2
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Expediente #12
Julho de 2021
DIÁLOGOS IRELGOV é uma publicação
do Instituto de Relações Governamentais
(IRELGOV) Rua Funchal, 203 – cj. 111
Vila Olímpia – São Paulo – SP
CEP 04551-904
Fone: +55 11 98536-0012
E-mail: irelgov@irelgov.com.br
Conselho Deliberativo
Suelma Rosa (presidente)
Fabio Rua (vice-presidente)
Anna Paula Losi – Nacionalização & Entes

Creomar de Souza – Ensino & Pesquisa
Diego Bonomo – Internacionalização &
Parcerias Internacionais
Helga Franco – Diversidade & Inclusão
Juliana Celuppi – Empreendedorismo &
Transformação Digital
Valeria Rossi – Comunicação & Advocacy
Wagner Parente – Jurídico & Marco
Regulatório
Diretoria de Comunicação
Gisela Antakly Martinez
Conselho Editorial
Fabio Rua
Valeria Rossi
Gisela Antakly Martinez
A revista Diálogos IRELGOV é editada pela
Arteiras Comunicação
Rua Conde de Baependi, 39/ 502 – Flamengo
– Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22231-140 - (21)
99913 4464
E-mail: irelgov@arteiras.com.br
Jornalista Responsável: Luiza Paula
Sampaio (MTb 17.043)
Colaboraram nesta edição: Aldo
Bergamasco, Anselmo Takaki, Beatriz
Gagliardo, Bruno Cetira, Caio Leonardo
Bessa Rodrigues, Carolina Venuto, Christiane
Aquino Bonomo, Cibele Perillo, Erik
Camarano, Fatima Motta Flávia Fernanda
Costa, Helga Franco, João Marques, Leon
Rangel, Luis Gustavo Giolo, Nayana Rizzo,
Patrícia Nepomuceno, Raul Cury Rafael
Wowk, Rodrigo Almeida, Suelma Rosa,
Vanessa Barone, Verônica Hoe e Vivian
Oliveira.
Copyright © IRELGOV 2021 – Permitida a
reprodução desde que citada a fonte.
A HORA E A VEZ DOS LOBISTES
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São
dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com
espírito de fraternidade
(Art. 1º Declaração Universal dos Direitos Humanos)
Dados sobre o universo de diversidade e inclusão na área de Relações Governa-
mentais ainda são escassos. Por outro lado, não faltam vozes.
De acordo com o Anuário Origem, apoiado pelo IRELGOV, apesar das mulheres
          
posições de liderança. Além disso, nas posições de “entrada”, como as de
estágio e trainee, as mulheres somam apenas 26,2%. Não existem dados sobre o
cenário de assédio entre as mulheres em RIG, mas basta um passeio rápido pelos
grupos virtuais para se constatar o óbvio: há desconhecimento sobre o que é
assédio e uma percepção equivocada de que essa prática estaria “naturalmente
relacionada ao ambiente político”. Dados sobre a população LGBTQIAP+,
apontam que somente 36% se assumem para os colegas e 73% testemunham
atos de homofobia no local de trabalho. Não existem dados consolidados sobre



Em uma entrevista corajosa com Suelma Rosa, presidente do Instituto de
Relações Governamentais (IRELGOV) e Carolina Venuto, presidente da
Associação Brasileira de Relações Governamentais e Institucionais (ABRIG)
        

Ouvimos headhunters especializados no mercado de Relações Governamentais
sobre diversidade nos processos de recrutamento e seleção. Aprofundamos o
entendimento sobre liderança inclusiva e o papel dos aliados. Perguntamos aos

o lobby é inclusivo. Nos emocionamos ao conhecermos o PARR e sua contribuição
para a inclusão de refugiados no mercado de trabalho brasileiro. Vibramos
com o lançamento do livro “Relações Governamentais sob a ótica feminina”,

anunciamos a série “Embaixadores da Diversidade” que tem como objetivo dar
visibilidade às pessoas dentro da nossa comunidade que praticam a diversidade
e a inclusão no dia a dia, que podem nos inspirar e ter um efeito multiplicador.
Em breve, anunciaremos mais uma iniciativa do eixo de Diversidade & Inclusão
que esperamos servir de catalisador para as transformações que queremos ver.
E é só o começo. Nessa jornada de trocas e aprendizados, entendemos que
diversidade é igual a representatividade. E é preciso inclusão e conexões reais
para preservar e defender o direito natural de expressar o nosso “eu” de forma
completa e integral. Assim, esse também é um tema sobre alteridade, respeito,
empatia, solidariedade e responsabilidade. E a empatia - que permeia os demais
 
cria um real senso de comunidade, pois não nos reconheceremos no outro sem

      

melhor para TODES!
Boa leitura,
Helga Franco & Nayana Rizzo Sampaio
EDITORIAL
Nesta edição
03
07
17
40
Os champions da diversidade
O lobby é inclusivo?


O futuro é da liderança inclusiva
RADAR
CAPA
ENTREVISTA
ARTIGO
Editorial
2
Várias óticas para uma
mesma questão:
O lobby é inclusivo?
- Pretos e pretas
- LGBTQIAP+
- Pessoas com

- 50+
7
Carolina Venuto,
Suelma Rosa e os

além do rótulo
 17
Diversidade: uma
realidade nos
processos de
recrutamento? 23
O papel dos aliados
na conquista da
equidade 31
Entrevista com
Beatriz Gagliardo
sobre bastidores da
organização do
livro “Relações
governamentais
sob a ótica feminina33
Um lobista pela
inclusão de
refugiados no
mercado de
trabalho brasileiro 37
O futuro é da
liderança inclusiva 40
Novos associados 44
3
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Rodrigo Almeida é o primeiro
Champion de Diversidade e Inclu
-
são do IRELGOV e nos presenteou
com sua história nessa edição da
revista Diálogos.
O objetivo do projeto é divulgar
iniciativas que possam ter efeito
multiplicador junto à comunidade
de relações governamentais, por
meio das seguintes categorias:
-
ro; Advocacy pela Pessoa com De-
-
lheres; He for She; Programas
Pro Equidade de Raça; Advoca
-
cy Enfrentamento Preconceito
LGBTA+; Advocacy Combate a

Advocacy Enfrentamento Racis-
mo.
      -
nhece alguém que administra ou
participa de movimentos, inicia-
tivas e projetos que promovam
diversidade e inclusão nestas ca-
tegorias, participe!
Os champions da
diversidade
RADAR
3
Eixo Nacionalização & Entes
Federados avança
O eixo de Nacionalização & Entes Federa-
dos tem por objetivo expandir a presença do
IRELGOV para diferentes unidades da federa-
ção, contribuindo para que nossas discussões

O planejamento estratégico do eixo foca em
10 estados iniciais, no Sudeste: Minas Gerais,
Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro; no
Nordeste: Bahia e Ceará; No Sul: Rio Grande
do Sul e Santa Catarina; no Centro-Oeste;
Mato Grosso e Goiás. Já realizamos reuniões
com as federações do Rio de Janeiro, Minas
Gerais, Mato Grosso e Goiás.
Por entender que cada região detém suas
particularidades e interesses, e por acreditar
na política regional, estamos customizando
      
Serão cursos sobre processos legislativos,
webinars sobre técnicas de RIG, cartilhas sob
     
do IRELGOV já em andamento, como o hacka-
thon, congresso e outras.
Rodrigo Almeida

M Jorge (BMJ)
4
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
O IRELGOV e a universidade ESPM lançam,
em agosto, o podcast TransformaGov, série
composta por sete episódios que serão divul-
gados semanalmente nas principais platafor-
mas de podcast (Spotify, Google Podcast), com
a participação de executivos de grandes em-
presas do mercado. O objetivo de levar a voz
do IRELGOV ao novo canal de comunicação
     
da área de relações institucionais e governa-
mentais (RIG), a partir de um contexto social
que exige novas posturas de governos e em-
presas.
Organizada e co-produzida por Denilde Hol
-
zhacker e Nayana Rizzo Sampaio, a série terá
como tema guarda-chuva o “Great Reset” e
o capitalismo de stakeholders, que se conec-
tam com a atuação de RIG. Os episódios vão
      -
dade de entender novos ecossistemas e as
oportunidades que surgem para a área. Será
explorado, ainda, o papel de RIG no processo
de implementação de estratégias de ESG (En-
vironmental, Social and Governance)
compreender os parâmetros e métricas nas
vertentes ambiental, social e de governança.
-
-

Podcast TransformaGov abordará
tendências da área de RelGov
RADAR
LANÇAMENTO EM AGOSTO DE 2021
5
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
IRELGOV adere à “Coalition of In-
uencers da OCDE
O IRELGOV aderiu à “Coalition of Inuencers”,
plataforma da Organização para a Coopera-
ção e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
que reúne stakeholders dos setores público e
privado, academia e sociedade civil que tra
-
balham com o tema da integridade nos pro-
cessos decisórios de políticas públicas.
Em 2010, a OCDE publicou recomendação

e integridade no lobby. Desde então, a or-
ganização monitora a implementação dessa
recomendão pelos países membros e em
processo de acessão e criou a “Coalition for
Inuencers” para debater o tema com repre-
sentantes de governo, setor privado, acade-
mia e sociedade civil.
O objetivo da plataforma é examinar as ferra-
mentas e os efeitos da defesa de interesses
sobre o desenho e implementação das polí-
ticas públicas. A participação do IRELGOV na
“Coalition of Inuencers insere o instituto
nas discussões internacionais mais relevan
-

RADAR
Liderança inclusiva
e transformadora
IRELGOV e ESPM se uniram para oferecer
bolsas para a masterclassLiderança inclu-
siva e Transformadora aplicada às Relações
Governamentais”. Ministrado pelas professo-
ras Fatima Therezinha Motta e Denilde Hol-
zhacker, a iniciativa abordará conceitos de
diversidade e inclusão, vieses inconscientes
e como a comunicação pode ser chave para
criar ambientes seguros e fortalecer equipes
produtivas.
Nova agência de
comunicação
      
do IRELGOV. Há mais de 25 anos no merca-
do e com sede no Rio de Janeiro, a empresa
prestará serviços de assessoria de imprensa,
gestão de mídias sociais e edição da revista
Diálogos.
6
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
RADAR
Lobby no século 21
As democracias atuais podem obter muitos
benefícios da regularização e normatização
da atividade de lobby. Regras claras e trans-

de que os diferentes interesses que natural
-
mente compõem uma sociedade estão sendo
ouvidos e respeitados nas tomadas de deci-
são do poder público. Estes princípios, defen-
didos pelo IRELGOV, foram debatidos no dia

pela Organização para a Cooperão e De-
senvolvimento Econômico (OCDE).
Já há um amplo reconhecimento do lobby
como atividade legítima e necessária nas
sociedades democráticas, desde que feito
de forma transparente, íntegra e justa, com
representação equilibrada dos grupos de in-
teresse. Mas ainda há caminho a percorrer:
dos 38 países membros da OCDE, apenas me
-

de Relações Institucionais e Governamentais
(RIG) em atividade.
-
dades, expressa de forma contundente na
velocidade e nos impactos das mídias sociais,
transformou profundamente o cenário de
atuação do lobby. Ficou mais difícil distinguir
discursos legítimos e descobrir a origem de
determinados movimentos. O peso das redes
sociais como instrumento de lobby cresceu
     

-
ções.
Na ocasião, a OCDE publicou seu novo relató-
rio “Lobbying in the 21st Century: Transparen-
cy, Integrity and Access”, que avalia o quanto
os países membros avançaram desde a “Re-
comendação sobre Princípios para Transpa-
    Lobby, publicado
pela organização em 2010.
O IRELGOV acaba de ser registrado nos dois
principais diretórios internacionais de think
tanks: o diretório do Think Tanks and Civil So
-
ciety Program da University of Pennsylvania,
responsável pelo ranking mundial de think
tanks; e o diretório Open Think Tank Directory
do On Think Tanks, um hub de think tanks e
também responsável pela School of Think-
tankers. Trata-se de um importante selo que
contribuirá para aumentar a reputação e a
credibilidade do Instituto como o principal
think tank de relações governamentais do
país, ampliando o diálogo com importantes
atores do setor no cenário internacional.
Diretórios internacionais
O lobby é inclusivo?
A ótica dos pretos e pretas
CAPA
7
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Paulo Freire nos ensinou que “a inclusão acontece quando se aprende
com as diferenças e não com as igualdades”. A comunidade de
Relações Governamentais abraça, convive e aceita a diversidade?
Convidamos prossionais com distintos lugares de fala para responderem
à seguinte pergunta: o lobby é inclusivo? Vamos falar sobre isso?
Em pesquisa recente realizada por uma pla-
taforma de empregos em parceria com o
Instituto Guetto foi constatado que 47% dos
      
pertencimento nas empresas em que traba-
      -
gros entrevistados já se sentiram discrimina-
dos no ambiente de trabalho. É este o tipo de
-
tar diariamente no mundo corporativo.¹

-
-
cia de políticas sólidas de diversidade e inclu-
são nas empresas, embora este cenário venha
progredindo de maneira incipiente. Quando
   
para o âmbito das Relações Institucionais e
Governamentais (RIG), o panorama não é di-
ferente. A subrepresentação neste segmento
-
do nos cargos de liderança.
     
viu quando abriu o Anuário Origem? Quando
      
-
dos ou no Senado Federal, quantos negros
estão deliberando com assessores ou parla-
Por Flávia Fernanda Costa, secretária-geral do Coletivo Pretas e Pretos em Relgov e advogada em
Relações Govermentais e Verônica Hoe, cocriadora do Coletivo Pretas e Pretos em Relgov e gerente de
Políticas Públicas no Facebook
8
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
mentares e não na copa servindo “cafezinho”?

trabalha? Quantos negros integram os conse-
lhos deliberativos e diretorias das principais
instituições representativas de Relações Go-
vernamentais?
Foi a partir desses desconfortos, que fazem

área, que surgiu o Coletivo Pretas e Pretos em
Relgov. Entre nossos objetivos está aproximar
a composição dos times de RIG das métricas

quantitativo populacional no Brasil. Para mais,
o coletivo surgiu como um espaço de troca, de
parceria e de aquilombamento; discussão de
políticas públicas voltadas para essa popula
-
ção; e engajamento de aliados nesse processo
de inclusão.
Para Vivian Oliveira, uma das participantes
do Coletivo Pretos e Pretas em RIG, participar
do coletivo trouxe grandes amizades, além de
networking. O pertencimento é algo muito im
-
portante, quando se está começando uma car-
reira nova, tem sido enriquecedor atuar como
coordenadora de um eixo tão relevante para
o grupo. Somos chamados a pensar em ideias
e soluções que contribuam para que cada vez
mais pessoas negras ocupem espaços em RIG,
do estágio a cargos de diretoria. O caminho é
longo e nem sempre fácil, mas contar com o
apoio de um grupo tão extraordinário como o
nosso nos ajuda a manter o foco.”

-
dade de discutir o racismo estrutural e insti-
tucional é uma das provocações do coletivo.
Atualmente, as discussões ainda estão restri-
tas aos movimentos negros e à academia, mas
se pretendemos ampliar a diversidade nas
organizações e na carreira de RIG é essencial
que vejamos o quanto o racismo nos impede
de avançar nesse processo de inclusão.

ambiente de trabalho. Brasília. Correio Braziliense.
https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/trabalho-e-formacao/2021/06/4929330-diversidade-inclusao
-
-no-mercado-de-trabalho.html. Acessed 09 junho 2021.
CAPA
Foto: Primeiro webinar coletivo Pretas e Pretos
O lobby é inclusivo?
A ótica dos LGBTQIAP+
CAPA
9
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Não é novidade a importância que diversida-
de e inclusão alcançaram no mundo do tra-
balho. A inclusão da diferença traz benefícios
organizacionais diretos, como aumento de
criatividade, ambiente de trabalho saudável,
inovação pelas diferentes perspectivas de
vida e mundo, maior capacidade de resolução
turnover, entre diversos
outros. A pauta vai além: corrigir injustiças de
grupos tradicionalmente ignorados no merca-
do de trabalho – ou que nunca tiveram acesso
aos altos cargos do mundo corporativo.
      
LGBTQIAP+, que desde os anos 1990 tem ga
-
nhado cada vez mais espaço, mas que conti-
   
para ingresso no mercado de trabalho. Os
dados são reveladores. Pesquisa recente da
OutNow¹, ONG norte-americana, mostra que
      
Brasil já tem coragem de se abrir no ambiente
de trabalho. Apesar disso, segundo pesquisa
concluída entre 2020 e 2021 pela consultoria
Santo Caos, 61% dos LGBTQIAP+ escondem
o fato na empresa em que atuam, enquanto
41% disseram já ter sofrido discriminação².
Cada vez mais empresas, ONGs, fundações e
-
cas de inclusão LGBTQIAP+. Iniciativas seto-
riais também começam a aparecer, como as
-
nanceiro e do esporte.
A universidade de Harvard indicou em diver
-
sos estudos que as empresas atuais depen-
dem de diversidade para melhorar suas capa-
cidades coletivas. Cada liderança que surge de
algum grupo hoje excluído das altas posições
corporativas e governamentais oferece pers-
pectivas e características novas, o que não é
diferente para líderes LGBTQIAP+, que são es-
pecialmente notados em pesquisas organiza-
cionais por seu caráter empático e acolhedor
das diferenças. São grandes as contribuições
Helga Franco, aliada e conselheira para o eixo Diversidade e Inclusão e diretora de Relações Governamen-
tais da Nestlé Brasil e Leon Rangel, aliado, cocriador do Coletivo Diversidade em RIG e consultor na Barral
M Jorge (BMJ)
10
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
para o aumento da criatividade e criação de
ambiente saudável e inclusivo, pautado no
respeito e no sentimento de pertencimento.
E aí chega-se à pergunta: como o grupo LGB-
TQIAP+ é tratado na área de Relações Institu-
cionais e Governamentais? Esse diagnóstico
ainda não existe hoje para além de algumas
percepções gerais de quem trabalha no setor.
Como explica Rafael Wowk, gerente de Re
-
lações Governamentais do Nubank: Ao tra-
tarmos especicamente da diversidade LGB-
TQIAP+, o primeiro ponto é compreender que
estamos diante de um fenômeno complexo,
com diversas camadas e barreiras especícas
que ainda impedem o amplo acesso de indiví-
duos à plena cidadania. Um exemplo é o receio
que ainda existe por muitos prossionais em
viver amplamente sua orientação sexual sem
temer implicações negativas para a carreira.
Empresas inclusivas atraem esses talentos e,
com eles, formam times mais fortes e diversos.
Em RIG não é diferente. Embora ainda exista te
-
mor de consequências negativas para os pros-
sionais que se assumem, a bandeira do respeito
prevalece.”
As percepções, felizmente, são bastante po
-
sitivas: de que é um nicho de mercado rela-
tivamente privilegiado para a diversidade
LGBTQIAP+ onde, no boca-a-boca, todos os

-
ga LGBTQIAP+ do ofício de lobista ou public
aairs. O grupo “Diversidade em RIG” sur-
giu justamente por conta dessa percepção.
Criado no início de 2020 por Gabriel Borges
e por mim, consultores da BMJ, o grupo de
WhatsApp foi uma ideia para aproximar e co-
CAPA
nectar colegas setoriais que enfrentam os

comunicação à exemplo do que o “Dicas - Mu-
-
ram para promover a inclusão de seus grupos
no nicho.
Outras iniciativas foram predecessoras do “Di
-
versidade em RIG”, entre elas o GAMES (Go-
    
Supporters), grupo LGBTQIAP+ de São Paulo.
Criado por Salomão Cunha Lima, Fábio Cabral
e Anselmo Takaki em 2015, o grupo iniciou
com encontros semanais descontraídos, como
happy hours mensais, que aproximavam os
RIGs da capital paulista que buscavam ampliar
diversidade e inclusão em suas empresas e
empreendimentos. Com o tempo, o GAMES se
expandiu e se tornou uma plataforma ampla
para a diversidade no ambiente de trabalho

-
te período, foram realizados grandes eventos
e iniciativas pelo grupo, tendo reunido muitas
pessoas em torno da temática, apoiando as
empresas na implementação do tema. Hoje, o
GAMES tem como propósito colocar a diversi-
dade em pauta e ação, por meio do diálogo e
engajamento, para promover transformação
social.
Para Tataki, Relações Institucionais da Asso
-
ciação Brasileira das Indústrias de Produtos
-
dores do IRELGOV, as políticas de diversidade
e inclusão para LGBTQIAP+ em geral cresce-
ram nos últimos anos, resultado alcançado
pelos grupos de pressão em torno da política
institucional, em particular, com a possibilida
-
de de casamento homoafetivo. “Atualmente
cerca de 30 países aceitam tal conjugação,
isso vem ocorrendo desde 2001 na Holanda.
São apenas 20 anos para mudar uma estrutu
-
ra socioeconômica sexista e LGTBTQIAP+fóbi-
ca. Demandará mais tempo para uma equali-
zação decente.”
Foi inclusive pensando em manter um grupo
para o setor que o Diversidade em RIG surgiu.
Por conta da pandemia da Covid-19, o novo
     
eixo São Paulo-Brasília, alcançando todo o
Brasil. E não se limitou a RIG estritamente,
     
-
lham com ou mesmo dentro do governo. De
consultorias a multinacionais, passando por
ministérios e secretarias estaduais, ONGs e
startups, permitindo a conexão entre diver-
    

políticas públicas –, divulgação de vagas e até
mesmo alguns encontros virtuais que, no pós-
-pandemia, quem sabem permitam a criação
-
caram abertas ainda a participantes de outros
coletivos da diversidade no setor - o contato
com todos que lutam pela inclusão é sempre
importante.
Com o tempo, podemos ser mais ambiciosos a

as políticas públicas brasileiras voltadas aos
LGBTQIAP e também para endereçar o gran
-

corporativo e governamental. Se hoje sabe-
mos que há muitos LGBTQIAP+ no mercado
de RIG; líderes empresariais e em altos cargos
do governo que sejam abertamente assumi-
dos ainda são uma raridade. Assim, a partir
da conexão, espera-se que haja apoio mútuo
e um maior conhecimento de colegas LGBT-
QIAP+ para que se crie uma rede de apoio.
O grupo hoje é uma plataforma de aproxima
-
ção e rede de apoio, mas com grande poten-
cial de, organicamente, levar à construção de
diversas iniciativas importantes – a exemplo
de outros coletivos do setor, como o de mu-
lheres e pretos e pretas em RelGov. O futuro
pode aguardar boas novidades.
  
² Pesquisa consultoria Santo Caos
CAPA
11
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
O lobby é inclusivo?
A ótica das pessoas com
deciência
CAPA
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DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Verônica Hoe, aliada, cocriadora do Coletivo Pretas e Pretos em Relgov e gerente de Políticas Públicas
no Facebook e Christiane Aquino Bonomo, co-fundadora do Movimento Down e cônsul-geral adjunta do
Brasil em Londres.
De acordo com o IBGE, há cerca de 45 milhões

25% da população. Num primeiro olhar, um
desavisado pode achar que pessoas com de-


lei de cotas. Porém, basta olhar para o lado
nas organizações para perceber o quanto a lei
ainda é descumprida ou o quanto, apesar de
estarem presentes no ambiente de trabalho,
a inclusão de PCDs está aquém do ideal em
qualidade e quantidade. De acordo com pes-
quisas realizadas, em 2019, do total de PCDs
no Brasil, apenas 0,9% estavam presentes no
mercado de trabalho.¹

cabe diferenciar os tipos: física (visual, audi
-
tiva e de mobilidade), intelectual e sensorial.
Ao tratar de diversidade e inclusão, devemos
olhar para todas essas pessoas que buscam
seu espaço no mercado e seu direito de tra
-
balhar.
Vamos pensar nesse ponto, voltados agora

    
      
-
      
estão em cargos de liderança? A partir de re-
      
nossos debates e nossa avaliação do quanto

de fato. Temos muito o que avançar!
Na defesa de interesse, é possível ver pesso
-
ad-
vocacy de políticas voltadas para esse tema;
    

para defesa de interesses privados em uma
empresa, por exemplo.
Diferentemente dos demais grupos histori
-
camente marginalizados, a invisibilidade das
PCDs é mais pronunciada. Nossa infraestrutu-
ra física, despida de acessibilidade nas cidades
-
13
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
-

-
nadas à educação. Essas barreiras, além da
falta de acessibilidade e de políticas públicas
inclusivas, impedem o acesso de pessoas com
-
quentemente, sua chegada aos cargos de lide-
rança.
Caio Leonardo, presidente da Comissão de Re
-
lações Governamentais da OAB/DF e líder da
área de Relações Governamentais no escritó-
rio Honda, Teixeira, Araújo, Rocha Advogados
“Imagine uma mulher
ou um negro serem convidados a entrar pela
porta dos fundos de uma empresa para uma en-
trevista, ‘porque não dá para você entrar pela
frente’. É assim em todo lugar, praticamente,
se uma cadeira de rodas é o seu modelo de en-
trada no mercado de trabalho”. Para Leonardo,
esta é apenas uma das perspectivas sobre o
-
É intrigante, ago-
ra da perspectiva do prossional de RIG, que a
primeira opção da pessoa com deciência seja a
de atuar em advocacy. Porque construir direitos
como parte de uma organização da sociedade
civil é o caminho prossionalmente mais digno
para essa população, diante das alternativas,
que são os sinais de trânsito ou viver institucio-
nalizado, complementa.
Um estudo da consultoria McKinsey² apon
-
tou que a inserção de funcionários com de-
    
positivamente na saúde e no ambiente orga-
nizacional, pois aumenta a motivação dos tra-
balhadores e desenvolve habilidades de maior
-
te da liderança. Um exemplo é o da rede de
farmácias Walgreens, nos EUA, que experi-
mentou aumento da assiduidade e retenção
de funcionários quando começou a contratar
mais autistas. Um de seus centros de distribui
-
-
tagem de funcionários com o transtorno. Pes-

seus empregos e a oportunidade dada, man-

é bem reconhecido que quanto menor o turn
over, maior o crescimento e a produtividade
da empresa.
Imprescindível pensar que, ao contratar uma

-
sam se preparar para incluí-las. Adaptar estru-
turas, processos e treinar colaboradores para
     
garantir a inclusão adequada e a possibilidade
de crescimento de carreira delas.


Sesi, em particular) e a Associação Nacional
do Emprego Apoiado (ANEA), que desenvol
-
veu metodologia moderna de apoio a grandes
empresas na contratação de PCD no país.
Para saber mais sobre a metodologia da
ANEA acesse www.aneabrasil.org.br
CAPA
Caio Leonardo
Presidente da Comissão de
Relações Governamentais da
OAB/DF e líder da área de
Relações Governamentais no
escritório Honda, Teixeira,
Araújo, Rocha Advogados
O lobby é inclusivo?
A ótica das pessoas 50+
CAPA
14
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
A pirâmide virou pera e se engana quem ain-
da não entendeu que os 30 milhões de idosos
brasileiros são sim agentes de grandes trans-
formações. Nos próximos anos o grupo dos
50+ vai ser responsável por um verdadeiro
“tsunami”, não somente nos padrões de con-
sumo, mas também no mercado de trabalho.
       
-
plesmente banir talentos e excluir dos es-
paços de trabalho pessoas completamente
ativas. Os efeitos são nefastos para os dois

    -

E não estamos falando apenas de posições
seniores. O Censo de Educação Superior reali
-
zado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pes-
quisas Educacionais (INEP) aponta que o nú-
mero de matriculados entre 60 e 65 anos em
cursos de ensino superior aumentou 46,3%.
São quase 19 mil universitários em faculdades

-
nal é fato e voltar à sala de aula será cada vez
mais comum na maturidade.
Felizmente já vemos empresas comprometi
-
das (em todos os níveis) com programas de
diversidade e inclusão para o público 50+, mas
também devemos reconhecer que ainda te-
mos muitas ações pontuais desconectadas do
propósito inicial.
E foram as portas abertas que proporciona
-
      -
       
(BMJ). Rodrigo nos conta que a saída do mun-
do corporativo e a migração para a atuação
como consultor foi planejada: “Como consul-
tor eu poderia ter mais liberdade e experiên-
cias diferentes. Exatamente no dia seguinte
após me aposentar na Monsanto eu iniciava
minha jornada na Barral M Jorge. Os amigos
me perguntaram se eu não tiraria um ano sabá-
tico ou se não faria o caminho de Santiago de
Helga Franco, aliada e conselheira para o eixo Diversidade e Inclusão e diretora de Relações Governamen-
tais da Nestlé Brasil e Leon Rangel, aliado, cocriador do Coletivo Diversidade em RIG e consultor na Barral
M Jorge (BMJ)
15
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Compostela. Mas eu não esperei sequer um dia.”
Para ele, a transição trouxe sim impactos:
Abrir meu computador no primeiro dia de tra
-
balho pós-aposentadoria e não ter um e-mail na
minha caixa. Confesso que quei ansioso, mas
aos poucos coloquei meu network em prática e
expandi minha base de relacionamentos. Não
existe felicidade sem relacionamentos. Isso,
aliado ao fato de trabalhar inuenciando polí-
ticas públicas, me faz hoje mais feliz do que eu
era antes”.
     
momento da transição nasceu, há 5 anos, a Ma
-
turi, plataforma pioneira que reúne oportuni-
dades de trabalho, desenvolvimento pessoal,

e networking para pessoas maduras – 157 mil
    
ensinaram ou encontraram novas oportunida-
des de trabalho por meio dessa plataforma.
E é nessa plataforma que Rodrigo Almeida,
sócio da Barral M Jorge, divulga o mercado de
Relações Governamentais e os benefícios da
diversidade etária nos ambientes de trabalho
e, claro, lidera essa revolução pelo direito de
envelhecer trabalhando com dignidade.
Mas reforça: A transição de carreira para Re
-
lações Governamentais é mais difícil porque
ainda há muito desconhecimento. Talvez o que
precisamos fazer é tornar essa prossão conhe-
cida. Questões básicas mesmo. Mostrar o que é
o trabalho e depois como fazer para trazê-los.
Ou seja, essa missão é de todos e todas”.
Rodrigo não parou e não quer parar. Nós tam
-
bém não podemos.
¹ Mais informações sobre o Censo da Educação Superior 2019 em https://download.inep.gov.br/educacao_superior/cen-
so_superior/documentos/2020/Apresentacao_Censo_da_Educacao_Superior_2019.pdf
² Mais informações sobre a Maturi em www.maturi.com.br
CAPA
Carolina Venuto, Suelma Rosa e
os desaos para ir além do rótulo
de gênero
Mas se não há espanto, ainda assim falta
muito para se normalizar a presença de mu-
lheres em locais majoritariamente mascu-
linos. E é sobre essa questão – a liderança
feminina – que conversamos com Suelma
Rosa, presidente do Instituto de Relações
Governamentais (IRELGOV), e Carolina
Venuto, presidente da Associação Brasileira
de Relações Institucionais e Governamen-

na rotina de suas carreiras mais obstáculos
do que seus colegas homens - só porque são
mulheres.
17
Ter lideranças femininas à frente de empresas privadas, associações de
classe ou em cargos públicos não provoca o espanto de antigamente. No
passado, a inserção de mulheres em ambientes para além do lar encorajava
frases sexistas, como a imortalizada pelo jornalista e dramaturgo Nelson
Rodrigues (1912-1980), um dos escritores mais importantes do Brasil: As
feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado ¹, dizia.
ENTREVISTA
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
18
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
ENTREVISTA
Carolina e Suelma trocaram
perguntas, desafios e
experiências que certamente
rondam a atividade feminina
em cargos de liderança em
outros setores. O resultado
dessa conversa inspiradora você
confere a seguir:
Carolina:
Muito obrigada pelo convite.
Acredito que estamos provocando uma
mudança no nosso setor. Pensei nas
perguntas para fazer, a partir do que
eu mesma tenho vivido neste ano como
presidente da ABRIG. Durante esse período
como presidente do IRELGOV ocorreu
alguma situação que te surpreendeu? Que

hoje?
Suelma:
Desde que decidi me candidatar
     
criar um eixo de trabalho pela diversidade
e inclusão. E ouvi de algumas pessoas que
eu não deveria fazer isso, porque eu já era
reconhecida como uma feminista e isso
poderia deixar a impressão de que eu só
trabalharia pelas mulheres. Respondi que,
se isso acontecesse, eu teria cumprido meu
papel. Isso me espanta, porque acredito
que esse tema, o da diversidade, já deveria
estar na agenda. Mas não está.
Carolina:
Diferente da Suelma, eu entrei

planejada e já tive, de cara, questões para
resolver. Nos primeiros seis meses, não
consegui me dedicar à pauta feminina, pois
tinha outras coisas urgentes para tratar. E,
ainda assim, era enxergada como alguém
que só trabalhava para as mulheres. Isso
me surpreendeu, porque eu vinha tentan
-
do colocar a casa em ordem, inclusive refor-
mulando o código de ética da associação.
Mas fui apontada como alguém que só es
-
tava trabalhando pela inclusão das mulhe-
res. Foi curioso porque, na ocasião, eu me
culpava, justamente, por achar que estava
negligenciando essa questão. A partir daí,
percebi que não importava o que estava fa
-
zendo: já haviam colado um rótulo em mim.
Suelma:
Foi muito interessante pontuar
que, desde o início, a gente decidiu se unir.
Acabamos conseguindo construir uma rela
-

contribuiu para isso?
Carolina:
Acho que já existia um espírito
coletivo que ia nesse sentido. A questão já
vinha permeando nossa área, mostrando
que as mulheres deveriam se unir e cola
-
borar. Ainda assim, me surpreendi quando
recebi seu convite para conversar. Tive de
me despir de qualquer pré-conceito e deci
-
dir que, a partir dali, as coisas seriam dife-
rentes.
Suelma:
Nós duas assumimos nossas fun-
ções no mesmo dia, o que gerou comen-
tários e reforçou o fato de sermos duas
mulheres em cargos de liderança no nosso
setor. E foi justamente por isso que decidi

-
mos duas mulheres em cargos de liderança.

-
cava essa união.
Carolina:
Pois é. Mas, num primeiro mo-
-
vite (risos). Acho que vivia a tal “síndrome
de impostora” ² (risos).
Suelma:
Eu te entendo. Também me sinto
assim às vezes, apesar das pessoas acharem
que não, pela minha postura e tom de voz.
Mas eu me questiono o tempo inteiro. E
19
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
ENTREVISTA
acredito que é justamente por isso que
precisamos do apoio uma da outra.
Carolina:
Sim! Porque estou sempre me
perguntando: apesar de saber que estamos
fazendo muito por uma maior inclusão das
mulheres no nosso segmento, será que isso

-
ríamos fazer? Isso me vem à cabeça quando
vejo ainda casos de mulheres sendo asse
-
diadas, como ocorreu com a deputada es-
tadual de São Paulo Isa Penna (PSOL), em
plena Assembleia Legislativa de São Paulo

tipo de coisa. E por isso me pergunto se
estamos conseguindo transformar algu
-
ma coisa. O que acha disso? Acredita que a
mulher a ocupar o cargo de presidente do
IRELGOV, nas próximas décadas, vai encon
-
trar um cenário diferente?
Suelma:
No começo da minha carreira,
quando trabalhava com projetos de coo
-
peração internacional, que impactavam

-
ciente. Posteriormente, trabalhando para
o governo e atingindo muito mais gente,
também achava isso. E mesmo quando fui
para a ONU, para tocar projetos que im
-
pactavam milhões de pessoas, também
     
quando conseguimos mudar apenas uma
pessoa, isso já é muito. Mas é só por hoje.
Amanhã, já temos novas coisas a lidar. Tudo
o que fazemos é pouco, se pensarmos no
amanhã. Porque trabalhamos para cons
-
truir um futuro. Da mesma forma que agi-
ram outras mulheres, no passado, como as
sufragistas do século XXI, por exemplo. O
que ocorre é que as realizações das mulhe
-
res sempre foram diminuídas ou apagadas.
Um exemplo é Cleópatra, uma personagem
que as pessoas conhecem pela sensualida
-
de e não é reconhecida como a grande lí-
der que foi. Da mesma forma que a rainha

mais conhecida por não ter casado e tido

sua importância reduzida na história da uni
-

está sendo construída e contada. Talvez em
2040 vão lembrar da gente como pessoas
que decidiram contar a história de diferen
-
tes mulheres que foram abrindo as portas
umas para as outras. O mais importante
que estamos fazendo é contar essa histó
-
ria, que um dia será celebrada.
Muitos ainda nos olham como
mulheres que só discutem
assuntos femininos. Temos muitos
temas importantes a tratar, como
acabar com a percepção negativa
que a sociedade tem do lobby”.
Suelma Rosa
20
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Suelma:
Minha pergunta agora é sobre as
Relações Governamentais. Porque acredito
que muitos ainda nos olham a partir de um
rótulo, como mulheres que só discutem “as
-
suntos femininos”. Mas não somos só isso.
Estamos liderando duas instituições que
trabalham reputação e posicionamento das
relações governamentais no Brasil. E temos
um tema importante a tratar, que é a per
-
cepção negativa que sociedade, imprensa
    lobby. Então, mi
-
nha pergunta é: o que pode ser feito para o
fortalecimento do entendimento de que o
processo de consolidação do lobby contribui
para o desenvolvimento da democracia?
Carolina:
Acredito que precisamos reno-
var a narrativa. Enquanto não houver uma
regulamentação legal sobre esse assunto,
continuaremos a ter que explicar que lobby,
advocacy e Relações Governamentais são le
-
gais. Ainda não basta investir na capacitação
 
setor mais inclusivo e diverso. E nem fechar
acordos para a autorregulamentação. Existe

-
nhecimento. Precisamos de um marco legal
para derrubar todas as dúvidas.
Carolina:
E entre seus projetos de longo
prazo, que sei que são muitos, qual deles

Suelma:
Como fã de Winston Churchill
(1874-1965) e da construção de narrativas,
sinto falta de mais produção de conteúdo,
por parte da comunidade de Relações Go
-
vernamentais no Brasil. A gente faz, mas
esquece de contar o que estamos fazendo,

-
tindo sobre isso. Se, em um passe de mágica,
eu pudesse entregar um projeto seria o do
selo editorial do IRELGOV, com a publicação
de vários livros. Porque todas as vezes que
escuto um colega falando sobre sua experi
-

conhecimento para compartilhar, transfor
-
mar em artigo, que vai ajudar a consolidar
nossa atividade. Se pudesse, lançaria vários
livros ao mesmo tempo, para construir mais

-
nalize e eleve os padrões de gestão da ati-
vidade.
Suelma:
Minha próxima pergunta retoma o
tema de ser mulher em um mundo que não

-
de de, além de ser uma liderança feminina,

-
     
deixaria para outras jovens que queiram li
-
derar, mesmo que tenham que assumir vá-
rios papéis ao mesmo tempo?
ENTREVISTA
Acredito que precisamos renovar
a narrativa sobre lobby. Não basta
tornar o setor mais inclusivo e
diverso. Precisamos de um marco
legal”.
Carolina Venuto
Carolina:
Acredito que a primeira coisa
a dizer é que todas nós podemos realizar
nossos desejos. É claro que sou privilegia
-

alta, então tive muitas ferramentas à minha
disposição – o que não é uma realidade para
a maior parte das brasileiras, infelizmente.
Mas, ainda assim, é preciso não duvidar de
       
-
nal do dia e afagar a mim mesma. Enquanto
      

conseguia chegar a lugar nenhum. Sempre
fui tímida e introvertida e não sabia como
     lobby dessa
forma. Por outro lado, sempre fui muito dis
-
ciplinada. A virada de chave ocorreu porque
recebi estímulos externos, principalmente

-
ditar mais em mim. Aliás, conto como foi a
minha trajetória pessoal no capítulo que es
-
crevi para o livro Relações Governamentais

quem eu era e onde queria chegar foram
anos de terapia (risos). Para outras mulhe
-
res, o meu conselho é: olhem para dentro,
      
ferramentas internas para conquistar o que
desejam.
Suelma:
     
necessidade de termos representatividade.
     
lugares, para tornar mais fácil o reconhe
-
cimento das ferramentas internas que vão
possibilitar alcançar os objetivos.
Carolina:
Tem uma frase muito boa sobre
essa questão da representatividade, da Ja
-
nete Vaz, presidente do Conselho de Ad-
ministração do grupo Sabin. Assisti a uma
palestra dela, onde ela terminava dizendo:

-
gue ser. Daí a importância de ter modelos.
Eu venho fazendo um exercício que é sem
-
pre votar em mulheres, em qualquer tipo de
eleição.
Carolina:
Com relação à pauta da diversi-

gente não precise mais lutar por ela?
Suelma:
Acho que essa luta nunca vai ter-
minar. Já tivemos muitos ganhos, é verdade.
Quando entrei na faculdade, ninguém fala
-
va sobre diversidade. Mas, se pararmos para
pensar, tudo isso já estava na Declaração
Universal dos Direitos Humanos, que é de
1948. E lá está escrito que todos nós, seja
mulher ou homem, somos iguais e temos
os mesmos direitos. Isso é tão básico e, ao
mesmo tempo, complexo, por conta da es
-
trutura social da nossa espécie, que é tribal.
Nós construímos nossa identidade a partir
dos nossos grupos e na diferenciação de ou
-
Acho que a luta pela causa da diversidade nunca vai parar. Houve transformações,
mas ainda passaremos por outras e essa jornada nunca vai terminar ainda que
melhore.
Suelma Rosa
21
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
ENTREVISTA
22
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho

que somos iguais e precisamos lutar contra
esse processo identitário que passa pela di
-
ferenciação do outro. No Brasil, fomos por
muito tempo tratadas como minoria. Acredi
-
tamos que as mulheres e a população negra
fossem minoria. Quando, na verdade, não
são. Nos acostumamos com isso, com essa
diferença em termos de direitos e oportu
-
nidades. Houve transformações, mas ainda
passaremos por outras e essa jornada não
vai terminar – ainda que melhore.
Para terminar esse bate-papo,
uma pergunta para as duas:
no dia a dia do trabalho, o que
é mais difícil de enfrentar,
enquanto mulheres?
Carolina:
A gente está falando de um am-
biente que é bastante masculinizado e que
inclui uma série de regras informais que
foram criadas por homens. Fico incomoda
-
da, por exemplo, de discutir questões por
WhatsApp ou mesmo durante um happy
hour. O mais adequado seria fazer uma reu
-
nião de verdade, com a realização de uma
ata. Também me incomodam comentários

e bonito por conta da presença de mulhe
-
res. São coisas que parecem pequenas, mas
não são. Um bom exemplo é que eu e meu
marido trabalhamos no mesmo ambiente.
Mas, pela manhã, ao se vestir, eu preciso
me preocupar muito mais do que ele sobre
como vou me apresentar. Para ele, basta
usar um costume, camisa e gravata. Eu pre
-
ciso cuidar do cabelo, fazer as unhas, além
de pensar no decote, nas cores e na mode
-
lagem da minha roupa, para não transmitir
essa ou aquela mensagem. Há um conjunto
de regras que não estão escritas, mas que
existem, que tornam o nosso trabalho mais
oneroso e cansativo. Isso, fora as ocasiões
de assédio – que pioraram muito com as
atividades sendo feitas de maneira online.
Ficamos ainda mais desprotegidas e expos
-
tas a isso. Porque nas reuniões presenciais,
consigo me cercar de regras e formalidades
que acabam me protegendo.
Suelma:
Gosto do que faço e estou acostu-
mada a trabalhar muito. O trabalho não me
cansa. O que me esgota é o stress frequen
-
te vivido em situações de falta de respeito
comigo ou com outras mulheres. E ter que
pensar, em cada uma delas, se vou ou não
reagir. Já teve um tempo em que eu com
-
prava todas as brigas. A maturidade tem me

para pontuar essas coisas. Mas somente o
fato de precisar sempre fazer isso é cansa
-
tivo.
ENTREVISTA
¹ Flor de Obsessão: as 1000 melhores frases de Nelson Rodrigues
² Síndrome de impostor é um termo psicológico que descreve um comportamento no qual a pessoa dúvida de suas reali-
zações e tem um medo persistente de ser exposta como uma fraude, como incompetente.

assediado durante sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), em dezembro de 2020. A ação do deputado
foi denunciada por meio de um vídeo.


série Diálogos Irelgov, 2021.
De uns tempos para cá, a diversidade no
ambiente de trabalho tem estado em pauta
na mídia, nas redes sociais e nas conversas
das pessoas. Por isso, as organizações que
      
quando não querem se adaptar incorporan
-
do esse movimento, correm o sério risco
de sofrer com crises de imagem que, num
mundo em que a informação circula em ve
-
locidade acelerada, são difíceis de serem
superadas.
Em um mercado crescentemente globali-
zado, a diversidade vai além de respeitar e
aceitar as diferenças. O ponto fundamen
-

mais rica em talentos e isso contribui para
que haja colaboradores mais felizes e com
maior produtividade e, consequentemen
-
te, para que sejam alcançados melhores re-
sultados, com mais valor para os produtos
Diversidade: uma realidade nos
processos de recrutamento e
seleção?
ARTIGO
23
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Carlos Parente

Consulting e diretor de Carreira &

e serviços da empresa, o que aumenta o su-
cesso da organização.
Há cada vez mais gente interessada em dis
-


companhia pode arriscar perder a prefe
-
-
midores se ignorar esse movimento.
Entendemos que não se trata de planar em
um vento passageiro, mas sim de respeitar
o progresso social pelo qual o mundo está
passando. A diversidade também aumenta
a retenção de colaboradores e fortalece o
conceito e a aceitação da marca emprega
-
dora.
Assim, a diversidade deve ser uma preocu
-
pação de todos na empresa. Garantir essa
    
que a pessoa desempenhe melhor sua
função.
Diversidade vai além de aceitar as
diferenças. Uma equipe com perfis
diversos é mais rica em talentos
e isso aumenta a produtividade e
melhora resultados.
Carlos Parente
24
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
ARTIGO
Promovendo a diversidade
O primeiro e fundamental movimento na
empresa em direção à promoção da diversi
-
dade é fomentar e incrementar discussões
sobre o assunto, por meio de manifesta
-
ções das lideranças, ações de comunicação
e engajamento e implantação de um Pro
-
grama de Diversidade e Inclusão, contem-
plando diretrizes que possam ser seguidas
por todos na empresa.
Esses programas devem estabelecer nor-
mas para potencializar a diversidade e a
inclusão em seus processos seletivos e nos
relacionamentos com demais fornecedores
e parceiros. Há empresas que, além disso,
    
sobre diversidade.
Mas esse tipo de discussão não pode fi
-
car apenas em conversas, são necessárias
ações efetivas que concretizem e incenti
-
vem maior diversidade em seus processos
e em suas equipes.
Não há mais espaço para que a cultura da
discriminação continue afastando determi
-
nados grupos sociais ou minorias do merca-
do de trabalho ou sujeitando-os a situações
vexatórias. Por exemplo: as diferenças sa
-
lariais entre homens e mulheres em posi-
ções semelhantes.
Para Raul Cury Neto, sócio-gerente da
consultoria Vittore Partners, “o tema tem
   
nos processos de searching”. Segundo Cury
Neto, os clientes já solicitam, no briefing
das vagas, as premissas de diversidade.
Áreas como Jurídico, Tributária, Complian
-
ce e Assuntos Corporativos estão mais

também avançando nos últimos anos”, re
-
alça.
Por isso, ele defende que as ações sobre
diversidade sejam cada vez mais inten-
sificadas. “Os líderes precisam facilitar
e promover mais o processo de inclusão
no ambiente corporativo. As equipes de
RH também podem e devem apoiar uma
postura mais afirmativa. A questão racial
vem avançando em compreensão e acolhi
-
mento, porém precisa andar mais rápido”,
explica.
25
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Critérios de diversidade avançam
nos processos seletivos
De acordo com Luis Gustavo Giolo, da Egon
Zehnder, “nossos clientes cada vez mais pe
-
dem, quase exigem, maior presença de mu-
lheres nas listas de potenciais perfis e, em
alguns casos, só querem ver perfis femini
-
nos, como por exemplo para conselheiras
ou mesmo algumas posições de diretoria
 
a nos questionar sobre candidatos negros,

-
pleta que quase todos os clientes perce-
bem que, se não atuarem agora, poderão
sofrer escrutínio dos investidores, da mídia
ou dos próprios colaboradores por não te
-
rem um time diverso, seja no conselho ou

Com relação às questões de etnia e raça,
Giolo ressalta que o pool de candidatos é
bem restrito e os poucos que já estão bem
empregados estão de certa forma blinda
-
dos em suas empresas, que sabem quão
ARTIGO
26
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
ARTIGO
difícil é repô-los caso tenham de ir ao mer-
cado. “Pela nossa fragilidade educacional,
muitos candidatos com esse perfil às vezes
      
atrapalhar dentro de um processo para
uma empresa multinacional”, salienta. Ele
acrescenta que, usando ferramentas como
o LinkedIn, é mais fácil identificar candida
-
-
fícil identificar a raça, já que muitos perfis
não usam foto, ou LGBTQIAP+, pois poucos
assim se identificam, embora isso esteja
mudando rapidamente.
Luis Giolo explica que, no mundo e aqui no

corpo de consultores (40% de mulheres) e
uma dominância no total de colaboradores
(60% de mulheres). Já na diversidade de et
-
nia e raça há um trabalho em andamento,
pois lá fora devemos ter menos de 10% dos
consultores, enquanto aqui estamos em
7%. E o LGBTQIAP+ está ainda um pouco
mais atrasado aqui que lá fora, perto de 5%
no Brasil, até porque muitos ainda não se
identificam assim publicamente.
Para Giolo, em todos os processos de sele
-
ção de líderes/executivos devem ser obser-

de resultados, visão estratégica, capacida
-
de de influenciar de forma colaborativa e
liderar equipes. Devem ser consideradas,
  
de acordo as necessidades dos clientes,
como por exemplo, liderar inovação.
Desenvolvendo Talentos
Quando se trata dos conselhos de adminis-
tração, a visão muda um pouco. “Nos con-
     
  
-
rém, como lá não terão de liderar equipes,
    
-
cia e integridade. Mas hoje colocamos um
peso maior no potencial do que nas com
-

o presente e aí nosso modelo de potencial
foca na curiosidade, principalmente sobre
si mesmo, na capacidade de gerar insights,
no engajamento e na determinação”, escla
-
rece Luis Gustavo Giolo, que lidera as prá-
ticas de Tecnologia e Comunicações para a
América Latina da consultoria Egon Zehn
-
der.
Hoje colocamos um peso
maior no potencial do que nas
competências, olhando mais para
o futuro que o presente”.
Carlos Parente
27
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Em dezembro de 2020, foi divulgada a pes-
quisa Brasil Board Index 2020, realizada e
conduzida pela consultoria Spencer Stuart.
O objetivo da pesquisa foi mapear a com
-
posição, a organização, os processos e a
remuneração dos Conselhos de Adminis
-
tração de empresas brasileiras listadas nos
segmentos diferenciados da B3 (Novo Mer
-
cado, Nível 2 e Nível 1).
Os dados foram compilados a partir de fon
-
tes oficiais e públicas, como o Capital Social
       
das empresas, com informações referentes
ao exercício fiscal encerrado em 2019.
Foram analisados os conselhos de admi
-
nistração das 190 empresas listadas nos
segmentos diferenciados de governança
A avaliação adequada de potencial de
talentos é um poderoso impulsionador
na evolução de organizações diversas”.
Carlos Parente
ARTIGO
Pesquisa aponta progressos na
diversidade em conselhos de
administração de empresas
corporativa da B3. Nessas empresas, foram
mapeadas 1.598 posições em conselhos de
administração.
Segundo Aldo Bergamasco, consultor da
Spencer Stuart, “houve uma evolução sig
-

board members são mulheres. Esse resul
-
tado, porém, ainda está longe de ser uma
representatividade equitativa. E apenas
6% dos conselhos são presididos por mu
-
lheres”.
Mas é um caminho sem volta. “Já em 2021,
percebe-se um avanço de 40% a 50% para
vagas em conselhos para mulheres. Assim,
precisamos estimular o movimento e ter,
nas empresas, programas estruturados e
estruturantes para a promoção da diversi
-
dade numa escala maior”, destaca Berga-
masco.
Outro ponto acentuado por Bergamasco
é que precisamos também atuar contra o
“etarismo” no mercado de trabalho. “Não
é mais admissível achar que um(a) execu
-
tivo(a) com 55/60 anos tem que colocar o
pijama”. Nesse contexto, a pesquisa regis
-
trou que a idade média dos membros de
conselhos, no Brasil, é de 57 anos, acompa
-
nhando a média internacional. A idade mé-
dia internacional é de 58 anos. O Canadá
tem a média mais alta (62,7 anos) e a Rússia
tem a média mais baixa (54,3 anos).
A avaliação adequada de potencial de ta
-
lentos é um poderoso impulsionador na
evolução de organizações diversas. Pode
nivelar o campo de atuação nas contrata
-
ções externas e em avaliações de talentos,
ações de promoções, programas de alto
potencial, planejamento de sucessão e
reingresso na carreira.
Possibilita também que as organizações fa
-
çam os investimentos certos nas pessoas
certas, especialmente aquelas que podem
ter tido oportunidades negadas por serem
consideradas de alguma forma diferentes.
Infelizmente, o potencial é um dos indica
-
dores de talento mais mal compreendidos
e mal utilizados em organizações de todos
os tipos, incluindo muitas que estão forte
-
mente comprometidas com a diversidade.
Muitas organizações não avaliam isso de
forma alguma, simplesmente deixando
para o julgamento dos líderes individuais,
o que praticamente garante uma organiza
-

Abordagens falhas para identificar o po
-
    
deixando-o para a intuição, dando peso

-
tencial com o desempenho atual. Todas
essas abordagens não apenas resultam
em talentos gerais mais fracos em toda a
organização, mas também prejudicam os
talentos diversos. No caso da intuição, os

misteriosa, mas real, de identificar poten
-
cial: “Eu sei quando vejo”. Mas muitas vezes
o que eles estão realmente vendo são eles
mesmos – alguém que se parece com eles,
compartilha uma formação e interesses se
-
melhantes ou exibe as qualidades que con-
Confiar somente na intuição na
seleção pode dar rédea solta a
preconceitos inconscientes, que nos
impedem de interpretar o valor das
pessoas que diferem de nós.
Carlos Parente
ARTIGO
28
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
29
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Garantir que os programas e objetivos de
diversidade cumpram o que prometem re
-
quer um modelo rigoroso de potencial, que

-

O modelo desenvolvido pela equipe de pes
-
quisa da Egon Zehnder mede o potencial do
executivo ou da executiva, avaliando carac
-
terísticas de liderança que predizem o de-
senvolvimento da habilidade. Juntos, esses
traços podem ajudar a determinar a capaci
-
Um novo
modelo de
potencial
ARTIGO
sideram seus maiores pontos fortes. Quan-
tas vezes todos nós – nos negócios e em
outras áreas da vida – colocamos alguém
sob nossa proteção porque essa pessoa
nos lembra de nós mesmos mais jovens?
Confiar somente na intuição pode ainda
dar rédea solta a preconceitos arraigados
e muitas vezes inconscientes, que nos im
-
pedem de interpretar com precisão com-
portamento, caráter, motivos e valor das
pessoas que diferem de nós.
Na segunda abordagem falha, ao super-
     
o potencial, corre-se o risco de penalizar
pessoas que seguiram um plano de carreira
não convencional, pausaram a carreira por
questões familiares ou tiveram oportuni
-
dades negadas para assumir tarefas desa-
fiadoras que “sustentam um currículo”.
Por fim, na terceira abordagem falha, o po
-
tencial é equiparado ao desempenho atual.
Mas julgar o potencial confiando muito em
como alguém está se saindo em um deter
-
minado momento confunde a capacidade
da função atual com a capacidade de uma
função nova, mais complexa e possivel
-
mente bem diferente no futuro.
Tal como acontece com as abordagens de
potencial baseadas na intuição ou na expe-

ser excessivamente severos para diversos
colaboradores. Um desempenho menos
que espetacular em um papel atual pode
ser visto por outros como uma confirmação
de seus preconceitos inconscientes.
Com isso, o executivo ou executiva é prete
-
rido para promoção, movido lateralmente
e talvez tacitamente retirado do programa
de alto potencial da empresa. Sentindo a
perda de confiança da organização, pode
ficar insatisfeito (a) e sair ou, pior, perma
-
nece na empresa com uma carreira desne-
cessariamente estagnada. Além do custo
pessoal, esses descarrilhamentos de alto
perfil podem atrasar os esforços de diver
-
sidade.
30
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Alcançar maior taxa de retorno
sobre investimentos em talentos a longo
prazo;
Nivelar o campo de jogo de uma
vez por todas na contratação externa e
em avaliações de talentos, ações de pro
-
moções, programas de alto potencial,
planejamento de sucessão e reingresso
na carreira;
Identificar colaboradores com
alto potencial no início de suas carreiras,
investindo e acelerando seu desenvolvi
-
mento;
Gerenciar ativamente as carreiras
para potencializar pontos fortes e para
mitigar pontos fracos;
Usar o potencial como um contra
-
peso explícito aos vieses inconscientes;
Aumentar a confiança de colabo
-
radores pertencentes a grupos sociais
historicamente marginalizados de alto
potencial, porque eles sabem que a ava
-
liação é objetiva, não determinada pelo
princípio da “diversidade pela diversida
-
de” ou nos caprichos e preconceitos de
superiores;
Determinar o grau certo de exten-
são para a próxima função de um profis-
sional a fim de evitar descarrilhamento
por sobrecarga, falhas ou “subcarga” e
frustração;
Contudo, para se obter o máximo de eficácia, toda essa construção deve ser embasada
no princípio que é o fundamento da justiça e o meio mais produtivo:
ARTIGO
Se uma organização consegue avaliar com precisão o
potencial e entender do que um indivíduo é realmente
capaz de realizar a longo prazo, ela pode:
AVALIAR AS PESSOAS PELO QUE ELAS
REALMENTE SÃO!
dade de assumir funções de liderança que
são maiores em tamanho e complexidade
e a velocidade com que alguém pode fazer
isso. O modelo também analisa: curiosida
-
de, capacidade de geração de insights, en-
gajamento e determinação.
Ao avaliar o potencial nesses termos, as or
-
ganizações podem olhar além dos precon-

e desempenho, analisando a “pessoa real”,
bem como romper barreiras à diversidade.
Uma pergunta é muito recorrente quando
falamos sobre o tema: o que preciso fazer
para ser uma pessoa aliada? Uma resposta
possível está na atualização do termo. Nos
anos 1980 e 1990, a sigla do movimento era
GLS – Gays, Lésbicas e Simpatizantes. Muito
mudou desde então e diversos termos foram
revistos. A sigla cresceu para abarcar novas
identidades, orientações e comunidades. O
conceito de simpatizante, pessoa que de al
-
guma forma tinha compaixão ou alinhamen-
to com a comunidade GLS, foi atualizado para
pessoas aliadas.

-
víduo, povo, partido político etc. que se liga
a outro, por aliança, tratado, convenção ou
pacto, para defender a mesma causa”. No

clara com relação à comunidade LGBTQIAP+
    
Travestis, Queer, Intersexo, Aliados, Panse-
xuais e +). Se há 40 anos era esperado que
pessoas de fora da comunidade pudessem de
alguma forma nos “aceitar”, hoje a expectati
-
va é que elas possam apoiar nossas causas de
forma ativa. Não se trata de apenas sinalizar
apoio, mas de fazer algo a respeito. É neces
-
sário que pessoas de fora desses grupos aju-

os problemas estruturais sejam erradicados
com colaboração de toda a sociedade.
Podemos e devemos apoiar. Listo aqui algu
-
mas formas complementares.
Reconhecer nossos privilégios e vieses. A
maioria de nós tem alguma característica que
automaticamente nos dá alguma vantagem.
Em uma sociedade normativa, pessoas bran
-
    

por conta desses privilégios, estamos todos e
todas sujeitos a praticar atos de preconceito
e insensibilidade. Mesmo que não sejam in-
   -
pará-los, com humildade e respeito.
O papel dos aliados na
conquista da equidade
ARTIGO
31
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Bruno Cetira
Líder de Diversidade &
Inclusão na Weber Shandwick
Se há 40 anos bastava aceitar,
hoje a expectativa é de que as
pessoas de fora da comunidade
possam fazer algo a respeito.
Bruno Cetira
32
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Lembrar do local de fala. Pessoas que não
são LGBTQIAP+ não vivem a LGBTQIAP+fo-
bia no dia a dia. Portanto, há espaços e pa-
péis – seja em reuniões, debates, atuações
sociopolíticas e até espaços físicos – que são
prioritários para pessoas da comunidade. É
importante saber quando, onde e como falar,
lembrando que o papel das pessoas aliadas
é ajudar a comunidade sem necessariamente
ganhar algo com isso diretamente (dinheiro,
-
nhecimento). Ainda mais importante do que
falar é exercer a escuta ativa.
A responsabilidade de aprender e enten
-
der mais sobre as causas é de cada um. Não
podemos esperar que pessoas da comunida-
de expliquem tudo o que precisamos saber;

autorais – pesquisas, artigos, matérias, docu-
      -
veis.
Mais do que nunca, precisamos atuar. Esse é
talvez o ponto mais importante, por ser o de
maior efeito. Apoiar as causas da comunida
-
de LGBTQIAP+ silenciosamente é válido, mas
-
mas e batalhas enfrentados pela comunida-
de – desde acesso a lugares públicos até di-
reitos civis – precisam de ações.
Para agir, um ponto de partida é conhecer
as diferentes realidades da comunidade. Es
-
tudar a história dos movimentos sociais nos
permite compreender por que estamos onde
estamos e como podemos criar um futuro
com mais equidade. A partir do conhecimen-
to, é possível colocar a “mão na massa”, par-
ticipar de debates, conversas e eventos da
comunidade, ajudar não só na troca de co-
nhecimento como também dar força política
a esses movimentos. Há ainda o suporte a or
-
ganizações e entidades, que recebem apoio
     
criar novas oportunidades e reparar inequi-
dades na prática, como os centros de acolhi-
da Casa Florescer¹ e Casa 1² , que oferecem
também cursos.
As organizações são atores fundamentais da
transformação. Na Weber Shandwick temos
diversidade, equidade e inclusão como valo
-
res da marca e balizadores de nossa cultura
       
mais em nossas contratações, ações de en-
gajamento interno e no trabalho que procu-
ramos multiplicar no ambiente externo, por
meio da aplicação prática do nosso dia a dia
nos projetos, desconstruindo preconceitos
em nós mesmos e em pessoas ao nosso re-
dor. O valor é global, mas o trabalho no Brasil
possui grande destaques, visto que somos
um dos países que lideram em crimes LGBT-
QIAP+fóbicos, especialmente contra pessoas
trans.
Somos conhecidos como um povo acolhedor,
mas isso ainda não é a realidade da popula
-
ção LGBTQIAP+.
Que tal transformarmos essa fama
em algo concreto?
As organizações são
atores fundamentais dessa
transformação”.
Bruno Cetira
ARTIGO
¹ A Casa Florescer é um centro de acolhida para mulheres trans e travestis. Para ajudar entre em contato pelo e-mail:
cadiversidade@gmail.com ou pelo telefone (11) 3456-7890
² A Casa 1 é um centro de acolhida, clínica social e centro cultural para jovens LGBTQIA+. As doações podem ser entre-
gues no Galpão Casa 1, na rua Adoniran Barbosa, 151, Bela Vista.
Mais informações pelo site www.casaum.org/como-ajudar/doacao.
Entrevista com Beatriz Gagliardo sobre bastidores
da organização do livro “Relações governamentais
sob a ótica feminina”
      -
culino e sua supostamente “natural” fami-
liaridade com as relações de poder, é difícil
para o homem branco, hétero, engravatado
   
de contas, tanto alarde?”. Pois a paixão pela
atividade de Relações Governamentais, a
coragem de desbravar um território em
grande parte hostil – e, mesmo, ameaçador
– a elas e a necessidade inescapável de fazer
avançar a humanização das relações entre o
público e o privado na construção da demo
-
cracia brasileira são alguns dos elementos
que explicam as transformações pelas quais
a área de RelGov passou na última década,

nossa atividade.
33
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Por Erik Camarano, aliado e diretor LATAM de Relações Governamentais da BioMarin
ENTREVISTA
Qual a motivação para um livro sobre Relações Governamentais
sob a ótica feminina? Haveria assim tanta diferença entre esta e
alguma “outra ótica”? Anal, não um número signicativo de
prossionais mulheres na atividade de lobby? Então, o que falta?
34
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
ENTREVISTA
-
frentaram – muitas vezes com inevitável
frio no estômago - os comentários e as pia
-
das machistas habituais e um sem-número
de reuniões de trabalho nas quais cada uma
delas era a única representante do “sexo
frágil” no meio de engravatados, vimos, nas
duas últimas décadas, uma transformação
 
-
são das interações do público feminino no
dia a dia dos temas que transitam entre a
esfera pública e privada no país.
      
um relato riquíssimo em detalhes, inician
-
do com a história das mulheres em RelGov
desde a Constituinte, narrada por ninguém
 

A primeira parte fala ainda de como come
-
-
ciliar maternidade e trabalho. Na segunda
parte, é abordada a situação atual das mu
-
lheres na área, desde a representação fe-
minina na política, até a academia, passan-
      

    
-
sociativismo, coletivos de mulheres, “eles
por elas” e duas estórias inspiradoras de

-
blicação encerra com uma provocação e um
call to action” em quatro pilares.
-
saram – e ainda passam – as mulheres que
se aventuram a empreitar as Relações Go
-
vernamentais e brigar o bom combate jun-
to aos gabinetes do poder país afora.
Mais do que um texto inovador, o li-
vro é um convite. E a conversa com a
Beatriz, um perfeito preâmbulo. Boa
leitura!
Por que fazer um livro sobre a perspecti-
va feminina em RelGov?
      
-
tude criativa que me tomou em plena ma-


-
cia, quando tive o insight de que estamos
num momento único: as duas principais or
-
ganizações do setor sendo presididas por
mulheres, algo completamente diferente
de quando eu comecei a acompanhar o
Congresso Nacional, há 15 anos, quando
muitas vezes era a única mulher numa reu
-
nião de comissão. 'Hoje, temos os coletivos
de mulheres, superorganizados e que ga
-
nharam ainda mais impulso agora na pan-
demia da Covid-19. Me dei conta de que, se
eu tivesse a oportunidade de interagir com
estes grupos lá no início da minha carreira,
será que as coisas não teriam sido diferen
-
tes? Minha jornada não teria sido mais fá-
cil? Surgiu daí a necessidade de compartir
estas histórias em prol das novas (e novos)
entrantes na área.
Me dei conta de que se eu
tivesse interagido com coletivos
de mulheres no início da minha
carreira, teria sido mais fácil.
Surgiu daí a necessidade de
compartir histórias.
Beatriz Gagliardo
35
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Como foi o processo de concepção e qual a
sua estrutura?
Sempre quis escrever um livro e, na verda-

anos; sempre me vi como uma contadora de
estórias. Então foi uma honra compartilhar
e dar vazão às narrativas de cada uma das

-
sional de RelGov, a Júlia Viana, e tudo isso
foi muito emocionante.
-
Gov, iniciando com o olhar de uma mulher
que estava acompanhando esta discussão
na Constituinte; (2) a situação atual da nos
-

      
municípios), as mulheres na política e na
academia; e (3) o olhar para o futuro, com
os coletivos femininos, o associativismo, o
“eles por elas” e os exemplos de duas mu
-
lheres que nos inspiram e nos mostram que:
“Sim! é possível”.
E, para encerrar, faço uma provocação sobre
quais poderiam ser as nossas ações indivi
-
duais para essa mudança de cultura na área,
dentro de quatro pilares de ação. É um con
-
vite para o que leitor participe! Teremos, in-
clusive, um site que vai colher contribuições,
para mantermos um diálogo permanente.
Não é um volume para criar poeira na prate
-
leira da estante. É o início de uma conversa,
que deve transcender os círculos de mulhe
-

Quais são os temas estruturais, comuns a
outras áreas, e quais você destacaria como
especícos da área de RelGov?
Talvez a gente possa pensar em uma curva

-
de, mas tomam proporção maior na área de
Relações Governamentais, porque estamos
falando de um ambiente de relações de po
-
der. Assim, os desequilíbrios existentes em
outras áreas são maximizados.
Por exemplo, no dia a dia corporativo, as
mulheres vivenciam diversas situações,
como o manterrupting (quando o homem in
-
terrompe a mulher), o bropriating (quando
o homem se apropria das mesmas ideias ex
-
pressadas anteriormente por uma mulher),
o mansplaining (quando o homem usa seu
tempo para explicar algo que é óbvio para a
mulher), além do julgamento único e exclu
-

formação.

as mulheres se provem e demonstrem sua
capacidade o tempo todo. Na área de Rel
-
Gov, há um desequilíbrio cultural decorren-
te das relações com o poder, o que acentua
esses fenômenos.
A questão-chave é cultural e ainda há mui-
tas disparidades. A solução é conversar e
conscientizar. É por isso que o livro é impor
-
tante. Nele, coletamos várias estórias – que
ENTREVISTA
Não é um volume para criar
poeira na prateleira da estante.
É o início de uma conversa, que
deve transcender os círculos de
mulheres, atingir e beneciar
todos.
Beatriz Gagliardo
36
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
estão apresentadas com o devido cuidado e
delicadeza – de mulheres que, muitas vezes,
não foram percebidas como tendo um lugar
à mesa de discussões; elas já foram vistas
como “a moça do cafezinho”, ou a esposa de
alguém.
Veja o episódio da deputada na AL-SP, que
foi “apalpada” por colega parlamentar em
plena sessão legislativa, na frente de todos,
com tudo gravado pelas câmeras da institui
-
ção. O que aconteceria a portas fechadas e
longe dos olhos do público
Ou seja, nem botando uma câmera o com
-
portamento de alguns homens muda…
         
tipo: “Nossa, mas eu nem percebi!”. No li-
vro “Os homens explicam tudo para mim”
(de Rebecca Solnit, ed. Cultrix), a autora
compartilha várias estórias nas quais a mu
-
lher discorre sobre um assunto, e o homem
“explica” de volta para ela, como se ela não
soubesse do que está falando! Essa é uma
lógica cultural perpetuada por muitos anos.
Alguns homens ainda acham que é “ok” fa
-
zer uma piada machista. Eu relato no livro

de alto escalão do governo, com vinte ho
-
mens à mesa e eu a única mulher, e um deles
fazer uma piada machista. O que eu faço?
Como eu me posiciono? Na ocasião, me sen
-
ti de mãos atadas e me posicionei fazendo
cara feia. O interlocutor percebeu, mas foi
outro participante, um aliado, que percebeu
a situação e desviou o assunto. Mas o que
podemos fazer?
Se a gente não conscientizar [os diferentes
grupos] de que, mesmo nas nossas piadas
de WhatsApp, esse tipo de comportamento
não é mais aceitável, de que está errado, as
coisas não começarão a mudar. Por isso digo
que os problemas que enfrentamos são es
-
truturais, mas, em nossa atividade, por cau-
sa das relações de poder, isso é bem mais
evidente. Por isso, precisamos nos conscien
-
tizar e trabalhar com os aliados para uma
mudança de cultura que leva tempo. Infeliz
-
mente, a mudança é a longo prazo.
O livro Relações Governamentais sob a
ótica feminina será a primeira publicação
do selo Diálogos IRELGOV.


assediado durante sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), em dezembro de 2020. A ação do deputado
foi denunciada por meio de um vídeo.
Nossos problemas são
estruturais. Por isso, precisamos
trabalhar para uma mudança
de cultura que, infelizmente, leva
tempo.
Beatriz Gagliardo
ENTREVISTA
Um lobista pela inclusão de
refugiados no mercado de
trabalho brasileiro
ARTIGO
37
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Por Helga Franco, conselheira para o Eixo Diversidade e Inclusão e diretora de Relações Governamentais
da Nestlé Brasil.
A última década experimentou
importantes mudanças na dinâ-
mica de mobilidade humana no
mundo todo. No Brasil essa in
-

   -
mente de Cuba, Venezuela, Haiti,
China, Angola, Bangladesh e Ni-
géria.
Algumas dessas pessoas chegam
ao país como refugiadas, buscan
-
do proteção contra perseguições
por questões de raça, etnia, re-
ligião, opinião política, naciona-
lidade, pertencimento a grupos
minoritários e outros tipos de vio-
lações aos direitos humanos.
      
-
cional para os Refugiados (Co-
   
refugiadas reconhecidas pelo Brasil¹. A faixa
etária média está entre 25 e 39 anos, ou seja,
pessoas em plena idade laboral.
E foi ao lado dos refugiados e refugiadas
que João Marques encontrou seu propósito
      
Relações Governamentais. São 36 anos de
João Marques
Bacharel em Direito e

Governamentais
38
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
ARTIGO
dedicação ao desenvolvimento da política hu-
manitária brasileira. Tive a oportunidade de
conversar (aprender e me emocionar) com o
João. Alguns trechos da minha entrevista com

Como se iniciou essa jornada?
Comecei com uma ação voluntária com os apá-
tridas² em São Paulo. Me sensibilizei com as
-

para naturalizar refugiados porque entendo
que dignidade não tem preço. E há 11 anos,

no centro de São Paulo, me incomodei com a
falta de programas para a empregabilidade.
Daí nasceu o PARR³.
Como funciona o PARR?
O Programa de Apoio Para a Recolocação do
Refugiados (PARR) é uma iniciativa da EMDOC
(consultoria especializada em imigração e re-
-
cia da ONU para Refugiados – ACNUR. No

-
cias registradas em um banco de dados. Além
-
minhados para processos seletivos em empre-
sas parceiras e participar de projetos de capa-
citação para o mercado de trabalho. Passam,
também, por um treinamento multidiscipli-
nar com médicos, advogados e psicólogos. E

falarmos sobre a cultura do trabalho no Bra-
sil. Tratamos muito sobre o papel da mulher,
o que para alguns povos ainda pode ser de-
-
parado para receber ordens de uma mulher?


Quais são os principais tipos de vulnera-
bilidades das pessoas refugiadas?
Duas em especial: uma relacionada aos jo-
vens desacompanhados que saíram de zonas

-
lhar. O grau de vulnerabilidade e de desespero
é tamanho que passei a ter que conviver com
situações drásticas, como o suicídio. Empo-
derar essas mulheres para que elas ganhem
autoestima e consigam romper com culturas
machistas é um dos objetivos dos programas
de capacitação e empregabilidade.
39
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Então existe um programa especíco
para mulheres refugiadas?
O Empoderando Refugiadas, uma ação idea-
lizada pelo ACNUR, pela Rede Brasil do Pacto
Global e pela ONU Mulheres, que tem esse
objetivo de capacitar mulheres em situação
de refúgio e promover o acesso a oportunida-
des. A PARR atua como parceiro, com mais de
300 participantes impactadas diretamente ao
longo dos anos.
Quais são os principais vieses estigma-
tizantes em relação aos refugiados no
Brasil?
Há uma percepção de que imigrantes que se
inserem no mercado de trabalho formal estão,
de algum modo, substituindo a força de tra-

-


do conforto da sua casa para estar em um país
com uma cultura completamente diferente

em um abrigo em condições ruins? Também
me incomoda profundamente a questão da
revalidação de diplomas. O argumento é que
hoje existe um aplicativo, mas quem vai vol-
tar para uma zona de guerra para buscar um
histórico escolar? O senhor é engenheiro? Por
que não reunir uma banca julgadora para ava-
liar o conhecimento dessas pessoas? Pesso-
as com pós-doutorado nos países de origem,

com a nova lei de imigração, ainda faltam polí-
ticas públicas que integrem verdadeiramente
os refugiados com compreensão do valor que
eles trazem em termos de cultura e ideias.
Depois de 35 anos mais perdas ou mais
ganhos?
Muito mais ganhos. Só pelo PARR foram mui-
-
mente, aproximadamente 5 mil vidas impac-
tadas. E, para mim, uma vida vale o mundo”.
E foi assim que, ao longo de 32 anos, João ga
-
nhou 5 mil mundos.
ARTIGO


como discriminação contra minorias na legislação nacional, falha em reconhecer todos os residentes do país como cidadãos

-
dos – ACNUR)
Se você também quer ganhar mundos, acesse a plataforma
“Empresas com Refugiados”
www.empresascomrefugiados.com.br ou www.refugiadosnobrasil.org
O futuro é da liderança inclusiva
ARTIGO
Vivemos em um mundo onde as transforma-
ções são cada vez mais rápidas e intensas.
Além de constantes mudanças e movimentos,
típicos da modernidade líquida¹, estamos em
plena revolução. Segundo o Banco Mundial,
os países da América Latina e do Caribe es-
tão em meio a uma “Quarta Revolução Indus-
trial”, que está transformando os paradigmas
de inovação tecnológica, de capital humano,
proteção social e legislação trabalhista.
A pandemia da Covid-19 tornou algumas des
-
sas transformações ainda mais urgentes, de
acordo com relatório publicado pelo Banco
Mundial em setembro de 2020². Para com-
preensão e adaptação a esses tempos, por
-
pensar o futuro e não apenas tentar voltar às
coisas como “elas eram”.
Uma das mudanças que devem ser trabalha
-

-
do está mudando – sempre – e quem conduz
essas mudanças, em qualquer medida, não
deve caminhar sozinho e nem somente com
seus semelhantes. Cada vez mais, líderes são

-
cioemocionais e também compor e conduzir
times mais diversos, plurais e representati-
vos, sob o risco de não chegarem tão longe
ou tão rápido quanto o contexto exige.
     
-
      -
formação e por sistemas interconectados e
complexos. Isso quer dizer que os negócios
precisam lidar com uma pluralidade de variá-
veis enorme e crescente. E como gerir grande
variedade de ecossistemas, informações, da-
dos e tecnologia sem ter a própria diversida-
de à frente dos negócios?
Processos de tomada de decisão, nesta con
-
     
portanto, contemplar o maior número possí-
vel de pontos de vista. Diferentes perspecti-
vas na leitura e na compreensão de cenários
entregam decisões que representam de for-
ma mais verossímil o mundo real, com todas
suas cores, nuances e complexidades.
É por isso que o conjunto de mudanças que
a Indústria 4.0 carrega está demandando – e
40
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
Cibele Perillo, gerente de Relações Governamentais da Nestlé Brasil e Erik Camarano, aliado e diretor
LATAM de Relações Governamentais da BioMarin
41
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
ARTIGO
exigirá cada vez mais – nova atitude dos líde-
res do mundo corporativo. O paradoxo desses
novos tempos é que, simultaneamente à in-
corporação de tecnologia de ponta e máqui-
nas ao mercado de trabalho, habilidades pura-
mente humanas, como empatia e criatividade,
são cada vez mais essenciais. Da mesma forma
que é preciso levar em consideração diferen-
tes perspectivas nas decisões, proporcionadas
pela diversidade, é cada vez mais importante
que quem lidera os processos de transforma
-

sociais, ambientais, econômicos e políticos de
suas ações.
De acordo com Fátima Motta, doutora em

é que agora as pessoas estão no centro, sejam
clientes, consumidores ou o próprio colabo-
rador. A liderança inclusiva sabe que precisa
de pessoas diferentes e constrói seus times
levando em consideração essa premissa. Para
a professora, “a Quarta Revolução Industrial
traz em si um novo olhar de liderança, mais hu
-
manizada, inclusiva e que entenda as diferen-
ças individuais para gerar ambientes onde cada
um contribua com o que acha mais importan-
te. Para isso, não basta tratar todos de forma
igual, mas reconhecer as diferenças”.
Mas nem sempre foi assim. No modelo de
liderança 3.0, líderes buscavam outros pro
-
     
acreditava-se que seria mais fácil comandar
quem pensasse igual. “Não era raro que líderes
e liderados tivessem pers similares em termos
de raça, orientação sexual, formação escolar e
origem social. Para além disso, a diversidade
era interpretada como incompetência”, res-
salta Fátima. Os diferentes eram mantidos à
distância, inclusive as mulheres. Pelo estereó-
tipo de serem mais emotivas e menos aptas às

consideradas menos capazes do que homens.
Embora estejamos caminhando a passos lar
-
gos para transformações profundas na forma
como os negócios são conduzidos, esse mode-
lo mental, socialmente construído e reprodu-
zido, que supervaloriza os similares e os “es-
pelhos” e que afasta e rejeita os diferentes,
42
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
ARTIGO

¹ BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
² Rekha. 2020. Going Viral : COVID-19 and the Accelerated Transformation of Jobs in Latin America and the Caribbean.
World Bank Latin American and Caribbean Studies. Washington, DC: World
³ “Beylis, Guillermo; Fattal-Jaef, Roberto; Sinha, Rishabh; Morris, Michael; Sebastian, Ashwini Delivering Through Diver-
sity, McKinsey & Company, 2018.
ainda resiste, mesmo que em uma camada
inconsciente – e por isso é chamado de viés
inconsciente.
     
Motta destaca que líderes verdadeiramente
inclusivos se interessam pelo outro e reconhe
-
cem suas reais necessidades. Essa habilidade
de valorizar diferenças individuais, desde a
contratação, só é possível quando a liderança
      -
mente formação.
Quando perguntada se a transformação de
um modelo de liderança 3.0 para liderança
4.0 poderia acontecer de forma espontânea,
a professora Fátima é enfática: “O processo de
mudança para uma organização mais inclusiva
não é natural. É preciso treinamento para acei
-
tar o diferente. Anal, são muitos anos, séculos,
de um modelo que rejeita o que é distinto”.
Portanto, somente com esforço e com com
-
prometimento da mais alta liderança é que as
organizações poderão transformar a cultura
corporativa. Líderes que acolhem as diferen-
ças, dentro de culturas inclusivas, entendem
que qualquer preconceito é contraproducen-
te.
Mais do que ser ético e justo do ponto de vis
-
ta de representatividade da sociedade dentro
do ambiente corporativo, a diversidade é tam-
bém mais lucrativa do que espaços de traba-

consultoria McKinsey & Company³, empresas
      
mais chances de superar outras em relação à
criação de valor a longo prazo. Da mesma for
-
ma, as empresas com maior diversidade étni-

propensão à rentabilidade.
No entanto, não estamos livres de retrocesso
– a trajetória de humanização das relações no
ambiente de trabalho pode ser colocada em
risco. Polarização e divisão da sociedade, ou
mesmo as recém-observadas posturas coer
-
citivas em relação aos grupos historicamente
marginalizados, podem ameaçar os avanços
recentes.
     
de políticas públicas em prol da inclusão e da
diversidade, focadas em valorizar e estimular
as melhores práticas e permitir um avanço cul
-
tural no sentido do reconhecimento de quem
faz mais e melhor. É o caminho para a criação
de uma sociedade verdadeiramente inclusiva,
na qual geração de valor e real impacto se dão
na direção do benefício do maior número de
seus cidadãos.
44
DIÁLOGOS IRELGOV | 2021 - Edição 02 - Julho
O IRELGOV dá as boas vindas aos seus novos associados
ASSOCIAD@ EMPRESA ADMISSÃO CIDADE UF
    
    
    
   
    
   SÃO JOÃO DA BARRA RJ
    
    
   
    
    
    
ANTONIO TOTARO NETO HONDA, TEIXEIRA, ARAUJO, ROCHA ADVOGADOS   
CAIO LEONARDO BESSA RODRIGUES HONDA, TEIXEIRA, ARAUJO, ROCHA ADVOGADOS   
    
    
    
    
    
FABIANA ARANTES CAMPOS GADELHA ADVOGADA E GESTORA DE POLÍTICAS PÚBLICAS   DF
    DF
EMPRESA CIDADE ADMISSÃO
Representante(S)
Anglogold Ashanti Córrego do Sítio Mineração S.A. Nova Lima 17/03/21
Othon de Villefort Maia
Paula Hermont Diniz Tibo
Silvia de Freitas Xavier
Tree Intelligence Solucoes Tecnologicas em Software LTDA São Paulo 19/03/21
Ignacio García Zoppi
Isabella Lourenço Lins
The Jerey Group Brasil Ltda São Paulo 13/04/21
Alexandre de Souza Mota
Fábio Lobato Matias dos Santos
Leonardo Martins de Araújo
Victor Lopes Mendes Roland
Pacto Assessoria Politica E Consultoria Estrategica Eireli Brasília 22/04/21
Heithor Zanini
Walter Bittar
Weber Shandwick Brasil Comunicação LTDA Rio de Janeiro 22/04/21
José Luiz Schiavoni
Luciana Barbetta Cruz
NOVOS ASSOCIADOS IRELGOV