gamos antecipar tudo. Este fato reforça a
necessidade de retomada do diálogo acerca

metodologia permite construir as perguntas
necessárias para entender os tipos de amea
-
ças que se colocam e para diminuir o nível de
variáveis de controle que se referem às ame
-
aças, a transformação dessas inferências em
     
para atores pouco afeitos aos dilemas des
-
te campo de conhecimento é uma condição
sine qua non para que os eventuais percal
-
ços representados por essas variáveis sejam
minimamente controlados.
Defesa de causas e advocacy
ARTIGO
45
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 2- JUNHO
Causas” nada mais são que problemas pú-

para que haja soluções. Os problemas so
-
ciais e econômicos que afetam todos – seja
em uma cidade, estado ou país – são concre
-
tos e perversos: fome, violência, falta de sa-
neamento básico, mudanças climáticas, des-
matamento, baixa qualidade da educação e
inúmeros outros.
No Brasil, os indicadores sociais, de renda e
de desigualdade mostram claramente que
precisamos de solução na prática. E se en
-
gana quem acredita que somente o governo
vai resolvê-los, sozinho ou sem pressão. A
participação da sociedade e de todos seus
atores políticos é fundamental se queremos
um país melhor no futuro.
A defesa de causas está na pauta de muitos
setores, não só das ONGs. Empresas são cada
vez mais cobradas a se posicionarem. ESG e
outras iniciativas incorporarão ao setor cada
vez mais métricas cujas externalidades ne
-
gativas sejam endereçadas. Além disso, em-
presas são atores políticos com impacto na
comunidade em que atuam, perante outros
stakeholders e convivendo com problemas
sociais e ambientais que afetam todos. Por
isso, não poderão deixar de ter em seus ne
-
gócios estratégias que contribuam para so-
lucionar esses problemas.
A busca por impacto social será cada vez
mais atrelada ao impacto de alta escala que
mude indicadores locais ou nacionais e que
contribuam realmente para a solução de
problemas sociais e econômicos. No geral,
países desenvolvidos chegaram a tal ponto
pela atuação ativa da sociedade civil, apoian
-
   -
vendo ações de advocacy.
Advocacy é um termo usado há muito tempo
-
sa de causas. Tem-se uma confusão de que
seria o mesmo que relações governamentais
ou lobby, mas é mais do que isso. Trata-se de
uma estratégia para trazer mudanças com
-
portamentais, políticas ou sistêmicas. E, por
ser uma estratégia, a depender da mudança
que se quer, utilizam-se diversas ferramen
-
46
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
tas. Lobby seguramente é uma delas, mas
existem muitas outras, como campanhas,
acordos privados, divulgação de relatórios e
coalizões, entre outras.
Produzir conhecimento sobre um tema pode
mudar comportamentos. Como por exem
-
plo, o primeiro relatório sobre os malefícios
do cigarro a longo prazo mudou a mentalida
-
de das pessoas. Ou ainda, acordos privados
que podem mudar a história de um ambien
-
te e trazer ganhos ao país. É o exemplo do
“Pacto pelo Esporte” que mobiliza empresas
brasileiras a somente patrocinar entidades
esportivas comprometidas com integrida
-
de, governança e transparência. Ou ainda o
“Pacto contra o trabalho escravo” cuja ca
-
deia produtiva se compromete a não com-
prar de empresas envolvidas com a prática.
Há anos, o advocacy é utilizado em países
como EUA e Europa para defender causas
ou realizar mudanças estruturais, mas ainda
não ganhou no Brasil a relevância e o enten
-
-
ção racial nos EUA às alterações nas regras
eleitorais no Brasil, como a punição pela

campanha, a Lei da Ficha Limpa, a aprovação
do Fundeb, políticas de combate ao trabalho
escravo e tantas outras foram resultados de
ações de advocacy.
O que falta ao Brasil não são propostas, ca
-
ses e ideias para os problemas públicos, mas
ações para que virem realidade e tragam re
-
sultados concretos. Apesar de a sociedade
civil não ter a caneta na mão e a escala que

que leis sejam aprovadas ou políticas sejam
implementadas.
O primeiro passo é ter claro qual a mudan
-
ça que se quer e como ela pode acontecer.
É preciso fazer isso de forma detalhada. A
sociedade civil, para de fato causar impac-
to social com escala, precisa estar no jogo e
com todo o conhecimento como se a caneta
estivesse com ela para tomar decisões. Ou
seja, é preciso saber quais as causas dos pro
-
blemas, quais as alavancas da mudança e, a

Quando se trata da área social, econômica,
ambiental e política, os problemas são com
-
plexos e o cenário, imprevisível. Por isso que
um plano de advocacy é fundamental para

-
mente em atividades.
Um plano de advocacy se diferencia de um
planejamento estratégico tradicional e tem
     
-
-
ça e as variáveis são complexas. Para realizar
mudanças estruturais, são necessárias ações
de longo prazo, planejadas e que atuem nas
causas dos problemas, caso contrário corre
-
mos risco de atuar somente nos sintomas,
“enxugando gelo”.
Advocacy não é algo somente usado por
ONGs. Pode ser usado por pessoas ou mes
-
mo empresas. Todos são atores políticos
dentro de uma democracia. E conseguir mu
-
danças não é tarefa impossível, mas com cer-
teza a inação pode trazer resultados com os
quais não estamos felizes como sociedade,
pois as decisões políticas são tomadas dia
-
riamente, com ou sem nossa participação.
Por isso, advocacy não é lobby. É mais do que
isso. E é o meio com o qual empresas, ONGs
e movimentos podem realmente promover
impacto social com escala e é algo vital e ne
-
cessário para que um país democrático ca-
minhe para um desenvolvimento inclusivo,
sustentável e justo.
ARTIGO
47
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Ao falar sobre o papel do lobby na estratégia
dos negócios, convido o leitor a um exercício

-
do desta palavra e das várias interpretações
que esta possui, variando no tempo e no es
-
paço, dependendo fortemente dos fatores
sociais e culturais.
Do dicionário Oxford temos que lobbying é
uma atividade de pressão de um grupo or
-
ganizado sobre políticos e poderes públicos

-
ência ao seu alcance, sem buscar o controle
formal do governo. Ou seja, toda atividade
organizada, exercida dentro da lei e da éti
-

legítimos com o objetivo de ser ouvido pelo
poder público para informá-los e deles obter
determinadas medidas, decisões e atitudes.
O lobista nada mais é do que um estrategis
-
ta, um negociador que age como intermedi-
ário no desenvolvimento de uma atividade
ou projeto. Ademais, o lobista possui um co
-
nhecimento profundo sobre o funcionamen-
to do governo e de seus elementos chave, e
 
os atores mais importantes em um determi
-
nado assunto, nivelando as chances de que o

na decisão.
Infelizmente, na cultura latino-americana,
esta palavra não é muito bem-vinda, além de
muito mal interpretada, sendo confundida
e relacionada a atividades não “bem-vistas”
pela sociedade em geral, ao ser associada a
troca de favores ou corrupção. Neste senti
-
do, embora o lobby seja uma atividade legí-
tima e até mesmo regulamentada nas princi-
pais economias do mundo, por aqui ela soa
proibitiva. Talvez pensando nisso, e por cau
-
sa disso, evitei por algum tempo utilizá-la.
Ao exercitar o conceito do lobby e ao pensar
na função e no papel que tenho exercido nos
meus 22 anos de carreira, tenho buscado o
verdadeiro sentido desta palavra e as suas
associações. Tenho clareza de que o lobby é
Quem nunca fez lobby, que atire
o primeiro business card!
ARTIGO
47
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 2- JUNHO
Elbia Gannoum
CEO da ABEEólica – Associação
Brasileira de Energia Eólica e Novas
Tecnologias
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
ARTIGO
a formulação de uma estratégia para se atin-
 
a atividade do convencimento. O lobby é a
verdadeira arte de engajar e negociar.
Neste sentido de “negociar” é que podemos
entender que todos nós fazemos lobby, pois
todos negociamos, ainda que o mundo dos
negócios não seja exatamente a nossa pro
-

principal oponente somos “nós mesmos”,
pois tomamos decisões a todo momento,
ainda que de forma automática, desde o le
-
vantar da cama até as decisões mais comple-
xas, e para tudo isso existe sempre uma ne-
gociação, pois o ato de decidir precede o ato
de negociar. Neste processo estamos sem
-

por um caminho é necessariamente a renún
-
cia a outro. Ao trazer este conceito para o
mundo dos negócios e as organizações esta
-
-
do negociações e tomando decisões.
Noto que o crescimento e o desenvolvimen-
to das atividades econômicas e sociais po-

de grupos e de representações legítimas que
são capazes de articular as interações entre
os grupos de interesses e os detentores da
função decisória. Nesses meus vinte e dois
anos de carreira, passei onze deles entre os
detentores da função decisória, trabalhan
-
do em governos e instituições, do lado de lá

encontrar interlocutores organizados com
conhecimento do tema a ser tratado e com
conhecimento do papel e dos limites dos
gestores responsáveis pelas decisões. Nos
últimos onze anos, do lado de cá do balcão,
me sinto confortável e segura na interação
com o poder decisório, na medida que en
-
xergo bem o papel e os limites do meu inter-
locutor e consigo com facilidade me colocar
no seu lugar. É justamente neste ponto que
está o segredo do sucesso, fazer lobby é ne
-

     
bem os interesses envolvidos, os agentes
envolvidos e os objetivos a serem alcança
-
dos de forma empática. Ter empatia é saber
que o resultado precisa ser equilibrado.
O lobby é a arte da negociação, que neces
-
sita de uma estratégia, envolvendo um ou
mais interlocutores que precisam ser enga
-
jados no processo. É um jogo que exige um
interlocutor, um oponente. De modo sim
-
      
duas partes, e para isso um princípio preci
-
sa ser respeitado: o lobby necessita primar
      
ao jogador buscar a maximização de seu re
-
sultado, sem levar em consideração o efeito
sobre o seu oponente. Não se trata de um
jogo de soma zero, onde uma parte tem que
necessariamente perder para a outra ga
-
nhar, é sim uma estratégia de ganha-ganha
(win-win), onde as duas partes do jogo vão

    
-
ta) será bem-sucedido na sua carreira e na
arte de negociar.
No mundo dos negócios, os jogos não são
jogos de uma única rodada, e sim jogos dinâ
-
micos e repetidos, de modo que os atores se
encontrarão muitas vezes ao longo do cami
-
nho, inclusive em posições diferentes da in-
teração anterior, não podendo correr o risco
de sofrer uma retaliação. Desta forma, nas
andanças pela vida, adote a seguinte regra:
trate bem o seu porteiro, um dia ele será seu
presidente.
1 A palavra lobbyhall ou corredor. Segundo alguns estudiosos e devido ao fato das
articulações e “pressões” ocorrerem em lobbies de hotéis e corredores, surgiu o termo. Também é apontado o surgimen
-
to da expressão nos Estados Unidos durante a época do Presidente Ulysses S. Grant.
49
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Costumo começar minhas dissertações e arti-
gos relembrando que sempre vivemos em rede,
e sempre nos organizamos em comunidades.
Estas duas caraterísticas são inerentes à nossa
essência como espécie social, desenhada para
interagir em pequenos grupos de relacionamen
-
   -
procidade.
Entretanto, eventos super recentes na maneira
de nos organizarmos socialmente abrem cami
-
nhos para interagir em comunidades diversas,
concomitantes e virtuais, incrementando (muito
além da nossa capacidade de processamento)

Com base em quase duas décadas de mapeamen
-
tos contínuos, em diversos ambientes e países,
resumo estas mudanças recentes, produzidas
fundamentalmente pela capacidade de “descor
-
poralizarmos” das mídias sociais, nas seguintes
caraterísticas de redes humanas:
O mapeamento sistêmico de
comunidades de stakeholders
ARTIGO
49
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 2- JUNHO
1. Hiperconectividade de
relacionamentos;
2. Polarização de narrativas;
3.
Viralização acelerada de
percepções;
4. Multiplexidade de víncu-
los e tipos de stakeholders.
Ignacio García
CEO da Tree Inteligence
50
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
ARTIGO
A importância da multiplexidade
para o prossional de RIG
Destas quatro caraterísticas mencionadas acima
é a multiplexidade que gostaria de aprofundar

Institucionais e Governamentais) é fundamental
entender que hoje, mais do que nunca, devem
ser contemplados nos seus mapeamentos uma
diversidade maior de stakeholders envolvidos, di
-
reta ou indiretamente, com os issues e temas de
interesse (inclusive como parte do processo de
 
-
rios). Sim, tradicionalmente eram apenas consi-
derados os stakeholders legislativos e da própria
indústria; hoje precisamos entender as relações
sociedade ci
-
vil e suas intrincadas articulações.
Em complemento à multiplexidade de tipos de
stakeholders, resulta imprescindivelmente que o
mapamento de redes contemple também os di
-
versos tipos de vínculos que conectam os stake-
holders, adicionando camadas de relacionamen-
to diferentes, tais como: trabalham juntos na
mesma organização, integram determinada as
-
sociação ou partido, escreveram artigos juntos,
    
se seguem ou comentam nas mídias sociais, etc.
Veja que apenas os últimos dois são vínculos es
-
tritamente de mídias sociais e, dependendo do
caso, os menos relevantes para o mapeamento
de redes de stakeholders. Eis aqui mais um ponto
importante: o mapeamento de múltiplos stake
-
holders deve contemplar não apenas vínculos de

-
te do ambiente online, e sim integrar todas aque-

rede emergente revelará quais são os stakehol
-
ders e vínculos que emergem como críticos para
a viralização de determinados issues.
Quais os níveis de mapeamento de
comunidades?
Agora que observamos o que não mudou e o
que mudou neste mundo, que esteve sempre em

existem diversos níveis de mapeamento de co
-
munidades, não apenas circunscritos à comuni-
dade de proximidade.
A seguir sintetizo o que, acredito, são os cinco
principais níveis de mapeamento de comunida
-
des:
O primeiro nível é o interno ou da Comunidade
Primordial, outrora objeto de mapeamento das
áreas orientadas aos recursos humanos e desen
-
volvimento organizacional. Hoje é crítico que o
      
-
51
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
ARTIGO
mento dos seus stakeholders internos é um ca-
pital estratégico para conduzir campanhas de
engajamento que utilizem toda a força dos seus

observa como a rede (informal) de uma organi
-

a posição estrutural que cada colaborador (o
stakeholder interno) tem na rede de cooperação,
independentemente da sua posição e hierarquia
formal. Nesta mesma imagem, é possível desta
-
     
mobilizadores internos relacionados com deter
-
minados temas de interesse. Trata-se de um raio
x de quem é quem dentro da organização, vital
para muitos projetos que precisam de mobiliza
-
ção e articulação de dentro parafora.
Figura 1. Rede (informal) de cooperação em empresa do segmento de energias limpas. Os pontos vermelhos são os
Stakeholders®.
O segundo nível é o local ou das Comunidades
de Proximidade corresponde ao território físico
tradicionalmente mapeado quando se trata de
entender e fortalecer a Licença Social para Ope
-
rar (ou LSO). Aquí os atores são mais capilares,

A medida que vamos nos afastando nas esferas
de interação (níveis III. Regional, IV. Nacional e V.
Internacional), obtemos um panorama cada vez
mais integrado, dinâmico e sistêmico do ecos
-
sistema de relacionamento onde a organização
está ou pretende estar inserida, sendo mais fácil
52
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho

uma parte ou partes da rede de múltiplos stake
-
holders.
Por último, resumo como seria uma visão inte
-
grada de redes multi-stakeholders, de grande
utilidade em tempos de ESG e materialização
sistêmica:
Rede Interna: revelar as redes formais e, sobre
-
tudo, informais de relacionamentos dentro das
organizações onde trabalhamos possibilita en
-
xergar quem é quem, independentemente do
 
-

Esta abordagem interna está relacionada com a
disciplina chamada de Análise de Redes Organi
-
zacionais.
Rede Externa: mapear as complexas redes de
relacionamentos entre múltiplos stakeholders
do governo, sociedade civil e indústria possibili
-
ta ter uma visão estratégica das dinâmicas de in-

a ciência de redes está revolucionado a maneira
como o mapeamento de stakeholders é feito pe
-
-
vernamentais.
Rede Integrada: 
-
da das conexões entre os atores internos e ex-
ternos possibilita obter uma visão sistêmica de
determinado ecossistema de negócios, respon
-
dendo a perguntas tais como:
Quem são os inuenciadores internos em de-
terminados issues?
Quem dentro da organizão já está interagin-
do com stakeholders externos chaves para im-
plementar e fortalecer as práticas de ESG?
Quais as conexões que precisam ser criadas ou
fortalecidas para atingir os resultados deseja-
dos de articulação de redes?
Figura 2. Rede integrando stakeholders internos (amarelo) e externos (azul-claro).
Elaborado com LivingStakeholders®.
Nota: Artigo baseado na palestra ministrada pelo autor durante o II Congresso Internacional IRELGOV.
Para mais informações, contatar o autor. ignacio@treeintelligence.com.
ARTIGO
53
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
O valor do engajamento multi-stakeholder
na construção de uma proposta de valor
sustentável com propósito
ARTIGO
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 2- JUNHO
Nos últimos dois anos, o mundo enfrentou o

-
da Guerra mundial. A pandemia de Covid-19 ex-
pôs as fragilidades dos sistemas globais em que
vivemos, evidenciando as desigualdades sociais
e os vazios assistenciais existentes nas socieda
-
des globais.
Para enfrentar a crise do Covid-19, temos a ur
-
gência de obter o compromisso de reformular
propósitos, ações e prioridades de líderes de
cada setor, governo, empresas e sociedade civil.
As empresas têm a oportunidade de realizar um
“reset, concentrando em fazer o que é melhor
para seus colaboradores, clientes, comunidades

-
pósito, engajando os stakeholders – acionistas,
funcionários, clientes, fornecedores, comunida
-
des locais e a sociedade em geral, na criação de
valor compartilhado e sustentável”.
O propósito da empresa precisa estar embutido
em tudo que se faz, criando valor a longo pra
-
zo para clientes, pessoas e sociedade. Contudo,
para harmonizar os interesses divergentes, é
preciso um compromisso de todos os níveis da
organização, que terá que tomar a difícil decisão
de priorizar investimentos de retorno rápido por
investimentos a longo prazo.
O foco em investimentos a longo prazo facilita o
desenvolvimento de métricas, que demonstram
como a estratégia traz crescimento consistente,
forte retorno aos acionistas e aumenta a con
-

À medida que as organizações mudam para se
tornarem orientadas por propósitos, o mesmo
     
valor de longo prazo.
Ligia Pimentel
Diretora de Assuntos Governamentais
América Latina da Varian
Medical Systems
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Uma empresa da área da saúde tem como propó-
sito melhorar a qualidade de vida da população e
ajudar a sociedade a diminuir os vazios assisten
-
ciais ao cuidado ao cidadão. A orientação aqui é
o paciente como centro trazendo acesso ao cui
-
dado e à saúde.
Para cumprir seu propósito, é preciso que essa
empresa compreenda o impacto de suas deci
-
sões e ações para seu paciente e a sociedade,
tenha uma compreensão holística de todos os
stakeholders interessados direta e indiretamen
-
te e como isso afeta o negócio.
Conhecer a jornada do paciente e todos os stake
-
holders envolvidos, compreender sua dor, iden-
 
como eles impactam paciente e negócio. Esse
conhecimento ajudará a empresa a validar a sa
-
ída para um problema e a cumprir com seu pro-
pósito.
Contudo, conhecer todos os problemas que afe
-
tam o paciente direta e indiretamente é um pro-
cesso contínuo e, para ser mais efetivo, é preci-
so envolver-se em todos os níveis da tomada de

limitações do sistema de saúde, até a prioridade
na política pública de saúde.
Conhecer os determinantes sociais em saúde, na
política e na medicina, ajuda a empresa a focar
no que é importante para o paciente e o busi
-
ness.
O engajamento multi-stakeholder é preponde
-
rante para entender as principais preocupações
dos interessados e o impacto da empresa sobre
eles, bem como traçar metas futuras. O envolvi
-
mento das empresas de saúde com multi-stake-
holder, seja com associações de pacientes, asso-
ciações médicas, associações setoriais, órgãos
de governo, academia, legislativo, órgãos inter
-
nacionais, é vital para orientar e priorizar o valor
a longo prazo.
     
-
sadas deve assegurar um processo robusto para
     
relevantes e proativamente engajar em ações de
valor e com uma frequência e consistência para
fortalecer a responsabilidade pelo valor susten
-

Isso muda a compreensão de sustentabilidade
     
corporativa), voluntariado (CSR) ou conformida
-
de ambiental para iniciativas totalmente integra-
das e entregues por meio do negócio principal.
As principais organizações orientadas por valor
dão vida ao seu propósito, alinhando sua lide
-
rança, criando oportunidades para os funcioná-
rios se envolverem em sua jornada de propósito
e tornando o propósito central na forma como
eles envolvem os clientes.
Subjacente a todas essas etapas está o compro
-
misso de ancorar sua estratégia ao propósito
para amparar decisões de negócios reais.
A sociedade está mais bem servida se as empre
-
sas alinharem seus objetivos para servir os obje-
tivos da sociedade.
ARTIGO
55
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Capitalismo: de shareholders para stakeholders
Um novo capitalismo para reduzir desigualdades
e enfrentar a emergência climática
ARTIGO
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 2- JUNHO
Em 13 de setembro de 1970, o Nobel de Eco-
nomia Milton Friedman moldou o capitalismo
atual ao argumentar em artigo no New York
Times que a maior responsabilidade social das
empresas é a maximização do lucro. A doutrina
Friedman, como é conhecida a tese, criou uma
era de enorme geração de riqueza. Desde 1980,
segundo o Banco Mundial, mais de 1 bilhão de
pessoas deixaram a linha da pobreza extrema. A
globalização e a corrida tecnológica trouxeram
um desenvolvimento jamais visto. As empresas,
de fato, se tornaram o principal agente econô
-
mico.
Contudo, a primazia do acionista (shareholder
primacy) gerou distorções sociais e graves con
-
sequências ambientais. Além disso, orientou go-
vernanças e gestões das empresas para um olhar
de curto prazo e orientado puramente à maximi
-
zação de lucros.
Em janeiro de 2020, pela primeira vez em mais
de 40 anos, o Fórum Econômico Mundial atuali
-
zou seu manifesto e endossou o conceito de Ca-
pitalismo de Stakeholders. A ideia central é que
as empresas deixem de gerar valor para um só
stakeholder, o shareholder (acionista), e passem
a multiplicar valor para todas as partes interes
-
sadas: colaboradores, membros da comunidade,
fornecedores, consumidores e, claro, o acionista.

na sociedade e propõe um novo paradigma em
que os negócios passem a gerar valor no longo
prazo e criem bem-estar para as pessoas, para a
sociedade e para o planeta.
Nessa linha, uma das maiores provas de concei
-
tos que o setor empresarial já vez, B Lab e Sis-
    
líderes empresariais comprometidos em atuar
com (i) propósito de impacto positivo; (ii) com
responsabilidade com seus stakeholders; (iii) e
compromisso com a transparência ao medir, ge
-
renciar e reportar seu triplo impacto.
Atualmente, mais de 150 mil empresas utilizam
a Avaliação de Impacto B para gerenciar seu im
-
pacto e mais de 5 mil delas em 80 países e 150
setores distintos alcançaram um nível rigoroso
Marcel Fukayama
Cofundador do Sistema B Brasil e atual
head de global policy do B Lab Global
56
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
de performance social e ambiental e receberam

Entre alguns exemplos, destaca-se uma das
maiores empresas B do mundo, a brasileira
Natura &Co, que atua em mais 100 países como
uma grande plataforma de impacto positivo.
Pioneira na contabilidade integrada, a empresa
publica seus resultados incorporando o impacto
social e ambiental em seu balanço. A lógica de

renda nas comunidades onde atua sem a neces
-
sidade de extração predatória.
-
quenas e médias. O Brasil tem se destacado pela
adoção de grandes empresas. Entre elas estão
Movida, ClearSale, Cia Hering, Reserva, Mãe
Terra e Danone Brasil. Outras assumiram pública
e concretamente o compromisso, como Gerdau
e Magalu.
É importante destacar que todas as Empresas B
são exigidas a alterar seu contrato ou estatuto

dos administradores com a geração de impacto
positivo e a consideração dos stakeholders na
decisão de curto e longo prazo. Tudo isso passa
a ser o “melhor interesse da companhia”. O que
      
global com a visão de criar um sistema econômi
-
co inclusivo, equitativo e regenerativo para to-
das as pessoas e para o planeta. As Empresas B
têm contribuído para isso ao mostrarem ser pos
-
sível fazer mais, melhor e, sobretudo, diferente.
      
Brasil, o movimento chegou a 240 Empresas B

de gestão de impacto. Ao mesmo tempo, o Mapa
de Empresas do Ministério da Economia aponta
que são mais de 19 milhões de negócios no país.

-
tarem como Empresas B, precisamos, portanto,

-

segmento econômico. Para isso, desde 2010, o
B Lab atua pela proposta legislativa conhecida

já foi aprovado em mais de 40 estados america
-
nos e diversos países, incluindo Itália, Canadá,
Colômbia, Equador, Peru, Uruguai e Panamá. No
Brasil, a proposta tramita no Senado Federal por
meio do PL 3284/2021 de autoria do senador
Rodrigo Cunha. A autorregulamentação é outra
forma de incidir na mudança das regras do jogo.
O B Lab e Sistema B também têm atuado com

-
mover uma mudança de comportamento no co-
ração do mercado de capitais.
Uma das propostas é a criação de um novo index
com empresas que adotem três práticas: (i) alte
-
ração do estatuto social para incorporar a lingua-
gem legal do Sistema B; (ii) criação de espaços na
governança que considerem os stakeholders na
decisão, como um comitê de stakeholders ou até
mesmo a co-participação, quando colaboradores
ou membros da comunidade passam a ser parte
do Conselho de Administração; (iiI) adotem uma
ferramenta de terceira parte e independente
para medir, gerenciar e reportar seu impacto.

esses compromissos ajudariam os investidores
com capital alocado em ESG, acelerando a tran
-
sição do mercado para a nova economia.
É fundamental, portanto, criar infraestrutura
para a governança de stakeholders, como as prá
-
ticas mencionadas acima para não se esvaziar o
conceito e dar espaço para um novo tipo de gre
-
enwashing. Ao instrumentalizar de forma con-
creta e clara gestores e investidores para uma
nova forma de fazer negócio, um novo capita
-
lismo que usa a força do mercado para reduzir
desigualdades e enfrentar a urgência climática
passa a ser a maior potência que temos.
ARTIGO
57
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Relações governamentais e sua
importância para áreas de negócio
ARTIGO
57
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 2- JUNHO
O presente artigo tem por objetivo explorar a
importância e a relevância da área de relações
governamentais dentro das companhias,
abordando sua transversalidade e proatividade
na elaboração das estratégias para defesa dos
interesses da empresa frente ao Governo.
Independentemente de quem são os
representantes eleitos para exercer cargos no
Poder Legislativo e Executivo, um fato é certo:
as decisões da administração pública terão
      
privado, sejam elas negativas ou positivas.
        
procedimento para obtenção de uma licença de
operação, um novo encargo, uma mudança em
determinado marco regulatório, por alterações,
modernizações ou novas legislações ou ainda
algum outro instrumento usado pelo Poder
Executivo ou Legislativo para regular a atividade
econômica.
     
analisadas e direcionadas dentro da companhia,
      
    
Governamentais (RIG).
Inicialmente a área de RIG foi criada para ser
o ponto de representação frente a agentes
públicos e, por esse motivo, tinha como papel
essencial o desenvolvimento do relacionamento
da empresa com essas partes. Cabia à área de
Miguel Menechini de Camargo
Analista de Relações
Institucionais e Governamentais
Edison Terra Filho

América do Sul da Braskem
58
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
      
de impacto e como decisões a respeito desses

claro, com o suporte das áreas especializadas em
cada tema.
       
RIG deixaram de atuar de forma apenas reativa
e tornaram-se mais colaborativos e proativos
na construção de políticas públicas junto com
stakeholders    
política pública a ser proposta, é o momento
de RIG analisar seu conteúdo, seus impactos, se
está dentro da matriz de risco, quais os prós e
contras, além de atuar para que a construção
desta política seja feita com base em evidências
técnicas e fomentando muitas vezes que
aconteça um debate com a sociedade.
Nesse momento, passou a ser exigido que
     
aprofundado do negócio e das operações da
empresa. Indiretamente, o relacionamento
inicialmente externo passou a ter de ser
construído também internamente, dando
      
transversal e analítica.
Na Braskem, entendemos a área de RIG como
um departamento estratégico da companhia,
capaz de trazer informações e fatos relevantes
para que o impacto das medidas do executivo e
legislativo seja melhor compreendido e avaliado.
Diante desta visibilidade e relevância, nossa
diretoria de RIG vem se expandindo, como
ocorre no mercado, e hoje conta com mais de 30
integrantes dedicados ao trabalho institucional
e governamental da empresa, espalhados por
diversos escritórios regionais.
       
Braskem desempenha um papel mais abrangente
pois sua interface vai além da relação com
agentes públicos, contando também com o
relacionamento com as comunidades locais em
que as plantas petroquímicas estão localizadas –
Maceió (AL), Camaçari (BA), Região do ABC (SP),
Duque de Caxias (RJ) e Triunfo (RS) e também
com a imprensa local destas regiões.
Do ponto de vista técnico-institucional,
      
desenvolvendo conhecimentos em diversas
áreas e em temas de diferentes abrangências:
do mais amplo, como energia, logística, relações
     
desenvolvimento sustentável e economia
circular.
Para cada um desses temas a área de RIG
realiza, além do trivial monitoramento
e acompanhamento político, o desenho
estratégico e de risco para este assunto,
dentro da ótica institucional, almejando mitigar
possíveis impactos de políticas públicas voltados
       
de relações governamentais ter visibilidade
das ações da companhia como um todo, as
políticas públicas propostas, em sua maioria,
são discutidas e debatidas por mais de uma área
dentro da empresa, ou seja, uma ação voltada
para temática de combustíveis é também
discutida com os times de matéria prima,
energia, jurídico e desenvolvimento sustentável,
por exemplo.
Além destas ações proativas visando
construção legislativa, a área de RIG também
atua transversalmente quando é demandada
internamente para um agendamento com algum
parlamentar, ministério ou agência reguladora.
Mais uma vez, a atuação transversal faz com que

não impacta outras agendas em curso dentro da
companhia.
Para apoiar nas ações e interlocuções realizadas
pela equipe de relações institucionais e
governamentais, a Braskem participa de diversas

ARTIGO
59
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
de RIG é responsável por realizar a co-gestão do
relacionamento com estas entidades junto aos
demais integrantes da companhia e, também,
pelo estreitamento dessas relações. Como
consequência desta participação em entidades
observamos um advocacy indireto com
stakeholders.
A atuação em entidades de classe transpassa o
relacionamento e representação, o time de RIG
atua juntamente com as áreas de negócio, levando
para discussão questões técnicas. Quando
temos uma demanda em Economia Circular,
por exemplo, a área de relações institucionais

capacitados para contribuir, avaliar e analisar a
temática tecnicamente.
A construção de uma agenda transparente
e respeitando as melhores práticas de
conformidade por parte do time de Relações
Governamentais e Institucionais, diretamente
ou por meio das entidades setoriais, com
comunidades locais ou agentes públicos, assim
como participação proativa no processo de
concepção de novas políticas públicas, tende
a trazer benefícios paraa sociedade como um
todo, uma vez que agrega conhecimento técnico
ao processo e promove o correto debate.
Para sintetizar em um parágrafo, a área de
Relações Institucionais e Governamentais
ganhou maior notoriedade ao longo do tempo
e hoje representa um departamento estratégico
para as companhias.
Com sua pluralidade e capacidade analítica,
promove a correta relação entre entes privados
e públicos para um patamar de criação conjunta.
Em suma, observamos que a reatividade
deu lugar a proatividade, transversalidade e
colaboração dentro da companhia.
ARTIGO
60
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Relações Governamentais e democracia
- uma relação simbiótica
ARTIGO
60
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 2- JUNHO
Uma democracia robusta pressupõe a partici-
pação do maior número possível de atores na
discussão de temas que interessem a toda a so
-
ciedade. Quanto mais plural, diverso e hetero-
gêneo for o debate, mais representativa será a
construção de políticas que atendam às deman
-
das dos cidadãos.
Diversidade e pluralidade são princípios demo
-
cráticos diretamente associados a outro funda-
mento da democracia: liberdade de expressão.
Juntos, esses conceitos são catalisadores de
necessárias transformações sociais para a cons
-
trução de sociedades mais justas e equânimes,
tarefa que no Brasil é inadiável diante da dimen
-
são das desigualdades e da profusão de atos vio-

atacar a própria democracia.
      
linha de frente e em contato direto com repre
-
sentantes dos poderes públicos têm papel fun-
damental na construção de políticas públicas

representam, mas também toda a sociedade. Ao
defender interesses legítimos de setores, a área
de relações governamentais tem uma relação
simbiótica com a própria democracia.

-
pais fatores de sucesso é a troca de informações

formas de solucionar problemas complexos.
Problemas esses que só serão superados a partir
da construção de soluções integradas e feitas de
forma colaborativa entre todos os agentes in
-
teressados, contribuindo para um debate cons-
trutivo e que possibilite a participação de mais
vozes na discussão dos mais diversos temas e
assuntos.
Patrícia Blanco
Presidente do Instituto Palavra Aberta
61
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Esta relação simbiótica, no entanto, impõe uma
grande responsabilidade. Seja na defesa de in
-
teresses, seja na discussão de projetos de lei e
     
-
mentais precisa levar em conta o impacto da-
quilo que defende não só para seu negócio, mas
também para os demais agentes envolvidos.
Não há mais espaço para defesa de causas ou
negócios que não atendam às questões sociais,
de representatividade, de equidade, de impacto
social ou que possam afetar negativamente de
-
terminados públicos. É preciso ir além de inte-
resses individuais ou de poucos e olhar de fato
para uma ação que vise o interesse coletivo e
que contribua para o desenvolvimento social,
econômico e para a melhoria do ambiente de
-
mocrático.
Neste contexto, vale lembrar de exemplos recen
-
tes que transformaram a realidade de diversas
comunidades e públicos vulneráveis que foram
      
surgiram a partir do conhecimento, do embasa
-
mento técnico, da análise de casos e demandas
percebidas por empresas atuantes do mercado.
Diversas ideias nascidas em discussões de pla
-
nejamento de entidades representativas da so-
ciedade civil e empresarial ajudaram a construir
políticas públicas de grande impacto que permi
-
tiram mudar a realidade de milhares de pessoas.
Sem contar a atuação de representantes da so
-
ciedade civil que, imbuídos de espírito público
e vontade, vêm auxiliando na implementação
de políticas públicas nas mais diversas áreas e
esferas do executivo - municipais, estaduais e
federal, funcionando muitas vezes como braço
operacional do poder público. Nesta verdadeira
parceria público-privada ganham todos - cida
-
dãos, empresas e governos. Nos últimos anos,
duas áreas merecem destaque e são exemplos
emblemáticos destas parcerias: saúde e educa
-
ção.
No entanto, essa atuação estratégica exige no
-
vas competências e habilidades, sem deixar de

como ética, integridade, honestidade de propó
-
sitos e, mais do que nunca, diversidade e repre-

da sociedade ou uma boa medida para os negó
-
cios, mas sim para a garantia de voz e participa-
ção de todos no processo democrático.
É importante lembrar ainda que não existiria
espaço para o desenvolvimento da área de rela
-
ções governamentais se não houvesse garantia
de liberdade de atuação e da livre iniciativa. Não
existe a possibilidade de diálogo ou de constru
-
ção de consensos em espaços autoritários, ou
seja, só há possibilidade de participação onde a
liberdade de expressão é garantida e onde o es
-
tado democrático de direito é respeitado.
Nos dias atuais e diante do aumento do radica
-
lismo e da polarização, não custa nada relembrar
questões que parecem óbvias. Mais ainda, é pa
-
pel de todos nós defendermos cotidianamente
os princípios que norteiam e embasam a demo
-
-
tais pode ser um grande aliado desta causa.
ARTIGO
62
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Relações governamentais e regulatório
ARTIGO
62
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 2- JUNHO
A economia no Brasil vem se modernizando e
com ela vem também a necessidade de se mo
-
dernizar nosso sistema regulatório. A abertura
de alguns setores a partir da década de 80, antes
concentrados nas mãos do Estado, exigiu uma
resposta política por meio da criação das agên
-
cias reguladoras. Os recursos públicos já não se
mostravam capazes de atender às demandas de
aprimoramento de determinados setores essen
-
-
cia dessas estatais e aos seus endividamentos
foram fundamentais para que se levasse a um
modelo que transfere para companhias privadas
a execução de tais serviços.
Foi logo no início do recém-eleito governo
Fernando Henrique Cardoso, em 1995, que se
iniciou essa discussão. Em dezembro de 1996 foi
sancionada a lei de criação da Agência Nacional
de Energia Elétrica (Aneel), regulamentada por
um decreto no ano seguinte. Em dezembro de
1997 ela passou a exercer formalmente suas
atividades como a primeira agência reguladora
brasileira. A nova autarquia assumiria as funções
anteriormente exercidas pelo Departamento
Nacional de Águas e Energia Elétrica (Dnaee).
Passados 25 anos, o que se vê é uma consolida
-
ção da relevância do papel das agências – até
hoje questionadas por alguns - e o amadureci
-
mento institucional dessas entidades. Uma lei
federal aprovada em 2019 determinou mudan
-
ças em relação aos mandatos da diretoria, lista
tríplice e outras medidas na direção do fortaleci
-
mento delas. Mais importante ainda foi o decre-
to concebido pelo atual Ministério da Economia
– trabalhado liderado pelo s ecretário Marcelo
Guaranys e por Kélvia Albuquerque, que resul
-
tou na instituição da Análise de Impacto Regu-
latório (AIR).
O instituto da AIR é crucial para a evolução do
nosso sistema regulatório. Ele induz as agências
a tomarem decisões mais técnicas, transparen
-
tes e com mais participação da sociedade. Além
disso, há também a previsão da Avaliação de
Paulo Homem
Gerente-executivo de Relações
Internacionais da Compass Gás &
Energia
63
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho

aferição da efetividade das normas. Ou seja, as
decisões amparadas pelas Análises de Impacto
alcançaram os objetivos desejados? Se não con
-
seguiram, as agências têm o dever de reverem
suas regulamentações. E, de fato, isso (resul
-
tados diversos dos pretendidos) acontece com
frequência. Nem tudo aquilo que faz sentido no
papel se reproduz na vida real.
Mas esse processo de amadurecimento também

seja a disputa por competência. Existem zonas
cinzentas onde não se tem a clareza de qual ente
é o competente para tratar um assunto. Essas
disputas se dão comumente entre os Poderes
Legislativo, Executivo e as agências reguladoras.
Há inúmeros casos concretos que retratam essa
situação.
Nesse sentido, o “ativismo regulatório” se mos
-
tra um fenômeno interessante. Não apenas por-
que representa um sinal de fortalecimento das
autarquias, mas também porque atua para impe
-
dir que outras instâncias se apropriem das fun-
ções das agências.
Outro tipo de disputa frequente são as inter
-
nas. Muitas vezes as áreas técnicas das agências
entram em colisão com a diretoria e isso aca
-
ba acarretando a paralisação de determinados
temas. Quando não se chega a um consenso, a


     
apresenta como decisiva. Quem atua em rela
-
ções governamentais também pode atuar no
regulatório? O contrário pode ser verdade? São
funções que devem atuar separadamente? Há

que podem ser colocadas e todas as respostas
podem estar corretas.
Dependerá sempre da característica do negócio

é surpresa para ninguém que a área de relações
governamentais evoluiu bastante e hoje exige
mais conhecimento técnico. Não necessaria
-
mente prévio (não chega a ser uma barreira de



as duas funções.
Há setores em que o regulatório é o coração de
uma companhia. Um exemplo é a distribuição
de gás canalizado. A principal discussão de uma
    
decidida por uma agência reguladora estadual
precedida de consulta e audiência pública. E é
uma discussão predominantemente regulatória.

-
gia, fazer o acompanhamento do assunto e criar
alternativas que vão além da discussão mais téc
-
nica. Esse é um caso em que se recomenda a se-
paração das atividades.
Tão importante quanto isso é o reconhecimento

-
tais precisam compreender melhor o ambiente
regulatório. É um terreno diferente do advocacy
tradicional, que em geral está mais relacionado
ao Legislativo e ao Executivo. São regras e dinâ
-
micas distintas. O acesso às informações e aos
players também é mais restrito, se comparado,
por exemplo, ao Congresso Nacional, onde os
parlamentares transitam normalmente pelos
corredores da Casa.
Uma iniciativa interessante poderia ser o
aprofundamento do estudo de sistemas re
-
gulatórios nas especializações de relações go-
vernamentais. É sem dúvida um nicho muito pro-
missor para o segmento. Portanto, precisamos
estar preparados!
ARTIGO
64
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
Mars promove convivência entre
pessoas e pets
ARTIGO
64
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - EDIÇÃO 2- JUNHO
Os pets já não são mais apenas companhias para
as famílias, eles fazem parte da própria família.
Essa é uma questão sempre levada muito a sério
pela Mars que busca, por meio do programa Bet
-
ter Cities for Pets, construir um Mundo Melhor
para os Pets, viabilizando a convivência ainda
mais próxima entre pessoas e animais de estima
-
ção para que possam aproveitar ao máximo os
benefícios desta relação.
O programa também contribui diretamente para
o compromisso da empresa de combater o aban
-
dono animal e atua em quatro pilares - Lares,
Abrigos, Negócios e Parques - fornecendo ferra
-
mentas de avaliação e materiais de apoio para
cidades e estabelecimentos que desejam se tor
-
nar pet friendly.
Uma das ações do programa Better Cities
         
Limitless para ampliar a oferta pet friendly em
mais de 300 hotéis da empresa em todo Brasil a
partir de uma nova política aplicada nos hotéis,
que foi implementada a partir de consultorias e
avaliações realizadas pela equipe da Mars e pelo
Guia Pet friendly, coordenado pela jornalista Cris
Berger – especialista do segmento – em algu
-
mas das principais unidades da rede, pensando
na jornada da família que se hospeda com pet
e sempre visando mais conforto e comodidade.
Alguns destaques da nova implementação es
-

de todas as áreas pet friendly nas comunicações
dos hotéis e preparação dos colaboradores para
receptividade do pet e de suas famílias. Os pets
acomodados nos hotéis da rede receberão um
kit de boas-vindas – com caminha, comedouro e
bebedouro – para utilizar apenas durante a es
-
tadia, sendo possível levar para casa por valor
determinado por cada unidade da rede. Sempre
pensando em construir ambientes em que pets e
tutores sejam felizes e bem-vindos.
Outra ação do Better Cities For Pets ocorre em
Mogi Mirim (SP), cidade em que a empresa está
há 25 anos e emprega mais de 700 pessoas em
Sheila Guebara
Diretora de Assuntos Corporativos da
Mars
65
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
sua fábrica, para implementar o programa e tor-
nar a cidade a mais pet friendly do Brasil.
Com o intuito de movimentar essa ação, a com
-
panhia, também em parceria com a jornalista
Cris Berger, ofereceu a capacitação de 150 es
-
tabelecimentos locais para se tornarem espaços
mais amigáveis aos pets.
Além disso, outras ações foram desenvolvidas
para mobilizar a comunidade em geral, como
promover conscientização nas escolas e apoiar
as ONGs locais. O projeto atua de acordo com
quatro pilares nos quais se incluem:
- Abrigos: combate ao abandono animal, enco
-
rajando a adoção responsável e campanhas de
controle populacional, além de apoiar o Centro
do Bem Estar Animal, ONG da região. O proje
-
to reforça o auxílio em doações de alimentos,
treinamentos e implementação de boas práticas
nos estabelecimentos.
- Lares: incentivar ações de conscientização por
meio de capacitação nas escolas e informações
sobre os cuidados com os pets para a população
em geral
- Parques: implementação de etiqueta pet e in
-
clusão de espaços públicos em que pets sejam
aceitos, além de promover eventos de adoção
para estimular a guarda responsável.
- Negócios: capacitação dos estabelecimentos
das áreas de hotelaria, bares e restaurantes por
meio da Universidade PetFriendly.
O programa Better Cities for Pets visa construir
locais em que pets e tutores tenham liberdade e
sejam bem-vindos nos mais diferentes espaços
– e esta é mais uma representação de um dos
nossos cinco princípios (qualidade, responsabili
-

de traduzir os nossos propósitos como uma com
-
panhia de mais de 100 anos comprometida em
tornar o Mundo Melhor para os Pets.
ARTIGO
66
DIÁLOGOS IRELGOV | 2022 - Edição 2 - Junho
O IRELGOV dá as boas-vindas aos seus novos associados
EMPRESA CIDADE ADMISSÃO
Representante(S)
GENERAL MOTORS DO BRASIL LTDA  São Caetano do Sul 26/04/2022
Adriano Griecco
Adriano Leite de Barros
Daniel Capelossi Caramori
Daniela Aesse Kraemer
Eliane Bonatto
Juliana de Paula
Luiz Roberto Vieira Gonçalves
Marina de Mesquita Willisch
IN PRESS OFICINA Brasília 25/05/2022
Carlos Henrique Fernandes e Silva
Patricia Regina Marins
Raiane Paulo dos Santos
Ronald Cavalcante de Freitas
NOVOS ASSOCIADOS IRELGOV
ASSOCIAD@S EMPRESA ADMISSÃO CIDADE UF
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ELAINE CRISTINA MARQUES SOCIEDADE INDIVIDUAL DE ADVOGADOS   
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